Aumento na circulação de pessoas impulsiona o setor de serviços e a pandemia em janeiro

Restrição à circulação deve derrubar setores novamente

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São Paulo

A pequena melhora no resultado do setor de serviços em janeiro deste ano –um crescimento de 0,6% em relação a dezembro– foi influenciada principalmente pela maior circulação de pessoas em um período tradicionalmente reservado a passeios de férias e viagens.

O resultado registrado pela PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), divulgada nesta terça-feira (9) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), acompanha outro, sobre o qual não se tem o que comemorar: a consolidação do repique de casos de Covid-19 e aumento no número de mortes pela doença.

Com a chegada do pior momento da pandemia, estados e municípios voltaram a adotar medidas como toque de recolher e fechamento do comércio para tentar conter a circulação do vírus e de suas variantes.

E esse efeito rebote também deverá ser sentido pelo setor de serviços, que ainda não se recuperou do baque do ano passado e responde a cerca de 70% da economia brasileira.

Em janeiro, dois segmentos que registraram desempenho positivo e superior à média nacional estão ligados a viagens e férias. Os serviços de transportes avançaram 3,1%, com o maior impacto sobre o resultado geral. O índice de atividades turísticas cresceu 0,7% em relação a dezembro, quando tinha ficado estável.

Para Rodrigo Lobo, gerente da PMS, a movimentação de pessoas pelas cidades e entre elas tem relação com o período de férias. Todos os segmentos dentro do grupo de transportes cresceram na comparação com dezembro. No transporte aéreo, o avanço foi de 11,1%, e de 3,9%, no terrestre.

“Isso pode ser um reflexo do aumento da flexibilização das medidas de isolamento, com os traslados das pessoas pelas cidades brasileiras, utilizando transporte público. Talvez essas viagens sejam motivadas pela época do ano, quando acontecem as férias”, diz.

Volume de serviços cresce, mas não recupera tombo de 2020

  1. 0,6%

    Expansão do setor de serviços em janeiro

  2. 3%

    É o quanto falta o setor crescer para chegar ao nível de fevereiro de 2020

  3. 3,1%

    É o avanço dos serviços de transportes

  4. 0,7%

    É o avanço das atividades turísticas

O setor turístico, muito abalado por quarentenas e decretos de distanciamento (cidades litorâneas chegaram a proibir a permanência de pessoas na praia), foi favorecido pelo relaxamento das medidas para evitar aglomerações.

“Com o aumento de movimento das pessoas nas ruas, de viagens, de almoços em restaurantes, transportes de passageiros, seja terrestre ou aéreo, o setor turístico reflete o movimento em vários desses segmentos de prestação de serviços presenciais. Ainda está distante de voltar ao patamar de fevereiro, mas dá um pequeno passo adiante”, afirma Lobo.

Para a economista Juliana Inhasz, do Insper, o otimismo é exagerado. Desde maio, o segmento turístico avançou 122,8%. Porém, para retornar ao patamar de fevereiro de 2020, ainda precisa crescer 42,1%.

“Esse pequeno avanço [do índice geral] em janeiro é uma tentativa de reativação, mas ainda mostra grande dificuldade de fazer a economia crescer”, afirma a economista.

Segundo o IBGE, em janeiro, 9 dos 12 locais pesquisados registraram expansão das atividades turísticas. Na comparação com o mesmo período em 2020, a retração é de 29,1%.

As novas medidas de restrição à circulação de pessoas deverá levar a economia dos serviços a uma nova dormência, na avaliação de Juliana. O impacto do novo período de contenção dependerá também do nível de comprometimento das pessoas com o distanciamento social. “Ainda não sabemos se vai ser tão negativo, mas acredito que fiquei no zero a zero.”

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o resultado de 0,6% passa sinais da fraqueza da economia e indica que levará tempo para a recuperação começar.

Ele aposta em melhores indicadores somente no segundo semestre, quando “a economia começar a ser vacinada”, ou seja, quando a população economicamente ativa estiver protegida. Antes disso, é possível que a situação do setor de serviços volte a piorar.

“Muitas pessoas deixarão de viajar porque viajaram quando não se deveria. As pessoas não abriram mão de suas comemorações carnavalescas e acabaram impulsionando esse processo de avanço na pandemia”, diz o economista.

Na avaliação dele, o resultado dos serviços ainda deve permanecer estável em fevereiro devido ao gasto excepcional do Carnaval. O mês de março, com novos fechamentos, toques de recolher, e piora nos indicadores de contaminação e mortes, deverá trazer retração ao setor.

Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, na comparação com janeiro do ano passado, o setor recuou 4,7%. Em 12 meses, o resultado negativo de 8,3% é o pior desde dezembro de 2012. Ainda assim, a melhora registrada em janeiro encurtou a distância do patamar pré-pandemia, que agora é de 3% em relação a fevereiro de 2020.

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