Mercosul melhora oferta para União Europeia, mas acordo segue sem desfecho

Reunião ministerial terminou com avanços na área industrial, porém travado na agrícola

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Brasília

Os países do Mercosul ampliaram suas ofertas nos setores automotivo, de serviços e de indicação de origem, em mais uma tentativa de chegar a um acordo de abertura comercial com a União Europeia. 

Mas após dois dias de reuniões ministeriais, as tratativas não chegaram a um desfecho. Nova reunião está prevista para setembro, em Montevidéu. 

O Mercosul enviou oito ministros a Bruxelas para demonstrar o interesse do bloco em chegar a um consenso com os europeus.

Os governos do Brasil e da Argentina têm interesse em fechar o acordo ainda nas gestões de Michel Temer e Mauricio Macri (que fica no cargo até dezembro de 2019). 

Mas os negociadores brasileiros ficaram frustrados com a ausência de uma contraproposta dos europeus no setor agrícola. 

O Mercosul tem interesse na abertura do mercado europeu principalmente para carne bovina, frango e açúcar. Já os europeus pretendem vender mais produtos industriais ao bloco sul-americano.

No primeiro dia de reunião, na quarta-feira (18), o negociador europeu para o setor agrícola, Phil Hogan, deixou o encontro sem novas ofertas.

Restou ao Mercosul, então, avançar na parte industrial e de serviços, a fim de manter as tratativas. Nesta quinta (19), os dois lados falaram em "avanços concretos", após a segunda rodada de conversas. 

Em nota, o chanceler argentino, Jorge Faurie, indicou que espera um acordo em setembro. "O esforço que fizemos ambos os blocos nos deixa frente à etapa final de discussões".

Entre brasileiros, o clima é menos otimista. Para o país, é hora de os europeus apresentarem propostas no setor agrícola, já que os sul-americanos cederam em áreas sensíveis.

No setor automotivo, um dos que estão no centro da negociação, os países do Mercosul ofereceram cotas para a importação de veículos com taxação mais baixa até a completa abertura do mercado, após 15 anos.

Pelo que está sendo negociado, entre 30 mil e 60 mil veículos europeus poderiam pagar 50% da tarifa de importação durante o período de transição até a abertura total. Carros híbridos e elétricos seriam isentos da tarifa de importação.
 

Bandeira da União Europeia - REUTERS/Thierry Roge

Outro avanço foi na indicação de origem. Os europeus querem restringir o uso de nomes, como queijo parmesão, a alguns produtos que tem origem em seus países. 

De uma lista inicial de 357 itens que poderiam ser afetados, o Mercosul aceitou ceder em 317. Nesta rodada, houve acordo sobre outros 20.

Para Diego Bonomo, gerente-executivo de assuntos internacionais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o resultado foi frustrante, com "um erro tático e outro estratégico". 

O erro tático da União Europeia foi não ter apresentado uma proposta final mais clara e detalhada. O estratégico foi ter perdido a oportunidade de mostrar ao mundo um exemplo de esforço positivo num momento tão delicado como o atual, em que Estados Unidos e China se enfrentam em uma guerra comercial e o papel da OMC tem sido questionado

Bonomo considera que, em todo o histórico de negociações, desta vez, o setor industrial brasileiro atingiu seu ponto de maior flexibilidade, tanto em relação ao número de produtos ofertados quanto à velocidade de redução das tarifas. 

Mas suas expectativas para a reunião de setembro ficaram diminuídas.

"Diante do que a UE apresentou até agora, não tem muito o que fazer. Se chegar setembro e ela apresentar uma proposta mais clara do que pode oferecer, principalmente na área agrícola, a gente avalia. Mas, claramente, a União Europeia ficou refém dos grupos agrícolas do bloco", diz Bonomo.

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