Parte das empresas brasileiras não tem proteção contra variação do dólar

Longo período de baixos juros internacionais aumentou captação de recursos no exterior

nota de dólar
Empresas que não têm seguro, receita ou ativos em moeda estrangeira ficam expostas à variação cambial - Gabriel Cabral - 6.dez.17/Folhapress
Patrícia Campos Mello
São Paulo

O aumento do endividamento em moeda estrangeira das empresas brasileiras é um potencial risco para o país, segundo Tony Volpon, economista-chefe do UBS.

De acordo com Carlos Rocca, coordenador do Cemec (Centro de Estudos de Mercado de Capitais) da Fipe, as empresas brasileiras se aproveitaram do longo período de juros internacionais baixos para fazer captações externas.

“Mas isso não necessariamente deveria causar preocupação, porque muitas empresas têm o chamado hedge natural [seguro], receita ou ativos em moeda estrangeira, enquanto outras se protegem do risco cambial. Apenas uma minoria está exposta”, diz.

Segundo dados do BC relativos a 2016, os mais recentes disponíveis, a dívida externa das empresas não financeiras correspondia a 17,1% do PIB em dezembro daquele ano. 

No entanto, apenas 17% dessa dívida era de empresas não exportadoras, sem nenhum tipo de proteção cambial.

“A gestão de risco cambial se disseminou desde 2008, a última vez em que empresas tomaram um tombo por causa de uma grande desvalorização”, diz Rocca.

Dados do BC de abril deste ano mostram que, dos US$ 548 bilhões da dívida externa bruta, US$ 76,2 bilhões são débitos do governo, mais do que “cobertos” pelas reservas de US$ 382 bilhões.

A dívida dos bancos é de US$ 133,1 bilhões, mas em geral tem proteção cambial. Outros US$ 232,3 bilhões são dívidas intercompanhia, em que a matriz da multinacional empresta para a filial. Sobram quase US$ 106,4 bilhões, e boa parte tem proteção.

Os países emergentes tiveram saída líquida de capital estrangeiro de US$ 12,3 bilhões em maio, a maior fuga de investimentos desde novembro de 2016, segundo relatório do Instituto de Finanças Internacionais.

De acordo com o FMI, se a normalização da política monetária americana continuar como o previsto e os juros chegarem a 3,6% em 2020, os fluxos para emergentes cairão US$ 40 bilhões por ano em 2018 e 2019.

 No entanto, se continuar crescendo a aversão a risco, a redução de fluxos pode chegar a US$ 60 bilhões.
Nesse cenário, os investidores estrangeiros ficarão ainda mais exigentes. 

“Por causa das nossas vulnerabilidades, quando o dólar lá fora subir 5%, aqui vai subir 10% ou 15%”, diz Kawall.

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