O bitcoin atingiu sua menor cotação em seis meses no sábado (22), prolongando o forte declínio registrado na sessão anterior, quando o mercado de criptomoedas foi varrido por uma poderosa saída dos investidores de ativos especulativos.
O preço do maior token digital em valor de mercado caiu 4,3% na manhã de sábado na Europa, para US$ 35.127 (R$ 191.793,42), o nível mais baixo desde julho de 2021. O bitcoin agora perdeu quase um quarto de seu valor este ano.
Outras criptomoedas também estão sob intensa pressão de venda, com o índice Financial Times Wilshire dos cinco principais tokens, excluindo o bitcoin, em queda de 30% no primeiro mês de 2022.
A derrocada das criptomoedas ocorre no momento em que os investidores despejaram ações de empresas de tecnologia na expectativa de que o Federal Reserve dos EUA irá conter a política monetária expansionista adotada durante a pandemia para combater a inflação. As Bolsas globais registraram as maiores quedas em mais de um ano nesta semana, com as empresas de rápido crescimento, que impulsionaram a recuperação da profunda crise do coronavírus, sofrendo quedas intensas.
Os investidores agora preveem que o Fed, o banco central mais influente do mundo, aumentará as taxas de juros três ou quatro vezes neste ano, o que já elevou os rendimentos dos títulos. Rendimentos mais altos em ativos de baixo risco, como títulos do governo dos EUA, fazem que os potenciais retornos obtidos por meio de investimentos especulativos, como as criptomoedas, pareçam menos atraentes, dizem analistas.
Andrew Sullivan, diretor administrativo da Outset Global em Hong Kong, disse na sexta-feira (21) que a Ásia estava vendo "enormes volumes passando por vários mercados à medida que os investidores migram para o dinheiro vivo", com a queda das ações de tecnologia na região.
A forte venda de ativos digitais também ocorreu um dia depois de o banco central russo anunciar, na quinta, propostas preliminares que visam proibir todo o comércio e mineração de criptomoedas. Os regulamentos propostos também bloqueariam o investimento em criptomoeda pelos bancos e proibiriam qualquer troca de criptomoeda por moedas tradicionais na Rússia, um dos maiores centros mundiais de mineração de criptomoedas.
O banco central russo disse em um relatório de 36 páginas que o rápido aumento do valor das criptomoedas "é definido principalmente pela demanda especulativa por crescimento futuro, o que cria bolhas", acrescentando que "também têm aspectos de pirâmides financeiras, porque seu crescimento de preços é amplamente suportado pela demanda de novos participantes do mercado".
O anúncio inicialmente teve pouco impacto no bitcoin, que subiu até 3,7% em relação ao dólar na quinta-feira (20). Mas na tarde de sexta na Ásia a criptomoeda caiu mais de 10% em relação à alta do dia anterior, atingindo seu nível mais baixo desde agosto.
"Os reguladores russos estão frustrados [com a indústria de criptomoedas] há vários anos, e nenhum de seus avisos foi atendido", disse Vince Turcotte, diretor de vendas para a Ásia-Pacífico da Eventus Systems.
Ele acrescentou que a proposta russa, embora seja "relativamente mais dura", foi apenas o mais recente de uma série de anúncios sobre criptomoedas por reguladores de todo o mundo focados principalmente na proteção de investidores de varejo.
Turcotte comparou a situação na Rússia à da China antes de Pequim iniciar uma repressão mais forte à indústria. "Ninguém ouviu [as autoridades chinesas] até que elas realmente desceram o martelo", disse ele. No ano passado, a China declarou ilegais todas as atividades com criptomoedas.
Tradução de Luiz Robert M. Gonçalves
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