Descrição de chapéu The New York Times

Montadoras rejeitam regras de poluição de Trump e fecham acordo com a Califórnia

Ford, Volkswagen, Honda e BMW se juntam ao estado para reduzir emissões de poluentes

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Coral Davenport Hiroko Tabuchi
Washington | The New York Times

Quatro das maiores montadoras de automóveis do planeta fecharam um acordo com o governo estadual da Califórnia para a redução das emissões de poluentes por automóveis. Elas se alinharam ao estado na disputa com o presidente Donald Trump sobre uma das mais importantes medidas de desregulamentação adotadas por ele.

Nas próximas semanas, o governo Trump deve praticamente abolir todas as regras adotadas na era Obama para reduzir as emissões de poluentes por veículos que contribuem para o aquecimento global. A Califórnia e outros 13 estados americanos prometeram continuar a aplicar as regras mais severas, o que pode dividir ao meio o mercado automobilístico dos Estados Unidos.

Trânsito congestionado em avenida de Los Angeles, na Califórnia - Eric Thayer/REUTERS

Com as empresas de automóveis diante da perspectiva de ter de construir duas linhas diferentes de veículos, elas iniciaram negociações sigilosas com as autoridades regulatórias da Califórnia por meio das quais as montadoras —Ford, Volkswagen, Honda e BMW— obtiveram regras ligeiramente menos restritivas que os padrões da era Obama e que podem ser aplicadas a veículos vendidos em todo o país.

O acordo oferece "certeza regulatória muito necessária", afirmaram as companhias em comunicado conjunto, e ao mesmo tempo permite que elas "mantenham os requisitos estaduais e federais com uma frota nacional única, evitando uma colcha de retalhos de regulamentações"

Nos termos do acordo, as quatro montadoras, que juntas respondem por cerca de 30% do mercado de automóveis dos Estados Unidos, enfrentaram um padrão ligeiramente mais frouxo que a regra original da era Obama. Em lugar de um consumo médio de 23,2 quilômetros por litro de combustível, em 2025, elas seriam forçadas a atingir média de 21,7 quilômetros por litro em 2026.

O governo Trump anunciou que planeja abandonar o padrão da era Obama e reduzir o consumo médio requerido a cerca de 15,7 quilômetros por litro.

Promover uso mais eficiente do combustível significa que os veículos queimam menos gasolina e consequentemente emitem menos gases causadores do efeito estufa na atmosfera.

Ainda que a Califórnia tenha obtido o apoio das quatro companhias em sua briga com o governo federal, o governo Trump mesmo assim deve revogar o direito do estado a determinar padrões próprios de emissão de poluentes. O estado prometeu combater essa medida até a Suprema Corte, se necessário, e as quatro montadoras, ao se alinharem com a Califórnia, na prática estão votando em que acreditam que o governo estadual vença a batalha.

Na quinta-feira, o governador californiano Gavin Newsom disse que estava "muito confiante" em que mais montadoras adeririam ao acordo nos próximos dias, e um executivo automobilístico informado sobre as negociações concordou em que isso parecia provável.

Na manhã da quinta-feira, um grupo mais amplo de montadoras realizou uma reunião a fim de considerar uma adesão ao pacto, disse o executivo, ainda que não houvesse assinaturas imediatas. Ford, Honda, BMW e Volkswagen decidiram manter seu grupo pequeno, inicialmente, porque incluir mais empresas tornaria mais difícil adotar uma posição comum, e traria a perspectiva de que informações sobre as conversações vazassem e o pacto fracassasse.

Um executivo de outra grande montadora de automóveis disse que sua companhia estava estudando aderir ao acordo porque este incluía concessões significativas por parte da Califórnia. O executivo, que falou sob a condição de que seu nome e o de sua empresa não fossem mencionados, disse que os padrões de economia de combustível da era Obama eram complicados para o setor porque os compradores de automóveis cada vez mais optam por utilitários esportivos e picapes, que tendem a consumir mais combustível que sedãs.

Margo Oge, que foi diretora da Agência de Proteção Ambiental (EPA) na área de emissões automotivas e agora serve como consultoria informal para diversas montadoras de automóveis, disse que "tenho ligado para essas empresas e aconselhado que cheguem a um acordo com a Califórnia. Creio que a GM e a Toyota também terão a coragem de assinar".

Funcionários do governo Trump dizem que o acordo com a Califórnia não vai deter seus planos de impor uma nova regra federal que autorize mais emissão de poluentes. O acordo "não tem impacto sobre a regulamentação das emissões de gases causadores de efeito estufa pela EPA nos termos da Lei do Ar Limpo", escreveu Michael Abboud, porta-voz da EPA, em email. "Essa estrutura de autorregulamentação é um golpe de relações públicas que nada faz para promover o padrão nacional único que oferecerá certeza e alívio aos consumidores dos Estados Unidos".

O novo acordo também dará às montadoras mais amplitude para atingir os objetivos de economia de economia de combustível por outros meios, como a obtenção de créditos pela adoção de tecnologia que economize combustível.

Algumas organizações ambientais criticaram o acordo pelo ritmo mais lento de adoção dos padrões e pelas lacunas expandidas que ele concede às montadoras. "Isso significa mais poluição, menos economia na compra de combustível e um mau precedente para padrões futuros", disse Daniel Becker, diretor da Campanha pela Segurança Climática no Centro de Segurança Automobilística, uma organização sem fins lucrativos sediada em Washington.

As montadoras de automóveis estão tentando resolver uma crise que, em parte, elas mesmas criaram. Pouco depois da eleição de Trump, os presidentes-executivos das "três grandes" montadoras americanas - Ford, General Motors e Fiat Chrysler —se reuniram com ele no Gabinete Oval e pediram um afrouxamento das regras de emissões da era Obama. Mas depois disso as montadoras se alarmaram com o escopo cada vez mais amplo do plano do governo.

Já o setor de refino de gasolina, que se beneficiaria com a venda continuada de combustíveis, fez lobby pela revogação das regras, com o apoio de organizações que negam a mudança no clima. Uma dessas organizações definiu as montadoras com o "a oposição" nos debates de política pública sobre os padrões de consumo de combustível, e pediu ao governo Trump que mantenha o rumo.

A disputa sobre as regras quanto a emissões é uma das muitas entre Trump e a Califórnia, um estado que ele parece gostar de antagonizar e que abriu mais de 50 processos contra seu governo.

A Califórnia vem buscando aliados onde os encontrar. Em junho, o Canadá, que historicamente acompanha as normas sobre poluição automobilística dos Estados Unidos, assinou um acordo de ar limpo com a Califórnia, no que foi visto em geral como o primeiro passo rumo à adoção das normas estaduais pelo país.

Descrevendo o acordo com as montadoras, Daniel Lashof, diretor da organização de pesquisa World Resources Institute nos Estados Unidos, disse que "isso demonstra que liderança estadual é indispensável. É daí que vem a liderança na disputa sobre o clima nos Estados Unidos, agora".

Para as montadoras, se alinhar com a Califórnia contra o governo Trump traz riscos. Um executivo automotivo informado sobre as negociações disse que, especialmente para as montadoras estrangeiras, fechar um acordo com a Califórnia trazia risco de retaliações, por exemplo na forma de tarifas. Mas a questão poderia ser dolorosa também para as montadoras nacionais, porque muitos de seus carros e componentes são feitos ou parcialmente montados do outro lado das fronteiras, no México e Canadá.

The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

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