Odebrecht deixa de pagar credores e vai reestruturar US$ 3 bilhões em dívidas

Medida visa priorizar a aplicação dos recursos em caixa na atividade operacional, diz empresa

Raquel Landim
São Paulo

A Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) deixou de pagar nesta segunda-feira (26) os juros devidos aos detentores dos seus bônus e vai renegociar toda a sua dívida externa, que chega a US$ 3 bilhões (R$ 11,8 bilhões).

A construtora contratou um time de especialistas em reestruturação financeira –E. Munhoz Advogados, Moelis & Company e Cleary Gottlieb– para negociar com os credores. Já os principais donos dos títulos contam com a assessoria do banco Rothschild.

Segundo pessoas que acompanham o processo, a Odebrecht deseja que os credores concordem com uma redução significativa do tamanho da dívida e com um prazo para voltarem a receber os juros dos empréstimos.

Os títulos garantidos pela construtora baiana já vem sendo negociados no mercado secundário por apenas 15% do seu valor de face, o que significa que, em sua totalidade, não custam mais de US$ 450 milhões, montante muito inferior ao da dívida.

Ainda não foi batido o martelo, mas é provável que a companhia acabe recorrendo a uma recuperação extrajudicial, o que significa que não pedirá a Justiça para suspender todos os seus pagamentos e continuará honrando débitos com bancos, fornecedores e funcionários.

Por outro lado, a recuperação extrajudicial pode facilitar a negociação com os donos dos bônus, que estão espalhados pelo mundo e acabam sendo difíceis de localizar. O mecanismo permite fechar um acordo com credores que representem 60% da dívida e obrigar os demais a seguir os novos termos.

Em nota divulgada ao mercado, a Odebrecht informou que o objetivo da reestruturação é “priorizar a aplicação dos recursos em caixa na atividade operacional” da companhia. Também faz parte do esforço de adequar a estrutura de capital ao novo porte da empresa.

Depois que seus principais executivos foram apanhados pela Operação Lava-Jato pagando propina a políticos, a Odebrecht encolheu brutalmente. A receita da companhia, que já foi uma das maiores do país, saiu de US$ 14 bilhões em 2014 para estimados US$ 2,5 bilhões neste ano.

No auge, a construtora baiana gerava um caixa US$ 1 bilhão por ano, o suficiente para manter sua relação entre dívida bruta e ebitda (lucro antes de impostos, depreciações e amortizações) em duas vezes – um patamar considerado saudável.

Hoje não consegue ultrapassar US$ 300 milhões em geração de caixa anual, o que levou a relação entre dívida bruta e ebitda para 10 vezes, o que, conforme os analistas da área, é insustentável. No segundo trimestre, a Odebrecht estava com um caixa de US$ 458 milhões e apenas em juros de dívida a empresa paga US$ 180 milhões por ano.

Diante dos fracos resultados operacionais, os credores e o mercado em geral já vinham esperando por esse desfecho. Contudo, a família Odebrecht, encabeçada pelo empreiteiro Emilio Odebrecht, tentava postergar esse momento.

Em abril, a companhia chegou a atrasar o pagamento de uma dívida de R$ 500 milhões, que só foi quitado depois que o grupo obteve um novo empréstimo emergencial de R$ 2,6 bilhões com Itaú e Bradesco.

Na época, a expectativa era que uma parte significativa desse dinheiro fosse utilizado para capitalizar a construtora e não apenas pagar suas dívidas, o que acabou não ocorrendo. Os recursos terminaram sendo utilizados para quitar outros débitos das demais empresas do conglomerado.

A situação se torna ainda mais delicada, porque o grupo Odebrecht tem muita dificuldade para vender ativos, o que traria recursos para o caixa. A venda da sua participação na petroquímica, por exemplo, vinha caminhando bem, mas travou nos últimos meses.
 
Assessores financeiros relatam que a LyondellBasell parece ter o pé no freio diante da delicada situação da Odebrecht e também da alternância de poder no país. Os holandeses preferiram aguardar a posse do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

Fachada da sede da empresa em São Paulo
Fachada da sede da empresa em São Paulo - AP
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