Anunciantes calculam custos do apagão do Facebook

Mais de 10 milhões de anunciantes contribuem com 98% da receita do Facebook

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tiffany Hsu
Nova York | The New York Times

Durante mais de cinco horas na segunda-feira (4), enquanto Facebook e Instagram ficaram no escuro, David Herrmann temeu sobre os anúncios.

Herrmann, um comprador de mídia freelance, disse que todo mundo com quem ele trabalha conta muito com as plataformas, que absorvem o grosso dos US$ 80 milhões (R$ 440 milhões) a US$ 100 milhões (R$ 551 milhões) de gastos em publicidade administrados por ele a cada ano.

Uma empresa que anuncia exclusivamente no Facebook viu suas receitas despencarem 70% durante o apagão, em relação ao mesmo período da semana anterior, disse Herrmann. As vendas caíram 30% em outra empresa, que gasta US$ 40 mil (R$ 220,3 mil) por dia em anúncios.

Apagão foi para muitos anunciantes um lembrete desagradável da poderosa influência do Facebook em sua capacidade de fazer negócios
Apagão foi para muitos anunciantes um lembrete desagradável da poderosa influência do Facebook em sua capacidade de fazer negócios - Dado Ruvic/Reuters

"Passei praticamente o dia todo verificando o Facebook, esperando que voltasse", disse. "Mas, sem uma instrução clara do Facebook, simplesmente tivemos que esperar."

O apagão foi para muitos anunciantes um lembrete desagradável da poderosa influência do Facebook em sua capacidade de fazer negócios.

Mais de 10 milhões de anunciantes contribuem com mais de 98% das receitas do Facebook. No trimestre que terminou em 30 de junho, a empresa faturou em média US$ 78 milhões em vendas de anúncios a cada seis horas, grande parte deles de pequenas empresas, organizações e indivíduos.

Mas uma enxurrada de críticas nos últimos anos deixou muitos clientes do Facebook irritados com a companhia. Frances Haugen, uma ex-gerente de projetos da empresa que se tornou delatora, declarou diante de senadores na terça-feira (5) que a empresa estava ciente dos danos causados por seus serviços, como os efeitos negativos do Instagram para as adolescentes.

O Facebook também enfrentou a revolta dos anunciantes sobre sua atuação em relação ao discurso de ódio, a desinformação, a privacidade e outras questões.

Graham Mudd, vice-presidente para anúncios e marketing de produtos da empresa, escreveu no Twitter na segunda que o apagão afetou a plataforma de publicidade do Facebook e pediu desculpas "pelo incômodo que isso cria para nossos clientes". A companhia disse mais tarde que "os anunciantes não serão cobrados por anúncios durante o apagão".

Compradores de mídia comentaram que o Facebook saiu do ar no início do período mais importante para muitos anunciantes, quando eles iniciam as campanhas de fim de ano durante uma temporada que deverá ser complicada neste ano por gargalos nas cadeias de suprimentos e restrições da pandemia.

"Poderá haver cabeças rolando no final disto", escreveu no Twitter Cory Dobbin, fundador da agência digital Aaron Advertising.

Muitas empresas contam exclusivamente com o Facebook para alcançar os clientes, disse Dobbin em uma entrevista. Ele administra aproximadamente US$ 50 mil por dia em gastos de publicidade. A maioria dos gastos de seus clientes vai para o Facebook, e o restante para Google, Snap e outras plataformas.

"O nome do jogo para muitos anunciantes agora é diversificação, se já não era", disse ele. "Este é um exemplo perfeito de por que você não pode contar com um único canal para atrair toda a sua receita."

O apagão aumentou as crescentes preocupações sobre o Facebook. O Omnicom Media Group, que administra mais de US$ 30 bilhões por ano em gastos globais de marketing, enviou um aviso aos clientes na segunda, comentando que o Facebook entrou em contato para se defender depois que Haugen apareceu no programa da CBS "60 Minutes", no domingo.

A Omnicom tinha enviado uma mensagem aos clientes abordando uma série de artigos do Wall Street Journal sobre o Facebook. A companhia de publicidade indicou uma reportagem de que o Facebook enganou seu conselho supervisor afirmando que seu programa XCheck, que isentou pelo menos 5,8 milhões de usuários de alto perfil das regras normais de restrição, foi usado apenas esporadicamente e que os dados do sistema não podiam ser rastreados.

"Essas discrepâncias levantam uma pergunta mais importante sobre o nível de precisão e sinceridade das reações do Facebook às perguntas —tanto internas quanto externas— sobre esse tipo de assunto", escreveu a Omnicom na nota, que foi obtida por The New York Times.

"O problema do que veio à luz nesta reportagem é que há essencialmente um sistema de justiça paralelo no Facebook que opera sem prestação de contas ao público ou transparência."



Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.