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Startup de São Carlos usa tecnologia da Nasa para analisar solo

Robô substitui análises convencionais e conclui processo óptico em minutos

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São Carlos

Uma startup gestada em centros de pesquisa do interior paulista está prestes a colocar no mercado um sistema de análise rápida de solos que se vale da mesma tecnologia usada pela Nasa para avaliar os ambientes de Marte.

A promessa do robô Aglibs é substituir análises químicas convencionais, que demoram até 15 dias para serem concluídas, por um processo óptico que pode ser feito em questão de minutos. 

A Agrorobótica, empresa ligada à Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP), vai oferecer a tecnologia a cooperativas e associações agrícolas como ferramenta de agricultura de precisão.

Uma cientista, de jaleco, de pé próxima a um computador e uma máquina em um laboratório
O robô Aglibs deve substituir análises convencionais, que demoram até 15 dias para serem concluídas, por um processo que pode ser feito em questão de minutos - Ricardo Benichio/Folhapress

“Hoje, cada um dos procedimentos necessários para uma análise detalhada de solo envolve uma reação química diferente, realizada por laboratórios que, em geral, só estão presentes em capitais e grandes centros e precisam de três andares de espaço”, explica a física Aida Bebeachibuli, da Agrorobótica. 

“A gente consegue resolver o mesmo problema com um sistema que cabe numa mesa de 2 m de lado e pode ser instalado numa fazenda de um local distante com um mínimo de infraestrutura.”   

Para alcançar esse resultado, atualmente em fase de validação comercial, a máquina emprega a tecnologia conhecida como Libs (daí, em parte, o nome do aparelho). Trata-se da sigla inglesa de espectroscopia por decomposição induzida por laser.

Nesse processo, um pulso de laser lançado sobre a amostra de solo esquenta o material de tal forma que ele vira plasma, o chamado quarto estado da matéria, formado por uma nuvem de partículas eletricamente carregadas. 

A amostra, então, passa a emitir luz, a qual, analisada por um detector, permite saber com precisão quais elementos químicos estão presentes nela.

É a mesma tecnologia de análise de solos embarcada no jipe robótico Curiosity, que a Nasa tem usado para explorar o território marciano desde 2012. 

A física Débora Milori, da Embrapa, conta que se inspirou no Curiosity para projetar a sua versão do aparelho —a intenção original era que, tal como sua contraparte no planeta vermelho, o robô se locomovesse pelo terreno das fazendas.

Antes de chegar a esse objetivo, os pesquisadores avaliaram que já seria possível criar uma versão comercial do aparelho, que está sendo desenvolvida numa parceria entre a Agrorobótica e a USP de São Carlos, por meio da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial).

A ideia é que as coletas de solo sejam feitas no campo, usando um sistema de informações georreferenciadas, de modo que o produtor tenha uma noção clara da variabilidade de terreno na sua propriedade.

As amostras são analisadas pelo aparelho e, por fim, os dados são armazenados e conferidos computacionalmente pela empresa, que construirá mapas da disponibilidade de nutrientes no solo —matéria orgânica, cálcio, magnésio e potássio— bem como parâmetros como textura e acidez do terreno.

“É um desafio porque o solo brasileiro, por corresponder a uma área tropical, tem muita atividade biológica, o que influencia a heterogeneidade dos parâmetros que a gente mede. Numa mesma fazenda, você tem uma variação enorme de tipos de solo em diferentes lugares e profundidades”, diz Aida. 

“Então é preciso desenvolver modelos e bancos de dados para levar tudo isso em conta. Não é só o equipamento, é a solução tecnológica que faz a diferença.”

Além da expectativa de facilitar o acesso dos produtores a esse tipo de técnica, a máquina também poderia facilitar a certificação da propriedade por parâmetros de sustentabilidade, analisando a capacidade do solo de reter carbono e evitar sua emissão na forma de gases-estufa. 

O uso do Aglibs no lugar dos métodos químicos convencionais também diminuiria o desperdício de fertilizantes industriais e seus impactos sobre o ambiente, argumentam os idealizadores do aparelho.
Enquanto a versão “estática” do robô se encaminha para o uso comercial, pesquisadores da Embrapa e da USP continuam trabalhando na ideia de levar um laboratório sobre rodas diretamente para o campo, sonho original do projeto.

Segundo a Embrapa, novidades a esse respeito podem vir ainda neste ano.
 

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