Ambulantes de trens e metrôs reclamam da concorrência

Segundo IBGE, taxa de desemprego recuou no país, mas devido ao avanço do trabalho informal

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São Paulo

Com o aumento do trabalho informal, que bateu recorde segundo dados divulgados nesta sexta-feira (30) pelo IBGE, vendedores ambulantes nos metrôs e trens de São Paulo dizem que a concorrência cresceu nos vagões. 

“Faz uns dois anos que aumentou a quantidade de marreteiro [ambulante]. Não tem emprego, né?”, diz Juninho, 31, que vende carteiras, por R$ 5 cada, no metrô. Luiz Rodrigues, 31, que circula entre passageiros com uma caixa de chocolate, concorda. “Cresceu sim com a crise, tem muito pai de família, principalmente nos trens”, diz ele, que tem até uma máquina para passar cartão. “Muita gente não tem dinheiro e compra no débito”, afirma.

Luiz Rodrigues, 31, vende chocolate no metrô e tem até uma máquina para passar cartão
Luiz Rodrigues, 31, vende chocolate no metrô e tem até uma máquina para passar cartão - Marina Estarque/Folhapress

Segundo o IBGE, no trimestre encerrado em julho, a taxa de desemprego recuou no país, mas devido ao avanço do trabalho informal. O total de empregados do setor privado sem carteira atingiu 11,7 milhões de pessoas, o maior número da série histórica iniciada em 2012. Os trabalhadores por conta própria também bateram recorde, somando 24,2 milhões de pessoas, outro número associado à informalidade, já que muitos não possuem CNPJ.

Luiz vende chocolate no metrô há dois anos, enquanto procura um emprego formal. Ele conta que gosta de entregar o currículo pessoalmente em construções ou empresas. “Vou todo dia, mas sou egresso do sistema [prisional], não tenho curso superior, então é difícil. Pode ser só falta de sorte, há muitos como eu [desempregados]. Não sei para que tanta exigência para trabalho braçal de pedreiro ou auxiliar de limpeza”, diz ele, que é casado e tem três filhos pequenos.  

Pouco antes de conversar com a reportagem, Luiz teve parte da sua mercadoria apreendida e foi retirado da estação por agentes de segurança - a venda no metrô e trens da CPTM é proibida. “Como vocês conseguem dormir de noite? Preciso trabalhar”, protestava, se dirigindo aos seguranças. 

Juninho afirma que quase diariamente tem uma parte da sua mercadoria apreendida por funcionários do metrô. “Sei dos riscos que corro, mas tenho que sustentar a família”, diz ele, que não quis informar seu sobrenome.

Ele conta que largou seu emprego como torneiro mecânico, porque pagava pouco. No metrô, diz que fatura cerca de R$ 2 mil por mês, fora o que ganha com as vendas na rua 25 de Março, referência do comércio popular em São Paulo. 

O baiano José, 24, é novo na ocupação: começou a vender bala nos trens da CPTM há uma semana. Ele está há três anos procurando trabalho como auxiliar de limpeza ou pedreiro. “Deixo currículos nas empresas, mas não sou chamado”. José, que também não quis dar seu nome completo, ganha menos que Juninho. “Tem dia que não tiro nem o valor da passagem. Os fiscais estão tomando até a nossa mochila, é muito prejuízo”. 

No trem da linha 12- safira da CPTM, Amanda, 27, abria com dificuldade a porta que ligava os vagões em movimento e passava com um carrinho de bebê. Sem ter com quem deixar o filho, de 10 meses, ela trabalha vendendo bala no trem, enquanto não consegue uma vaga na creche onde mora, em Mauá, na Grande São Paulo.

“Emprego eu até acho, mas o salário não dá para pagar uma pessoa para cuidar do meu filho. Estou esperando vaga na creche há oito meses”, diz. Amanda conta que, mesmo com a apreensão da mercadoria, consegue ganhar cerca de R$ 60 por dia. “Dá para pagar o aluguel, as contas e comprar a mistura”.

Parceria com Sebrae

A Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos disse, por meio de nota, que vai fazer uma parceria com o Sebrae para capacitar vendedores ambulantes que atuam no sistema metroferroviário e queiram abrir seu próprio negócio. A pasta afirmou que as medidas “serão anunciadas em breve”.

Segundo a secretaria, a CPTM realizou cerca de 36 mil fiscalizações no primeiro semestre de 2019 -- no mesmo período de 2018, foram 24,1 mil. “No Metrô, foram mais de 6.200 ações de recolhimento de mercadorias no primeiro semestre deste ano e 7.300 no mesmo período do ano passado”, afirmou a pasta.

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