Como guerra afeta inflação e juros, startup de compra coletiva capta R$ 127 mi e o que importa no mercado

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Guerra deve gerar mais inflação e juros

As consequências da guerra na Ucrânia para a economia brasileira, com impacto mais significativo sobre combustíveis e alimentos, motivam um reajuste para cima nas expectativas do mercado para inflação e juros no país.

Entenda: mesmo antes do conflito, o mercado via uma inflação superando os 5% em 2022, estourando o teto da meta para o ano. Agora, os analistas estão ajustando suas estimativas, e há instituições, como a XP, projetando o IPCA acima de 6% ao fim do ano.

Mais inflação, mais juros: se em fevereiro o mercado apostava que a Selic subiria até 12% ao ano e começaria a recuar em dezembro, hoje economistas preveem que a taxa básica deve chegar a 12,75% ao ano, com o primeiro corte acontecendo só em 2023.

Banqueiros ouvidos pela Folha contam com um cenário de retração no crédito, inflação elevada, queda de renda, menos consumo e crescimento baixo.

Vai pesar no bolso: enquanto alas do governo travam uma queda de braço sobre sobre qual medida adotar para evitar a explosão nos preços dos combustíveis, a alta dos preços dos produtos agrícolas deve ser sentida em breve pelos consumidores, aponta a coluna Vaivém das Commodities.

  • Em itens como trigo, milho e óleo de soja, que têm na Ucrânia e Rússia dois grandes exportadores, a valorização já é percebida pelo mercado interno.
  • Com os compradores no Brasil relutantes em aceitar o repasse da alta global, os produtores locais têm optado pelo caminho da exportação.
  • Resultado: a oferta de trigo e milho no país deve ser reduzida, e os preços, elevados, segundo analistas e operadores do setor.
  • Outro insumo afetado pela guerra é o fertilizante. Agravada pelo conflito, a crise de adubo preocupava os produtores do país desde o ano passado, opina Pedro de Camargo Neto.

​Petróleo russo divide EUA e UE

O presidente americano Joe Biden anunciou nesta terça (8) a proibição das importações de petróleo e de gás russo para os EUA. Diferentemente das outras sanções, desta vez a União Europeia (UE) não foi pelo mesmo caminho.

Vladimir Putin, presidente russo, reagiu rápido e anunciou que vai proibir ou limitar o comércio de commodities russas com outros países até o fim deste ano. A lista de produtos e nações que serão afetados ainda não foi divulgada.

O que explica: Biden estava sendo pressionado pelo Congresso americano para banir as importações energéticas russas, que mal fazem cócegas ao consumo interno dos EUA. Para os países da Zona do Euro, porém, a história é diferente.

Representação de bomba e barris de petróleo diante de gráfico demonstrando alta dos preços
Representação de bomba e barris de petróleo diante de gráfico demonstrando alta dos preços - Dado Ruvic - 24.fev.2022/Reuters

Em números: Para a UE, Moscou fornece 40% do gás do bloco e um quarto de seu petróleo bruto, enquanto apenas 8% das exportações russas de petróleo vão para os EUA.

  • O Reino Unido, que também encerrará até o final do ano a importação de energia russa, é destino de 2% da commodity embarcada pelo país liderado por Putin.

Análise: decisão dos EUA leva os preços do petróleo para um novo patamar, mas não causa colapso, escreve o colunista Vinicius Torres Freire.

Repercussão nos mercados: o anúncio de Biden levou o barril do tipo Brent, referência internacional, a atingir o patamar de US$ 130 (R$ 662), se aproximando do topo histórico de 2008, de US$ 146 (R$ 748).

As ações da Petrobras, que haviam desabado 7% na véspera em reação à sinalização do governo em interferir na política de preços da companhia, recuperaram parte das perdas e subiram 2%.

Outros reflexos da disparada das cotações do petróleo:


Russos sem Mc e coca gelada

Grandes ícones do capitalismo ocidental engrossaram nesta terça a lista de empresas que suspenderam suas operações na Rússia.

McDonald’s, Coca-Cola e Starbucks, entre outras, informaram que não devem operar no país por tempo indeterminado.

Por que importa: as decisões acertam em cheio a classe média russa, mas o caso do McDonald’s é ainda mais simbólico.

  • No início de 1990, menos de três meses após a queda do Muro de Berlim, a franquia de fast food abriu sua primeira loja em Moscou, no que foi um marco da derrocada do império soviético, que chegaria ao fim no ano seguinte.
  • Na inauguração da loja, os moscovitas formaram filas gigantescas para visitar o restaurante; estima-se que cerca de 30 mil pessoas tenham entrado no McDonald’s só naquele dia.

Nem Coca, nem Pepsi: a PepsiCo, que tem na Rússia seu terceiro maior mercado consumidor, anunciou na segunda que também deixaria de operar no país.

Fila no primeiro McDonald's da Rússia, então parte da União Soviética, em janeiro de 1990
Fila no primeiro McDonald's da Rússia, então parte da União Soviética, em janeiro de 1990 - Alexander Steshanov/МАММ/Russian Photos

Startup de compra entre vizinhos recebe aporte

A Trela (ex-Zapt), startup de compras coletivas de alimentos entre vizinhos, anunciou nesta terça que recebeu um aporte de US$ 25 milhões (R$ 127, 2 milhões).

O investimento foi liderado pelo fundo do SoftBank focado na América Latina, e também teve participação de Kaszek, General Catalyst e Y Combinator, que já tinham participação na startup.

A empresa: fundada em 2020 com o nome de Zapt, a plataforma permite que vizinhos –geralmente de um mesmo condomínio– façam encomendas coletivas direto com os produtores pelo WhatsApp.

  • Por cortar intermediários, a startup afirma que os preços podem ser de 20% a 60% menores do que os encontrados em varejistas tradicionais.
  • O foco dos alimentos comercializados pela plataforma é em produtos "premium", de maior valor agregado. Como a compra é feita por vizinhos, o frete é grátis.

Por que importa: a Trela é mais uma empresa brasileira que aposta no formato de compras sociais, modelo que tem a chinesa Pinduoduo como referência global.

Outra brasileira desse ramo é a Facily, que se tornou um unicórnio (startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais) no fim do ano passado. Com foco no público de baixa renda, ela também aposta no corte de custos com a compra coletiva de produtos.

Com uma explosão de pedidos na pandemia, a empresa acumulou milhares de queixas no Procon por atraso nas entregas, e em novembro firmou um termo de compromisso com o órgão para indenizar consumidores e diminuir o número de reclamações.


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