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Escassez global de chips chega a torradeiras e lava-roupas

Empresas chinesas aumentam estoque com receio de falta de semicondutores

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Song Jung-a Eleanor Olcott
Seul e Taipé | Financial Times

O aprofundamento da crise global de chips já está atingindo fabricantes de smartphones, televisores e eletrodomésticos, segundo fornecedores na Ásia, enquanto as empresas aumentam os estoques de semicondutores.

Os suprimentos de chips diminuíram devido à crescente demanda por produtos eletrônicos durante a pandemia de Covid-19 e à escassez em grandes indústrias.

Mas essa falta foi agravada pelo acúmulo do produto por grupos chineses atingidos por sanções, o que tornou mais difícil para algumas companhias conseguirem as peças para equipamentos eletrônicos cotidianos, como lava-roupas e torradeiras de pão.

Máquinas de lavar em uma loja em Washington, Estados Unidos - Saul Loeb - 27.set.21/AFP

A Samsung Electronics e a LG Electronics, ambas da Coreia do Sul, estão entre os grupos que sentem o aperto dos atrasos na fabricação, que deverão durar até 2022.

A Samsung começou a reduzir os pedidos de alguns componentes de smartphones neste mês, segundo dois de seus principais fornecedores de peças, depois que a maior fabricante de chips do mundo advertiu em março sobre um "sério desequilíbrio na oferta e na demanda" de semicondutores.

"Processadores de aplicativos, drivers para telas e sensores de câmeras estão em baixa oferta. Em consequência, estamos tendo uma queda dos pedidos da Samsung neste trimestre", disse um grande fornecedor de peças para smartphones à empresa coreana. "As quedas temporárias nas vendas são inevitáveis, mas esperamos que a situação melhore a partir de junho, quando os pedidos adiados provavelmente virão em volume maior no segundo semestre."

Koh Dong-jin, um dos executivos-chefes e diretor do setor de smartphones da Samsung, advertiu sobre possíveis problemas no segundo trimestre devido à falta de chips. Ele disse no mês passado que a companhia poderá ter de adiar o lançamento de seu smartphone de ponta para o próximo ano. A Samsung também é um importante fabricante de chips através de seu negócio de fundição.

A LG, um grande fabricante de eletrodomésticos, disse que a falta de chips ainda não atrapalhou sua produção, mas admitiu que é um risco. "Estamos monitorando de perto a situação, pois nenhum fabricante pode ficar livre do problema se ele se prolongar", disse a companhia.

Um pequeno fabricante de televisores em Seul disse: "Está ficando mais difícil conseguir componentes essenciais, a menos que você pague altos preços. Temos de aumentar os preços das TVs, refletindo o aumento do custo de materiais".

A produção de processadores de baixa margem, que realizam tarefas simples como pesar roupas em uma máquina de lavar ou tostar o pão em uma torradeira "smart", foi afetada.

"Unidades de microcontroladores estão em oferta limitada, o que poderá impactar os equipamentos em geral", disse Randy Abrams, diretor de pesquisa de semicondutores na Ásia para o Credit Suisse.

A produção desses chips usados em eletrodomésticos acabou ficando no fim da fila, enquanto os fabricantes alocam capacidade para produtos de alta margem, disse um conhecedor da indústria.
Fundições na Coreia do Sul disseram que não conseguem atender o aumento de pedidos, mesmo operando em plena capacidade.

"Os pedidos de clientes de chips usados em smartphones, TVs e outros eletrodomésticos estão superando nossa capacidade", disse uma autoridade na DB HiTek, que fabrica chips usados no iPad da Apple. "Chips para telas, chips de gerenciamento de energia e sensores de imagem estão especialmente em falta."

A escassez levou as companhias a fazer pedidos em diversos fabricantes, fenômeno conhecido como "double booking", disse um diretor do setor.

Ele acrescentou que a falta de chips foi agravada pela estocagem agressiva de empresas chinesas, que se preparam para novas sanções conforme Washington tenta barrar as ambições de Pequim sobre a tecnologia de comunicação 5G.

A Semiconductor Manufacturing Company de Taiwan, que está funcionando acima de sua capacidade, prevê que a falta de chips dure até 2022. A companhia vai investir US$ 100 bilhões (R$ 547,8 bilhões) em três anos para expandir a capacidade.

A Nanya Technology, principal fabricante de chips de memória de Taiwan, anunciou na terça-feira (20) planos de construir uma fábrica de US$ 10 bilhões (R$ 54,7 bilhões) no país para aliviar a escassez e captar a crescente demanda por peças relacionadas à tecnologia 5G.

No entanto, analistas acreditam que a escassez poderá terminar tão depressa quanto começou, se os gastos em eletrônicos diminuírem com o recuo da pandemia.

Os investidores verão então "quanto do perfil da demanda é real e quanto é fantasma", escreveu Stacy Rasgon, analista de semicondutores na consultoria Bernstein.

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