Governo corta projeção do PIB de 2020 de 2,40% para 2,10%

Nova estimativa vai reduzir perspectivas de arrecadação tributária e deve levar a corte de verba em ministérios

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Brasília

Diante da piora das expectativas para a atividade mundial com a epidemia do novo coronavírus, o Ministério da Economia reduziu a projeção oficial para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2020 de 2,40% para 2,10%. O cálculo ainda não leva em consideração os efeitos da recente crise do petróleo.

A nova estimativa, divulgada pela SPE (Secretaria de Política Econômica) nesta quarta-feira (11), gera impacto negativo nas contas do governo e deve levar a um corte nas verbas de ministérios.

O número do PIB é uma das variáveis usadas pelo governo para rodar os cálculos em torno do cumprimento da meta fiscal, estabelecida em déficit de R$ 124,1 bilhões para este ano.

A previsão para o PIB apresentada pelo governo é mais alta do que o esperado pelo mercado. O boletim Focus divulgado nesta semana pelo Banco Central aponta que as instituições financeiras esperam um crescimento de 1,99% para este ano.

Paulo Guedes caminha até um carro, que tem a porta de trás aberta; o ministro usa óculos de grau retangular, veste um terno preto, camisa branca e gravata com estampa marrom e amarelo escuro
Paulo Guedes (Economia) deixa o prédio do ministério em Brasília - Adriano Machado - 9.mar.2020/Reuters

Em cenário pessimista, a SPE considera que a crise do coronavírus pode impactar negativamente o PIB em 0,5 ponto percentual, o que poderia levar o indicador a uma alta de 1,9%.

Com a constatação de que a atividade deve ser mais fraca, a previsão de arrecadação de tributos fica menor. Isso gera um descasamento entre o que o governo prevê gastar no ano e o valor que espera receber em impostos e contribuições.

Na terça-feira (10), o secretário especial de Fazenda da pasta, Waldery Rodrigues, indicou que a recente crise do petróleo, que levou pânico ao mercado financeiro, também seria sentida nas contas do governo. Segundo ele, o valor do barril do petróleo, que desabou nesta semana, seria levado em consideração nos cálculos.

Nesta quarta, entretanto, os técnicos da pasta informaram que a nova grade de parâmetros não levará em conta o choque desta semana. O preço médio do barril, estabelecido em US$ 58,96 no Orçamento, será atualizado para US$ 52,70, valor coletado na semana passada.

Na segunda (9), dia do choque, o Brent caiu para US$ 34,36. No dia seguinte, foi a US$ 37,22.

O corte da estimativa para o valor do petróleo neste ano também terá impacto negativo sobre o Orçamento. O novo patamar leva o país a arrecadar menos com royalties.

A defasagem na conta, porém, indica que o governo vai prever uma perda menor de receitas do que se tivesse considerado o patamar atual do petróleo.

De acordo com Waldery, as atualizações de parâmetros do Orçamento seguem um calendário e eventual manutenção dos preços mais baixos do barril será levada em conta na próxima reavaliação das contas, que será feita em maio.

O impacto da crise do petróleo no desempenho da economia também não aparece na projeção do governo para o PIB divulgada nesta quarta.

A secretaria já adiantou, entretanto, que a queda no preço do barril provoca, de um lado, um choque positivo na oferta, com redução do custo de insumos de produção. De outro, gera risco de crédito a empresas.

"No momento atual, esse efeito de segunda ordem e seus desdobramentos tem se sobreposto aos efeitos positivos e são responsáveis por elevar as preocupações dos investidores globais", afirma a SPE, ressaltando que ainda há incertezas sobre o impacto dessa disputa comercial sobre a economia.

Na avaliação da pasta, a crise do coronavírus pode provocar redução das exportações, queda no preço de commodities, restrições na produção de alguns setores, recuo no preço de ativos, piora nas condições financeiras de empresas e redução no fluxo de mercadorias e pessoas.

Com a receita ainda menor do que as despesas, o governo é forçado a bloquear recursos do Orçamento para evitar o descumprimento da meta fiscal.

O tamanho do corte será anunciado na próxima semana, quando a equipe econômica finaliza os cálculos e divulga o relatório bimestral de receitas e despesas.

De acordo com Waldery, em caso de contingenciamento, o governo olhará com atenção as demandas do Ministério da Saúde, que atua no plano de combate ao coronavírus.

"Estamos analisando alguns ministérios com maior atenção. Por óbvio, o Ministério da Saúde é com quem temos analisado detalhadamente as ações que precisam estar prontas para as respostas necessárias", disse.

No ano passado, diante do descompasso nas contas, a equipe econômica chegou a bloquear mais de R$ 30 bilhões do Orçamento, comprometendo a atividade de ministérios. Bolsas de estudos foram suspensas e ações da Polícia Federal, reduzidas.

Cortes chegaram a ser feitos inclusive no horário de funcionamento de órgãos em Brasília e na distribuição de café em ministérios.

Até o encerramento de 2019, o governo recuperou receitas e acabou recompondo todos os recursos contingenciados.

No relatório divulgado nesta quarta, o governo também reduziu a projeção para a inflação. A estimativa do IPCA em 2020 caiu de 3,62%, divulgados em janeiro, para 3,12%.

Projeção para o PIB em 2020, em %    
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UBS 2,1 1,3
Bradesco 2,5 2
Itaú 2,2 1,8
Goldman Sachs 2,2 1,5
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