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Fintechs esperam aumentar aprovação de crédito com estreia do open banking

Para startups, acesso mais fácil e rápido à informação levará a melhores serviços para os clientes

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São Paulo

As fintechs, empresas que lançam mão de soluções tecnológicas para realizar operações financeiras, esperam agilizar a ofertas de serviços com a entrada em vigor do open banking.

O sistema financeiro aberto pressupõe o compartilhamento de dados financeiros —sempre mediante autorização dos donos dessas informações.

Na prática, permite que uma fintech de concessão de crédito, por exemplo, tenha acesso rápido e fácil a informações antes detidas apenas pelo banco com o qual o cliente tem relacionamento.

Maios acesso aos dados do consumidor pode aumentar participação das fintechs no mercado de crédito
Maios acesso aos dados do consumidor pode aumentar participação das fintechs no mercado de crédito - Fotofolia - 12.abr.2019/Adobe Stock

A expectativa, no geral, é que as fintechs consigam ganhar uma enorme vantagem com o novo sistema, pois informações hoje monopolizadas pelos bancos passarão a ser acessíveis.

“Ter informações sobre hábitos de comportamento dos clientes é como botar óculos”, compara Ricardo Kalichsztein, presidente-executivo da Bom Pra Crédito, um marketplace de crédito online. A fintech tem hoje mais de 7 milhões de usuários e deve fechar o ano movimentando R$ 800 milhões na plataforma.

“Quanto maior o volume de informação liberado a respeito do consumidor —como ele paga, de que forma paga— melhor a avaliação de crédito. No final, esperamos utilizar uma gama enorme de informações que sempre existiram e não estavam disponíveis”, afirma.

No ano passado, a Bom Pra Crédito fechou uma parceria com o BB (Banco do Brasil) para oferecer linhas de crédito, o que permitiu o compartilhamento. Kalichsztein conta que o relacionamento funcionou como um ensaio para o open banking.

“Essa abertura retorna para os clientes como melhores condições e crédito mais barato, principalmente para aqueles que sempre tiveram compromissos pagos”, diz ele.

Mas Kalichsztein faz a ressalva de que as melhores taxas não valerão para todos. “Será adequado à capacidade de pagamento de cada tomador.”

Diretor de engenharia de software da a55, que viabiliza crédito para empresas com base em receita previsível, João Escribano ressalta também que nem todas as fintechs vão conseguir surfar na onda do open banking, por uma questão de infraestrutura e segurança.

“Estamos agora mapeando os recursos que serão necessários para as empresas participarem”, diz. Escribano faz parte do grupo de trabalho dedicado a garantir segurança para o sistema, que reúne ABCD (Associação Brasileira de Crédito Digital), AbFintechs e Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Segundo Escribano, o open banking irá reduzir “dezenas de horas de trabalho” usadas hoje para analisar a recorrência de empresas. Recentemente, a a55 lançou um produto voltado para ecommerce —setor que teve um boom durante a pandemia—, o Adfinance. Desde setembro, mais de 170 empresas procuraram as linhas de crédito.

“A participação vai exigir que as pessoas sigam dezenas de regulamentações e normas, e as empresas vão assumir a responsabilidade pelos dados 24 horas por dia”, diz Escribano. “Em paralelo, os clientes poderão revogar a autorização de compartilhamento de informação a qualquer momento. Nem todas as fintechs terão condições de por de pé e garantir a operação dessa arquitetura.”

A Ume, por exemplo, que concede crédito por meio do varejo físico e tem por foco o público desbancarizado, prefere hoje utilizar parceiros para ter acesso às informações necessárias para a avaliação de empréstimo.

“A penetração do público hoje é baixa para criarmos nossa própria infraestrutura”, diz Berthier Ribeiro, presidente-executivo da fintech. “Enquanto não tivermos cobertura expressiva, tomamos a opção de operar via parceiros.” Até o final do ano, a empresa calcula oferecer mais de R$ 1,8 milhão em crédito e ele espera que a oferta aumente com o open banking.

“O open banking será importante para a bancarização, mas sairá na frente o player conectado ao varejo, onde estão as transações das classes C, D e E”, afirma.

A avaliação é que fintechs atuantes como bancos digitais também serão beneficiadas pela inovação.

Gerente de projetos da Dock, espécie de “banco por trás dos bancos”, Rafael Cuinto entende que a empresa já nasceu dentro da lógica de open banking, embora o sistema ainda não exista de fato no Brasil.

O “sistema financeiro aberto”, como também é chamado, será possível por meio de APIs —conjuntos de protocolos que permitem que um sistema se conecte a outro para consumir dados de maneira padronizada.

“A base do open banking é a API, e nós já fazemos isso: trafegamos dados entre as instituições reguladas pelo Bacen”, afirma. “Nascemos nesse ambiente pensado para atender o mercado de forma mais equilibrada e com assertividade.”

A opinião é compartilhada por Otavio Farah, presidente-executivo do FitBank, uma plataforma de gestão de meios de pagamento.

“As fintechs têm a vantagem de já nascerem atuais”, diz Farah. “Já somos plataforma preparada para o processo de inovação que acontece no mercado financeiro, temos condições de monitorar e conectar contas e transações em qualquer ambiente.”

Criada em 2015 por Farah e seu sócio, Rener Menezes, o FitBank oferece serviços para empresas que necessitam de sistemas de pagamentos, seja por boleto, TED, folha de pagamento ou, agora, o Pix. Tudo via API.

Em julho, a fintech recebeu um investimento do J.P Morgan, que se tornou parceiro no desenvolvimento de tecnologia da empresa na América Latina. O FitBank espera movimentar até R$ 5 bilhões em transações financeiras até o final deste ano e obter autorização do Banco Central para operar no SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro).

A primeira fase do open banking implica apenas no compartilhamento de dados das instituições sobre seus canais de atendimento e produtos e serviços mais comuns. A expectativa é de que o sistema esteja implementado até o final de 2021.

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