Maksoud Plaza, ícone da hotelaria, fecha as portas após 42 anos de operação

Encerramento das atividades do histórico hotel pegou os funcionários de surpresa

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São Paulo

Após 42 anos de funcionamento, o hotel Maksoud Plaza fechou as portas na manhã desta terça-feira (7). Vendido por R$ 132 milhões para os empresários Fernando e Jussara Simões, o icônico estabelecimento encerra suas operações, deixando cerca 170 funcionários sem emprego e guardando sob sua estrutura diversas histórias que marcam o cenário cultural paulistano.

Os trabalhadores que ainda atuavam no local foram avisados sobre o fim das atividades do hotel histórico logo nas primeiras horas desta terça (7). Eles cumprirão contrato até o final de dezembro, quando o prédio será entregue para os empresários, donos do Grupo JSL.

Vão interno do hotel Maksoud Plaza
Vão interno do hotel Maksoud Plaza, em seus tempos áureos de funcionamento - Divulgação - 29.set.2017

O fechamento do hotel encerra uma disputa de dez anos entre a atual administração e os irmãos Simões, que arremataram o prédio e seu terreno por R$ 70 milhões em leilão realizado em 2011 pela Justiça do Trabalho para pagamento de R$ 13 milhões em dívidas trabalhistas.

O Maksoud é controlado pela empresa de engenharia Hidroservice e administrado pela HM Hotéis. A Hidroservice detém ainda a Manaus Hotéis e Turismo e HSBX Bauru Empreendimentos.

Após o leilão, a holding do hotel contestou a validade da medida e conseguiu retomar o controle do estabelecimento. Agora, as partes entraram em acordo e decidiram encerrar o processo. Com isso, as atividades do hotel chegam ao fim.

"Estou triste, por um lado, porque é o hotel ao qual dediquei minha vida e comecei aos 15 anos de idade como ajudante de cozinha. Mas animado, por outro lado, porque vamos continuar a história do Maksoud em outros locais, outros empreendimentos hoteleiros e imobiliários", disse à Folha o presidente-executivo do hotel, Henry Maksoud Neto.

O administrador afirmou que, embora a notícia tenha surpreendido funcionários e hóspedes, a opção de um fechamento gradual não existia. "Isso formaria pequenas 'despedidas', o que seria muito triste para todos nós. Os funcionários foram avisados hoje de manhã. Todos compreenderam, tanto que concluíram a reunião com uma salva de palmas e posando para uma foto histórica."

Segundo Maksoud, os empregados serão devidamente indenizados. "Esperamos poder aproveitar a maior parte deles nos nossos novos empreendimentos. São pessoas formadas em uma cultura de excelência na prestação de serviços de qualidade."

O grupo ingressou com pedido de recuperação judicial em setembro de 2020. As dívidas somavam mais de R$ 120 milhões. Segundo a HM Hotéis, administradora do Maksoud atualmente, as dívidas nos processos foram reduzidas pela metade e parceladas para pagamento em até 23 anos.

O endividamento fiscal federal total do grupo, avaliado em R$ 400 milhões, foi reduzido em mais de 60%, e o saldo remanescente, parcelado em até dez anos. As dívidas trabalhistas serão pagas em até um ano, afirmou a empresa.

"No total devíamos R$ 845 milhões, mas conseguimos reduzir para R$ 300 milhões", disse o presidente-executivo.

A pandemia também atrapalhou as operações do grupo, que viu o prejuízo crescer. Em nota, a HM Hotéis afirma que a suspensão das atividades do local pela primeira vez em sua história, entre março e setembro de 2020, causou prejuízos acima de R$ 20 milhões.

"O fechamento do hotel se dá em momento oportuno, dada a necessidade de reestruturação financeira do grupo ao qual pertence, afetado por dívidas herdadas de empresas extintas, como a própria Hidroservice Engenharia", diz o texto da administradora. "A HM Hotéis, proprietária do Maksoud Plaza, vinha arcando com os custos deste pesado endividamento herdado das outras empresas."

Baixas taxas de ocupação e redução no número de eventos teriam prejudicado ainda mais as contas da empresa, segundo a administradora.

Anúncio emocionado

Os funcionários contaram à reportagem da Folha que o anúncio emocionado do fim do hotel feito nesta terça pelo presidente-executivo, Henry Maksoud, surpreendeu os trabalhadores. O prédio agora está sendo esvaziado e deve ser entregue até o dia 27, sem mobília.

Os empregados relataram que a empresa, que chegou a empregar mil pessoas em seu auge na década de 1980, possuía cerca de 320 funcionários no início da pandemia. Aproximadamente 155 foram demitidos no último ano. Os restantes já trabalhavam também em atividades como entrega via aplicativo para complementar a renda.

Os hóspedes foram comunicados ao longo do final de semana sobre a necessidade de realizarem o check-out do hotel até o final da tarde. Uma reunião com todas as equipes do hotel foi marcada para a manhã desta terça, mas o tema não foi adiantado. Às 9h, o presidente-executivo anunciou o fim do hotel. Funcionários que trabalhavam no hotel há décadas lamentaram à Folha o fim do empreendimento e as demissões próximas às festas de final de ano. ​

"Apesar do fechamento do Hotel, a HM Hotéis prosseguirá honrando seus compromissos firmados no processo de RJ, assim como arcará com a indenização integral de todos os colaboradores dispensados. Os clientes que tinham reservas futuras no Maksoud Plaza serão reembolsados", disse a empresa na nota.

A administradora divulgou ainda que continuará utilizando a marca Maksoud Plaza em empreendimentos futuros. Segundo Maksoud, o grupo tem imóveis avaliados em R$ 191 milhões, que serão vendidos para abater a dívida restante. Entre os imóveis estão os prédios inacabados dos hotéis que o grupo pretendia erguer em Bauru e Manaus e um terreno também em Manaus.

Localizado próximo à avenida Paulista (região central), o local contava atualmente com 416 apartamentos e já hospedou 3 milhões de pessoas, segundo a administração. Foi o primeiro cinco estrelas da cidade e referência na hospedagem de celebridades e autoridades.

Em sua época áurea, recebeu os Rolling Stones, Ray Charles e Frank Sinatra, que em 1981 apresentou-se no salão nobre. O prédio de design arrojado, que inaugurou os primeiros elevadores panorâmicos do país, também hospedou a então primeira-ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher, e os príncipes de Mônaco, Rainier e Albert.

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