Após 7 anos, André Esteves retorna oficialmente ao comando do BTG

Afastado em meio a uma crise em 2015, banqueiro deve ser eleito presidente do conselho neste mês

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São Paulo

Uma reunião prevista para o próximo dia 29 de abril deve sacramentar o retorno do banqueiro André Esteves ao comando do BTG Pactual.

A expectativa é que Esteves, que foi um dos executivos mais próximos do Planalto durante gestões petistas e chegou a ficar preso por um mês em 2015 no âmbito da Lava Jato, volte a ser —oficialmente— a principal figura à frente da instituição financeira, na posição de presidente do conselho de administração.

Nos últimos sete anos, enquanto sócios importantes saíram da empresa, o banqueiro de 53 anos, que nunca deixou de ter forte influência nos rumos da operação, veio preparando o terreno para o seu retorno. A absolvição por falta de provas, em julho de 2018, retirou obstáculos legais a essa ambição.

homem branco de cabelos pretos e óculos sentado em cadeira com os braços abertos
Banqueiro André Esteves, sócio-fundador do BTG Pactual - Tuane Fernandes - 14.jun.2021/Reuters

De uma família de classe média do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, o carioca iniciou a carreira no final dos anos 1980, quando entrou como analista de sistemas no Pactual, banco de investimentos do qual o ministro Paulo Guedes foi um dos fundadores.

Revelando um estilo agressivo de gestão nos negócios, em 1993 já havia se tornado sócio. Em 1998, fez parte do grupo que afastou o sócio-fundador e controlador do Pactual, Luiz César Fernandes.

Alguns anos depois, em 2006, o banco de investimentos foi vendido para o suíço UBS AG por cerca de US$ 3,1 bilhões, com Esteves alçado ao posto de chefe global de renda fixa.

Na época, houve relatos de que o banqueiro teria tentado galgar mais posições dentro da instituição financeira, mas acabou tendo seus planos frustrados pela chefia.

De volta ao jogo

Em 2008, ele optou então por sair do UBS para fundar o banco de investimento BTG.

O significado oficial da sigla é Banking and Trading Group (grupo de atividades bancárias e comerciais), mas no mercado circulam versões alternativas, como "Back to The Game" (de volta ao jogo) ou "Better Than Goldman" (melhor que o Goldman, em referência ao banco americano Goldman Sachs).

Um ano depois, se valendo da crise financeira global que fragilizou uma série de bancos internacionais, o BTG adquiriu o controle do UBS Pactual por US$ 2,5 bilhões, criando o BTG Pactual.

A recompra por um valor menor do que o Pactual havia sido vendido apenas três anos antes ajudou a formar a reputação de Esteves junto aos pares de mercado desde então.

"O André Esteves é agressivo nos negócios e tem uma personalidade que adere às pessoas ao seu redor. É muito inteligente e tem um diferencial em relação aos outros banqueiros por ser direto, simples e falar uma linguagem mais coloquial", diz João Frota Salles, analista do setor financeiro da Senso Investimentos.

Tendo como uma das principais referências no mercado a trajetória de Jorge Paulo Lemann, Esteves conduziu o banco por investimentos em áreas diversas, de redes de combustíveis a farmácias, passando por estacionamentos, montadoras de veículos e hospitais.

Negócios com o governo

Diferentemente de Lemann, contudo, que trilhou a carreira em grandes empresas do setor privado, Esteves se envolveu, e muito, com o setor público.

No início da década passada, o BTG Pactual investiu no Banco Pan, do apresentador Sílvio Santos, se tornando sócio da Caixa Econômica Federal no negócio. Em abril de 2021, o banco comprou a participação da estatal e passou a deter o controle de 100% do Pan.

"Banco de investimento deve investir", afirmou Esteves em entrevista à Folha no final de 2012, ano em que o BTG Pactual fez a abertura de capital (IPO) na Bolsa de Valores, levantando cerca de R$ 3,7 bilhões.

Com a descoberta do pré-sal, também foram feitos investimentos importantes no setor de óleo e gás, na empresa Sete Brasil, estruturada para fornecer sondas de exploração de petróleo à Petrobras, bem como em ativos da estatal na África.

A compra dos ativos no continente africano levou a uma investigação da CGU (Controladoria-Geral da União) pela suspeita de a venda ter sido fechada em valores bem abaixo do que as operações de fato valiam.

Por causa dos negócios com os governos petistas, Esteves acabou preso pela PF (Polícia Federal) em novembro de 2015, por suposta tentativa de obstrução de investigações da Operação Lava Jato referentes à Petrobras.

Na ocasião, também foi preso o então senador Delcídio do Amaral, líder do governo da ex-presidente Dilma Rousseff no Senado. A suspeita era que o dono do BTG Pactual teria buscado o senador para tentar interferir em depoimentos do ex-diretor da estatal, Nestor Cerveró.

Também foram levantadas à época suspeitas de suposto favorecimento ao banco mediante suborno pelo então deputado Eduardo Cunha, acerca de medidas tributárias que favoreceriam o investimento do BTG Pactual na massa falida do Bamerindus.

Crise de liquidez

O analista da Senso lembra que a prisão do banqueiro provocou uma grave crise de liquidez no banco, do qual Esteves era o presidente-executivo e também do conselho de administração.

"O BTG Pactual foi com muita sede ao pote ao fazer investimentos na área de petróleo junto com o governo", diz Salles.

