A Bolsa de Valores brasileira interrompeu nesta quarta-feira (2) a trajetória de alta dos últimos dias. O Ibovespa recuou 1,18%, a 111.894 pontos. O dólar subiu 0,03%, a R$ 5,2760, ou seja, ficou praticamente estável.
A queda do índice de referência do mercado de ações ocorreu em meio à expectativa de investidores quanto à conclusão da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central sobre o aumento da taxa Selic.
Assim que o mercado fechou, a autoridade monetária comunicou o terceiro aumento consecutivo de 1,5 ponto percentual dos juros básicos do país, elevando a taxa para 10,75% ao ano.
Ao elevar o custo do crédito no país, o Copom reforça o combate à inflação por meio da retirada de dinheiro em circulação na economia.
Juros mais altos também aumentam a atratividade da renda fixa brasileira para investidores estrangeiros, o que diminui o risco de uma fuga de capital rumo aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, onde o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) se prepara para começar a elevar a sua taxa de juros.
Essa manobra, portanto, também visa evitar a escassez de dólares no Brasil. Isso tende a impedir altas exageradas da moeda americana, um dos fatores responsáveis por pressionar a alta da inflação.
Apesar do resultado desta quarta, o Ibovespa acumula altas em 2022. Alguns participantes do mercado atribuem essa situação a ajustes nas apostas para aumentos de juros nos Estados Unidos, em meio a dúvidas sobre quão longe o Federal Reserve irá em sua tentativa de domar a inflação.
No momento, a visão predominante é de que o banco central americano elevará os custos dos empréstimos em 0,25 ponto percentual em até cinco vezes ao longo deste ano, começando em março.
Isso, no geral, é visto como positivo para o dólar, já que juros mais altos elevariam a atratividade de se investir nos títulos soberanos dos EUA.
André Digiacomo, estrategista de juros e moedas para América Latina do BNP Paribas, afirmou, porém, que enxerga, no Brasil, fatores que poderiam proteger o real do impacto de eventual aperto monetário na maior economia do mundo.
"Além da alta da Selic, temos outros colchões: uma conta corrente em níveis mais sustentáveis, termos de troca melhores e preços altos das commodities", disse o estrategista do BNP.
A alta do petróleo é um dos componentes importantes da inflação global e, consequentemente, da elevação de juros nas principais economias. O barril do Brent subia 0,39%, a US$ 89,51 (R$ 472,64) no final desta tarde.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados liderados pela Rússia, um grupo conhecido como Opep+ e que produz mais de 40% da oferta global de petróleo, manteve sua meta de aumentos mensais de 400 mil barris por dia e justificou o aumento dos preços do petróleo pelo fracasso das nações consumidoras em garantir investimentos adequados em combustíveis fósseis à medida que mudam para energias mais verdes.
Os preços da commodity também estão pressionados por tensões entre Rússia e EUA. Washington acusa Moscou de planejar invadir a Ucrânia, o que a Rússia nega.
Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq avançaram 0,63%, 0,94% e 0,50% respectivamente.
Depois de ter fechado janeiro com o pior resultado mensal desde o início da pandemia devido à apreensão de investidores com a alta dos juros, o mercado de ações americano dá sinais de recuperação.
Analistas atribuem a recuperação aos balanços positivos do quarto trimestre de 2021 da maioria das 500 grandes empresas que fazem parte do S&P 500, índice de referência da Bolsa de Nova York.
Esse bom momento não significa o fim da volatilidade nos mercados de ações, segundo Luc Filip, chefe de investimentos do SYZ Private Banking.
"O foco se voltou claramente para os ganhos. Vimos resultados fortes de grandes empresas de tecnologia. Mas, em algum momento, podemos ter o sentimento voltando aos dados macro e ao Fed. Achamos que oscilaremos entre esses dois pontos", disse Filip, ao The Wall Street Journal.
Com Reuters
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