Omri Moran chegou pontualmente para um primeiro encontro, mas a moça, inexplicavelmente, estava atrasada. Ela finalmente chegou, mas se desviou da pergunta sobre o atraso, dizendo: "Não importa, você não entenderia", lembrou.
Sem se deixar dissuadir, ele, então chefe de uma startup de geolocalização, insistiu e descobriu o motivo: sua paquera tinha borrado as unhas que havia feito antes do encontro e tentou consertá-la, sem sucesso.
Na época, em 2016, ele realmente não entendeu, mas o momento também ofereceu uma espécie de revelação.
"Sou dessas pessoas que quando veem coisas ruins começam a pensar em soluções", disse Moran. "E simplesmente me perguntei por que não poderia ser automatizado. E foi assim que seguimos nosso projeto."
Ele inventou uma abordagem robótica do trabalho de manicure e começou a trabalhar em sua ideia naquele ano; ela se transformou na empresa Nimble. O conceito, no qual duas outras startups estão trabalhando em separado, tenta basicamente ser uma maneira simples de fazer pintura de unhas à prova de tudo.
As companhias, Clockwork e Coral, além da Nimble, de Moran, desenvolveram diferentes tecnologias e diferentes modelos de negócios para oferecer às clientes uma rápida troca de cor.
Mas não desmarque a hora na sua manicure habitual ainda. Enquanto as três empresas conseguiram financiamento externo substancial, os equipamentos ainda estão sendo testados e modificados antes de sua estreia completa no mercado. E nenhuma das três está oferecendo uma manicure no estilo salão, com massagem facial e maquiagem. Mas elas poderão acabar virando de cabeça para baixo o mercado crescente de manicures.
Mercado bilionário
Como setor de mercado, as manicures são um objetivo que vale a pena investir. Estimativas avaliam que o valor desse mercado esteja perto de US$ 10 bilhões (R$ 50,6 bilhões), e ele poderá chegar a US$ 11,6 bilhões (R$ 58,7 bilhões) em 2027.
Enquanto o tamanho do mercado só para esmaltes coloridos não foi testado, os investidores o acham atraente. Como disse Julie Bornstein, fundadora do app de compras Yes, que investiu na Clockwork, a ideia interessou porque uma sessão de manicure pode consumir muito tempo.
"Eu pessoalmente não gosto de passar 40 minutos no salão de manicure", disse Bornstein.
A tecnologia incorpora algum hardware —como um braço robótico em alguns casos— para pintar as unhas, com software que depende de aprendizado por máquina para distinguir uma unha da pele ao redor. Cada companhia usa uma abordagem diferente, mas basicamente conta com o escaneamento de milhares de formas de unhas para criar um banco de dados.
Câmaras no interior dos dispositivos tiram fotos das unhas da usuária, processo repetido cada vez que o serviço é feito, mesmo que seja a mesma cliente. Durante o desenvolvimento, as três firmas tentaram minimizar o número de partes móveis e contar mais com software, porque partes móveis podem quebrar com o tempo.
A Clockwork é a primeira a chegar ao mercado, embora de maneira limitada. Na sexta-feira (4), a firma abriu uma loja no bairro de Marina em San Francisco (Califórnia), basicamente um local improvisado que deverá ficar aberto por pelo menos seis meses.
A improvisação é o clímax de quatro anos de trabalho. Apte e Feldstein tinham iniciado sua companhia em 2017, disse Apte, examinando cerca de 70 ideias antes de se definirem pelo que chamaram de "minicures".
Seu equipamento de mesa, destinado a lojas, escritórios e condomínios de apartamentos, incorpora uma mistura de visão de computador e inteligência artificial para pintar as unhas.
Em vez de usar um braço robótico, a máquina incorpora o que é conhecido como "gantry", uma tecnologia mais antiga que conta com movimentos de vários eixos para aplicar o esmalte.
Eles escolheram o nome Clockwork, que é um jogo de palavras que trata da tendência a manicures regulares assim como a complexidade técnica de um relógio. Os dois tinham trabalhado sem remuneração até o final de 2019, quando conseguiram US$ 3,2 milhões (R$ 16,2 milhões) em sua primeira rodada de captação.
A Coral, outra companhia que tenta revolucionar a indústria dos salões, conseguiu US$ 4,3 milhões (R$ 21,7 milhões) em capital de risco mais ou menos na mesma época. Mas Bradley Leong, executivo-chefe e cofundador da empresa, disse que como eles não conseguiram o preço do equipamento tão baixo quanto esperavam em sua versão atual, o estão fazendo semirrobótico para reduzir o custo.
A Nimble incorporou a chamada visão de computador para trabalhar com inteligência artificial e um braço robótico para oferecer manicures simples, de 10 minutos, em um dispositivo do tamanho de uma torradeira de pão, aproximadamente. Para gerar consciência de marca, a empresa, que começou em Tel Aviv mas hoje está sediada em Nova York, recentemente fez uma campanha no Kickstarter e conseguiu US$ 10 milhões (R$ 50,6 milhões) em financiamento semente.
Assim como qualquer robótica, há a inevitável pergunta sobre a substitiuição de empregos por equipamentos. Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho, em 2019 havia 155.300 empregos no setor; o pagamento médio era de US$ 27.870 (R$ 141 mil) por ano ou US$ 13,40 (R$ 67,8) por hora —fora as gorjetas. Se não houver empecilhos, espera-se um ritmo de crescimento de 19%.
Nenhuma das máquinas futuristas molda as unhas, por isso essa parte do serviço de salão não será interrompida. Apte disse que não previa qualquer perda de empregos nos salões, porque seu equipamento vai funcionar como um serviço extra.
Leong também disse que não espera que seu dispositivo cause desemprego porque ele não substitui uma sessão de manicure completa.
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