Nas horas e nos dias seguintes à detenção, investidores sacaram alguns bilhões de reais em investimentos junto ao banco, o que inclusive causou questionamentos sobre a sustentabilidade da operação.

O BTG Pactual chegou a ser multado em R$ 6,5 milhões pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por suspeita de manipulação das ações, na tentativa de conter a forte desvalorização dos papéis, que caíram mais de 20% no dia do anúncio da prisão.

Os esforços para apagar o incêndio envolveram ainda a venda de carteiras de crédito de boa qualidade e de uma participação na Rede D´Or, além da demissão de funcionários.

Esteves foi afastado do grupo de controle do BTG Pactual na esteira das investigações e o economista e sócio-fundador Pérsio Arida assumiu a presidência do conselho de administração —​um dos idealizadores do Plano Real, Arida deixou o banco em 2017.

Apesar do baque inicial, o BTG Pactual contornou relativamente bem a crise na percepção dos analistas.

"A saída do André Esteves naquele momento foi necessária, até porque a imagem do banco ficou muito arranhada. O que não quer dizer que as pessoas lá dentro deixaram de tê-lo como um farol e o principal líder do negócio", diz Luis Miguel Santacreu, analista do setor financeiro da Austin Rating.

Desde que deixou a prisão, em dezembro de 2015, o ex-CEO iniciou uma gradual retomada da rotina na instituição, processo facilitado por sua absolvição, em julho de 2018.

Em dezembro do ano passado, os últimos trâmites legais e burocráticos no Brasil e nos países em que o banco opera no exterior foram finalizados, abrindo caminho para oficializar sua volta como um dos principais sócios.

Na reunião de 29 de abril, o executivo deve ser reconduzido formalmente ao cargo de presidente do conselho de administração. Ele irá substituir o ex-ministro do governo Lula e ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim, que entrou em julho de 2016 para ajudar no trabalho de governança e seguirá com assento no conselho.

Diversificação de receitas

Governança à parte, os negócios para o banco têm sido generosos. Em 2021, a instituição financeira obteve um lucro líquido recorde de R$ 6,3 bilhões, o que representa um aumento nominal de quase 60% ante 2020, animando analistas quanto às perspectivas para o desempenho das ações. Os papéis do BTG Pactual têm uma valorização de aproximadamente 20% no acumulado do ano, até 22 de abril.

Segundo Santacreu, da Austin, com a compra da totalidade do Pan e a plataforma BTG Digital, o banco tem procurado aumentar a diversificação das fontes de receita. Com uma presença crescente entre o público de varejo, passou a rivalizar com antigos parceiros como a XP, diz o analista.

"Acreditamos que o BTG Pactual pode entregar resultados resilientes a despeito dos riscos do cenário macro, dado o crescimento nas áreas de gestão de recursos (asset) e de patrimônio (wealth management) e nos empréstimos corporativos", afirmam os analistas do banco americano Goldman Sachs.

Procurado para comentar sua volta ao conselho, Esteves preferiu não dar entrevista.

Em evento no final de fevereiro, o banqueiro afirmou que há aspectos positivos a serem considerados em relação aos dois principais candidatos à frente nas pesquisas de intenção de votos para as eleições.

"A gente deve não votar em quem não entender a evolução institucional do Brasil e em quem não ama o Brasil e não entende aquilo que deu certo e deu errado do ponto de vista econômico", afirmou.

Grupo dos 7 hoje tem 5 sócios

Sete sócios passaram a deter o controle do BTG Pactual com o afastamento de André Esteves, um grupo que ficou conhecido como G7.

Nele estavam Roberto Sallouti, no banco desde 1994, e Marcelo Kalim, que assumiram um mandato conjunto na chefia executiva, no final de 2015, além do economista Pérsio Arida, que assumira a presidência do conselho de administração no auge da crise.

Hoje o G7 é formado por quatro integrantes remanescentes —Sallouti, Antonio Porto, Guilherme Paes e Renato Santos— e por André Esteves.

Kalim deixou o banco para montar o C6 Bank com outros ex-sócios do BTG, em 2018, um ano depois da saída de Arida. Em 2016 havia saído James Oliveira, para montar a gestora Vinland Capital.

"O risco de imagem pesou um pouco, mas acredito que não o suficiente para motivar a saída dos sócios. Acho que foi mais por causa de oportunidades de criar novos negócios. Em bancos com a característica de 'partnerships' [sociedade], a rotatividade é imensa e não surpreende", afirma Salles, da Senso.

"De toda forma, não é também que saíram todos os sócios mais experientes e só ficou um pessoal júnior. Continuam executivos muito importantes, como o próprio Roberto Sallouti, que liderou o banco logo após a prisão do Esteves", diz Santacreu, da Austin.

Linha do tempo

1983 Fundação da Pactual DTVM

1989 André Esteves entra no banco como analista de sistemas

1998 Sócio-fundador Luiz César Fernandes é afastado por grupo de Esteves

2006 Venda do Pactual para o UBS AG por US$ 3,1 bilhões

2008 Esteves deixa o banco e funda o BTG

2009 Venda do UBS Pactual para o BTG por US$ 2,5 bilhões

2011 BTG Pactual compra participação no Banco Pan

2012 Abertura de capital (IPO) na Bolsa de Valores

2015 André Esteves é preso por suspeitas de obstrução da Lava Jato

2018 Executivo é absolvido das acusações

2022 Banqueiro deve ser conduzido à presidência do conselho do BTG Pactual

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