Bolsonaro não comprou agenda de reformas, diz economista

Marcos Mendes diz que ações dos Três Poderes colocam política fiscal em risco

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São Paulo

O economista Marcos Mendes, colunista da Folha, avalia que há riscos para a agenda de reformas econômicas devido a uma série de discussões em curso no Legislativo e no Judiciário. Além disso, segundo ele, falta empenho do presidente Jair Bolsonaro em defender essas iniciativas.

“O presidente da República não comprou a agenda de reformas. Isso fragiliza e dificulta o processo”, afirmou Mendes durante o lançamento de seu novo livro, “Por que é difícil fazer reformas econômicas no Brasil?”.

Para o economista, não retroceder nos objetivos de desmontar um estado excludente e concentrador de renda e na manutenção de privilégios já pode ser considerado um avanço neste momento.

Marcos Mendes, doutor em economia, consultor do Senado, ex-assessor especial do Ministro da Fazenda e colunista do jornal folha de S.Paulo. - Divulgação

Apesar de o Congresso Nacional ter abraçado a pauta das reformas, como as da Previdência, do sistema tributário e administrativa, Mendes listou uma série de projetos na Câmara e no Senado que podem levar o país de volta ao "período de retrocessos muito grandes entre 2005 e 2015", nos governos Lula e Dilma Rousseff.

Ele cita como exemplos a proposta do novo Fundeb (principal mecanismo de financiamento à educação básica) em discussão no Congresso, que direciona mais dinheiro para o setor sem resolver a questão da ineficiência na área, um novo projeto para aumentar a exigência de conteúdo nacional que pode travar investimentos no setor de petróleo e gás, além de tentativas de conceder benefícios previdenciários a categorias específicas.

Fala ainda no risco de derrota do governo em ações no Judiciário com custos bilionários para os contribuintes.

Na sessão de debates do lançamento do livro, Mendes também questionou a tese defendida por alguns economistas de que é necessário elevar os investimentos públicos para que a economia volte a crescer.

Ele contestou, por exemplo, o dado sobre efeito multiplicador dos investimentos públicos apresentado em artigo publicado na Folha no último dia 14, assinado pela ex-secretária de Orçamento Federal Esther Dweck e por outros quatro economistas.

Mendes afirmou que os cinco economistas retiraram um número do contexto do estudo, que a conclusão não é unanimidade e não se aplica a países que não estão em recessão e possuem alto nível de endividamento.

No artigo, o grupo de economistas rebatia argumentos apresentados pelo próprio Mendes em outra publicação.

No evento, Mendes afirmou ainda que as instituições brasileiras não estão consolidadas o suficiente para que seja possível conceder benefícios fiscais temporários e pontuais.

“Temos um modelo muito vulnerável a lobbies e pressões. Tanto o populismo como o espaço para lobbies setoriais não permitem políticas de sintonia fina de estímulo fiscais”, afirmou. “Depois que você deu [o benefício], não tira mais. A mobilização é enorme.”

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