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Facebook perde US$ 251 bi e derruba ações em Wall Street

Bolsa brasileira tem queda leve com investidores focados em juros e commodities

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São Paulo

Um tombo histórico nas ações da Meta, a dona do Facebook, levou para o fundo o mercado acionário dos Estados Unidos nesta quinta-feira (3). No Brasil, investidores deram pouca atenção à turbulência no exterior e mantiveram foco na alta dos juros domésticos e nos rumos dos principais produtores de materiais básicos do país, como Vale e Petrobras.

Depois de divulgar uma queda de 8% nos lucros no quarto trimestre, a Meta teve suas ações pulverizadas em Wall Street nesta quinta. Os papéis da empresa afundaram 26,39%, na maior queda desde a abertura de capital da companhia em 2012.

Em um dia, o valor estimado de mercado da empresa caiu de US$ 898,5 bilhões (R$ 4,7 trilhões) para US$ 647,2 bilhões (R$ 3,4 trilhões). O prejuízo de US$ 251,3 bilhões (R$ 1,3 trilhão) equivale ao PIB (Produto Interno Bruto) de Portugal de 2021, segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, durante evento na Califórnia, nos EUA
Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, durante evento na Califórnia, nos EUA - Josh Edelson -1.mai.2018/AFP

A decepção dos investidores gerou uma liquidação generalizada de posições no setor de tecnologia. A Nasdaq, bolsa que concentra empresas desse segmento, despencou 3,74%.

Referência da Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 afundou 2,44%, interrompendo a recuperação iniciada nos últimos dias. O Dow Jones caiu 1,45%.

Analistas apontam a baixa tolerância dos investidores com as empresas de tecnologia como a explicação mais óbvia para o cenário registrado nesta quinta em Wall Street.

No momento em que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) se prepara para encerrar a política de estímulos criada no início da pandemia e tirar do zero as taxas de juros do país, companhias de tecnologias tendem a ser as mais afetadas devido à dependência desse setor por crédito barato.

Apesar de iniciarem 2022 no vermelho, as bolsas americanas quebraram recordes de ganhos em 2021, o que também estimula realizações de lucros quando ameaças de turbulência surgem no horizonte.

"O nível de perdão caiu", disse Daniel Genter, executivo-chefe da RNC Genter Capital Management ao The Wall Street Journal. "Quando os conselhos [de administração] chegam a seus acionistas para confessar seus pecados, eles simplesmente não serão perdoados com uma Ave Maria", comentou.

As ações negociadas na Bolsa de Valores brasileira mantiveram o viés negativo nesta quinta, dia seguinte à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central que confirmou a elevação de 1,5 ponto percentual dos juros básicos do país. Agora a taxa Selic é de 10,75% ao ano.

O Ibovespa, referência da Bolsa, cedeu 0,18%, a 111.695 pontos. O índice aprofundou, portanto, a correção iniciada na véspera, quando caiu 1,18%, após três semanas de ganhos quase diários. Caminho inverso tomou o câmbio. O dólar subiu 0,36%, a R$ 5,2950.

"O tombo do Facebook não afetou o mercado brasileiro porque há pouca relação entre o setor de tecnologia americano com o Brasil", comentou Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos. "A Bolsa respondeu muito mais à alta da Selic", disse.

Em tese, a alta dos juros no Brasil tende a favorecer a desvalorização da moeda americana, pois o país se torna mais atrativo a estrangeiros que buscam ganhos fáceis em renda fixa.

Analistas apontam, porém, que a manifestação do Copom na véspera indicou que a estabilização dos juros está próxima. Isso diminui a expectativa de perpetuação dos ganhos elevados com a Selic em alta.

"Apesar de não ter ainda sinalizado o fim do ciclo, acreditamos que o Banco Central deixa em aberto a possibilidade de finalizar o processo de alta de juros em março, com um aperto adicional de 100 pontos-base [1 ponto percentual]", disse Marcos Mollica, gestor do Opportunity Total.

Os juros dos contratos DI (Depósitos Interbancários) recuaram 0,22 ponto percentual nesta quinta, a 11,91% ao ano. Essa taxa, que é negociada entre os bancos, serve de referência para financiamentos e também reflete a expectativa do mercado de crédito sobre os rumos da taxa de juros do país no curto prazo.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, ressaltou que investidores também estão aproveitando as recentes baixas no mercado de câmbio para embolsar lucros. A venda de moeda, consequentemente, pressiona a alta do dólar.

A elevação da taxa de juros se faz necessária como medida de combate à inflação. O crédito mais caro retira dinheiro de circulação, diminuindo consumo e investimentos empresariais.

Os juros elevados também são um caminho para o Brasil desestimular a saída de capital rumo aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, onde a taxa de juros deve subir a partir de março. Evitar a escassez de dólares no Brasil impede altas exageradas da moeda americana, que também é fator de aceleração da inflação.

O barril do petróleo Brent subiu 1,62%, a US$ 90,92 (R$ 482). A commodity ronda a cotação mais alta desde 2014. A crise envolvendo uma eventual invasão da Ucrânia pela Rússia, um dos maiores produtores do mundo, e a insistência da Opep (organização dos países exportadores) em não acelerar a produção pressionam os preços.

A Petrobras caiu 1,38%, em um dia em que o noticiário gerou oscilações para os papéis da estatal.

Principal nome das pesquisas na disputa pela Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta que, em um eventual novo governo, não manterá o preço dos combustíveis vinculado ao dólar, como ocorre atualmente com a política de preços praticada pela Petrobras.

"Nós não vamos manter o preço dolarizado. Eu acho que os acionistas de Nova York, os acionistas do Brasil, têm direito de receber dividendos quando a Petrobras der lucro, mas é importante que a gente saiba que a Petrobras tem que cuidar do povo brasileiro", disse o ex-presidente em uma entrevista à Rede de Rádios do Paraná.

"Eu não posso enriquecer um acionista americano e empobrecer a dona de casa que vai comprar um quilo de feijão e paga mais caro por causa do preço da gasolina."

A política de preços dos combustíveis da Petrobras foi alterada no governo do ex-presidente Michel Temer. Sob alegação de que o controle de preços rígido implementado no governo da ex-presidente Dilma Rousseff gerou prejuízo para a estatal e inibia investimentos, passou-se a adotar uma política que acompanha o preço do petróleo no mercado externo, combinado com a variação do dólar, com reajustes frequentes.

Já a própria Petrobras informou que há possibilidade de pagar dividendos em nível "muito maior" do que no passado, após ter atingido o que considera um patamar de "dívida ótima", afirmou nesta quinta o diretor-executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Rodrigo Araujo.

Com leve queda de 0,05%, a Vale não repetiu as altas que potencializaram ganhos recentes do Ibovespa. O fornecimento de minério de ferro brasileiro para a China foi atrapalhado pelas fortes chuvas em janeiro, conforme destacou nesta quinta a agência Bloomberg.

Os contratos futuros da commodity, porém, seguem em alta em meio a expectativas de que um programa de estímulo econômico adotado por Pequim impulsionará a construção civil chinesa, aumentando a demanda por aço.

Com Reuters

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