Descrição de chapéu Financial Times sustentabilidade

Startups criam formas de capturar carbono para vender créditos

Métodos têm capacidade de armazenar substância por milhares de anos

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Leslie Hook
Financial Times

Em uma central geotérmica no sul da Islândia, quatro torres achatadas equipadas com gigantescos ventiladores em breve começarão a operar. Construídas pela startup suíça Climeworks, elas extrairão dióxido de carbono da atmosfera e o injetarão sob o solo em grande profundidade, onde o gás se converterá em pedra.

O método, conhecido como “captura direta do ar”, está na vanguarda das tecnologias de remoção de carbono, e tem a capacidade de armazenar dióxido de carbono por milhares de anos.

Também é uma das maneiras mais novas de compensar emissões de poluentes, gerando créditos pela remoção de dióxido de carbono da atmosfera (ou pela redução de emissões) que podem ser adquiridos por companhias e indivíduos interessados em reduzir seu impacto ambiental.

“A situação especial da Islândia é que o dióxido de carbono tem a capacidade de reagir muito, muito rápido ao ser injetado no subsolo, e essa reação o transforma em pedra”, disse Daniel Egger, vice-presidente de marketing da Climeworks.

O processo também é uma das formas mais dispendiosas de compensação disponíveis no planeta, com um custo de cerca de mil euros por tonelada, na nova central.

Mas a compensação de emissões em termos mais amplos –que inclui muitas outras formas de crédito pela remoção de carbono – está retomando o ímpeto em todo o mundo.

À medida que mais companhias adotam a meta de emissões líquidas zero de poluentes, elas terão de adquirir créditos de compensação para cobrir as emissões que não forem capazes de eliminar, de forma que o mercado mundial –que atualmente movimenta cerca de US$ 400 milhões anuais (R$ 2 bilhões), de acordo com registros públicos– deve crescer ainda mais.

No entanto, a compensação de emissões, que existe desde os dias do Protocolo de Kyoto, de 1997, também pode ser altamente problemática, e o setor foi prejudicado por um histórico de projetos que fracassaram em remover o volume prometido de dióxido de carbono.

A Climeworks é parte do elenco crescente de startups que estão adotando novas abordagens quanto à compensação de emissões –com o foco em remover e aprisionar dióxido de carbono de forma permanente, em lugar das formas mais tradicionais de compensação, tais como restauração de florestas e plantação de árvores.

“Precisamos ter soluções técnicas [como essa] a fim de atingirmos nossas metas climáticas”, disse Egger. “As soluções de base natural [como a plantação de árvores] muitas vezes têm limitações de armazenagem –em 50 anos, o dióxido de carbono está de volta ao ar”.

Ele explica que as árvores são muito efetivas em termos de capturar dióxido de carbono, mas ele começa a ser liberado de volta na atmosfera à medida que uma árvore se decompõe.

Projetos de remoção permanente continuam a responder por apenas uma pequena minoria das empreitadas de remoção. Um recente estudo da consultoria Carbon Direct calculou que existe 1,1 bilhão de compensações de emissões nos registros oficiais, e que nenhum dos projetos registrados oferecia remoção permanente de carbono.

Ainda assim, a abordagem vem atraindo número crescente de investidores dotados de grandes recursos. A Microsoft é um dos clientes que vão comprar contratos de compensação da central de Orca, da Climeworks.

Brad Smith, presidente da companha de software, argumenta que apoiar essas tecnologias nascentes de remoção de carbono agora cria a oportunidade de que se desenvolvam ainda mais.

“O que estamos realmente fazendo é construir um novo mercado –criar um novo mercado– um mercado onde antes não existia um mercado explícito”, ele diz. “É como fazemos com que as coisas comecem a se mover na direção certa”.

Outras companhias de tecnologia também apoiam ativamente algumas das ideias mais avançadas de compensação.

A companhia de pagamentos Stripe está investindo US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões) em uma carteira de projetos de remoção de carbono “de fronteira”, que incluem injetar dióxido de carbono no cimento, capturar dióxido de carbono com pedra calcária no piso do oceano, e adquirir contratos de compensação da Climeworks.

“Ajudaremos essas tecnologias a percorrer a curva de queda de custo”, disse Nan Ransohoff, vice-presidente de questões de clima na Stripe. Ela acrescenta que o investimento é só o começo. “O campo da remoção de carbono vai precisar de muito, muito mais para atingir a escala de que necessita”.

Só uma camuflagem?

Este ano, há novos esforços em curso para tentar chegar a um modelo correto de compensação —especialmente antes da conferência sobre o clima COP26 da ONU, que acontece em Glasgow em novembro deste ano, durante a qual negociadores de todo o mundo tentarão definir uma estrutura mundial para um mercado de direitos de emissão.

Se aprovado, esse modelo ajudaria a criar um sistema que permitiria que contratos de compensação de emissões fossem negociados entre países.

Mas os críticos à compensação continuam preocupados com a possibilidade de que a prática possa se tornar uma camuflagem para a inação –e argumentam que as companhias precisam antes de tudo reduzir suas emissões de dióxido de carbono.

Inger Andersen, diretora do Programa Ambiental da ONU, diz que a compensação precisa ter “transparência, independência, verificação e rigor”, para que seja significativa.

“Vimos formas de compensação reais, e outras formas que não foram tão significativas ou reais quanto deveriam”, ela diz.

Mesmo com o crescimento recente do mercado de compensação, e com a nova safra de companhias que desenvolvem métodos permanentes de remoção, o investimento geral em remoção de carbono continua a ser muito inferior ao que seria necessário para atingir as metas quanto ao clima”, diz Jonathan Goldberg, fundador e presidente-executivo da Carbon Direct.

“Precisamos de significativamente mais capital para levar a remoção de carbono à escala que ela precisa adquirir”, ele diz. “Há mais e mais interesse em apoiar formas de remoção de carbono relacionadas à engenharia, e mais companhias trabalhando nisso”.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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