Não tem empurra-empurra, não tem fila para o banheiro e nem aglomeração. A garrafa d’água não custa R$ 6, nem a cerveja, R$ 10. Também não tem banda sobre o palco, nem DJ na cabine. Diante do tablado, não há plateia, e cinema, até outro dia, era somente ao ar livre —e só para quem tem carro.
Como tudo nos últimos oito meses, o consumo de produtos culturais e de entretenimento também mudou com a pandemia. Baladas, festas de rua, bares, cinemas, museus e teatros fecharam as portas, suspenderam datas. E tudo se transferiu para o conforto —ou a solidão— da sala de casa, por meio da tela do celular, do computador ou da smart TV.
Com a reabertura avançando, empresários e agentes culturais voltaram a fazer planos de olho naquilo que deve permanecer do período de recolhimento: a presença virtual ficou indispensável.
No início de outubro, o governo de São Paulo anunciou que a capital entrou na fase verde, a última na distensão do distanciamento social dentro do plano definido pela gestão estadual. Com isso, museus, teatros e cinemas reabriram as portas.
Festas e shows ainda não podem voltar no modelo tradicional —terão controle de acesso e público sentado.
A reabertura deve começar a mudar a régua entre o presencial e o virtual, diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural. “A intensidade talvez não seja a mesma de produção virtual e a gente se estabilize em outro patamar.”
Para André Sturm, curador do Petra Belas Artes, os primeiros dias e semanas de atividades liberadas ainda serão fracos em movimento, mas aposta em uma certa “ansiedade coletiva” pelo encontro e pela convivência.
“Você toma por base como estão os restaurantes e as praias. Talvez há quem fique temeroso no começo, mas é inevitável voltar”, diz.
Com as salas de cinemas reabertas, os drive-ins criados na pandemia já tiveram as últimas exibições em vários locais. A experiência de ver um filme a partir do carro estacionado, porém, não deve desaparecer.
O Petra Belas Artes, que fez exibições no Memorial da América Latina, prevê incluir o modelo em sua programação do ano que vem.
“O drive-in exige a mobilização de um espaço livre muito grande. A gente conseguiu fazer porque o Memorial estava sem uma programação”, diz André Sturm, curador do Belas Artes.
“Queremos manter como evento. Tem um público novo que gostou do formato, e outros, que já conheciam, puderam mataram as saudades.”
A ocupação das vagas do drive-in do Petra ficou acima de 80% desde o lançamento.
As regras para reabertura em São Paulo são similares às de outras cidades. Nos cinemas, há higienização das salas entre as sessões e bloqueio de assentos para manter o distanciamento.
Outro formato usado intensamente na pandemia foram as lives. Segundo o YouTube, as transmissões sertanejas quebraram todos os recordes de audiência. Marília Mendonça teve, em abril, um público de 3,31 milhões de pessoas enquanto o show era exibido —e ele já foi visualizado 54 milhões de vezes.
Artistas consagrados da MPB como Gilberto Gil, Milton Nascimento e Gal Costa também aderiram às lives enquanto não voltam aos palcos.
Até Caetano Veloso, que resistiu nos primeiro meses, se rendeu a um show, transmitido ao vivo pela Globoplay.
A Twitch, plataforma muito popular para transmissão de jogos eletrônicos, lançou no Brasil, durante a pandemia, sua programação musical e escalou 11 artistas para o time inicial de programas na rede.
“Rapidamente entendemos que os artistas precisavam de ajuda durante a pandemia para alcançar os fãs, e a Twitch foi o serviço perfeito para isso”, diz o diretor de parcerias e conteúdo da plataforma, Wladimir Winter.
MC Jottapê e outros artistas da Kondzilla estão lá, fazendo entrevistas, jogando, produzindo música ao vivo. O momento, diz André Izidro, diretor de marketing da produtora, é propício para testar os formatos.
Na avaliação dele, os shows são insubstituíveis, mas a linguagem das lives se consolidou com a quarentena.
“Não substitui, mas reforça o marketing. Na hora de montar uma programação anual, semestral, vamos ter que encaixar lives”, afirma.
Para Eduardo Saron, do Itaú Cultural, o período sob a pandemia também deixou uma série de aprendizados, devido à urgência em digitalizar conteúdos. O site do Itaú Cultural hospedou, desde março, 13 mostras de cinema.
“Pudemos vencer barreiras de tempo e espaço. Vamos ter agora de pensar a partir das plataformas, usar todos os meios tecnológicos disponíveis. Em um espetáculo, pode ter uma câmera a partir do palco. Ou, em show, você não assiste da plateia, mas do cenário. São dezenas de possibilidades”, diz.
E, se régua do presencial ante o virtual começa a mudar para as artes de palcos, museus e cinemas, festas e shows ainda seguirão diferentes por mais um tempo.
Em março, Adipe Neto, da Brain Solutions, estava com um calendário cheio de festas até o fim do ano. A produtora tinha 20 feiras e eventos corporativos marcados, além das festas Lunática, Santo Forte, Talco Bells e Massa Real.
Algumas festas ainda foram para o ambiente virtual, como a Lunática, convidada pela Twitch para uma transmissão, e a Santo Forte, que foi transmitida até setembro por meio do Zoom, com ingressos a R$ 20.
De 100 a 150 pessoas topavam pagar para assistir ao DJ escolhendo música a partir de sua casa.
O faturamento com esse tipo de evento virtual, diz Adipe, equivale a 1% do que a produtora recebia. Ou seja, não bota comida na mesa de ninguém. No início, conta, mais gente participava, mas veio a exaustão.
“As pessoas cansaram desse formato”, avalia o produtor.
Desde a reabertura, a Lunática voltou a ser produzida, mas em formato mais comedido, batizado de Lulu: das 16h às 22h, com mesas vendidas para grupos antecipadamente, bar e pizza. Sem pista de dança por enquanto.
Cinema
Foram liberados no dia 9/10 em São Paulo
Em outros locais, como Rio de Janeiro e Salvador, eles já estavam reabertos
Como foi
Onde reabriu
- Há distanciamento entre as poltronas
- Somente casais ou pessoas que forem junta poderão sentar lado a lado
- A ocupação máxima é de 40% do assentos
- As salas são higienizadas entre as sessões
Onde está fechado
- Para quem está em cidades com cinemas ainda fechados, restam as plataformas de streaming
- O Petra Belas Artes lançou a sua neste ano
- As mostras É Tudo Verdade e Varilux de cinema francês foram exibidos pelo Looke
Drive-in
As programações foram encerradas
O cinema ao ar livre, porém, não será esquecido e deve virar evento
Teatro
Segue o mesmo protocolo dos cinemas
A reabertura foi liberada em outubro
Como foi
- Atores, diretores e produtores montaram peças pensadas para a transmissão online
- Há os dois formatos: os atores no palco, com a peça transmitida para quem está em casa, e todos em suas casa, atores e público
Após a reabertura
- Parte da programação virtual deve ser mantida
- Além da expectativa de retorno gradual do público, ainda faltará patrocínio para grandes espetáculos
Baladas e shows
- As aglomerações não entram nem no plano SP, nem nos demais planos
- Festinha por vídeo
- DJs, casas noturnas e festas carregaram suas programações para o streaming e para plataformas de vídeo
Como está
- Casas noturnas estão reabrindo como bares e restaurantes
- Alguns começam a incluir shows na programação, mas somente com público sentado
Como deve ficar
- Shows pensados para a transmissão online devem continuar
- O uso de outras plataformas de streaming também não será interrompida
- Uma vez que o corpo a corpo esteja liberado, elas perderão espaço, mas não vão desaparecer
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