Descrição de chapéu Financial Times

Grandes investidores têm maior volume de dinheiro parado desde o 11 de setembro

Pesquisa do Bank of America mostra alocações mais altas para o saldo de tesouraria e queda forte na exposição a ações de tecnologia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Chris Flood
Financial Times

O saldo de tesouraria das administradoras de fundos internacionais subiu ao seu valor mais alto desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, uma mudança que reflete a preocupação dos grandes investidores quanto à deterioração nas perspectivas dos mercados de ações.

Os saltos de tesouraria subiram em média 6,1%, nos portfólios das alocadoras mundiais de ativos, de acordo com o Bank of America, que conduziu uma pesquisa com 288 profissionais de investimento que, juntos, supervisionam US$ 833 bilhões em ativos para fundos de pensão, seguradoras, administradores de ativos e fundos de hedge.

A opção por manter dinheiro parado –que tipicamente ganha força em períodos nos quais a aversão a riscos aumenta– coincide com um enfraquecimento significativo nas expectativas quanto aos resultados das grandes empresas.

Operadores da Bolsa de Nova York trabalham enquanto, na televisão, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, fala dos juros - Brendan McDermid-22.set.2021/Reuters

Em maio, 66% dos administradores de fundos disseram antecipar que os lucros mundiais cairiam, o que se compara aos resultados registrados em outros períodos de crise, como a implosão do banco Lehman Brothers em 2008 e o estouro da bolha da internet em 2000.

Michael Hartnett, estrategista chefe de investimento do Bank of America, disse que o sentimento entre os investidores era "extremamente negativo", com 13% dos administradores de fundos optando por reduzir suas posições de ações, ante os 6% que optaram por elevar o peso das ações em suas carteiras em abril.

Os analistas de Wall Street vinham revisando para mais as suas projeções sobre os lucros das grandes empresas americanas desde janeiro deste ano, e Hartnett disse que qualquer pequena boa notícia poderia resultar em uma recuperação temporária do mercado. Mas ele também acautelou que "a maior baixa" das ações ainda não tinha sido atingida, com o índice MSCI All Country World, um indicador internacional, registrando queda de quase 17% em termos de dólares do começo do ano para cá.

O índice US Nasdaq Composite caiu em quase 25% do começo do ano para cá, e causou uma depressão no mercado, com os investidores abandonando empresas de tecnologia antes fortemente cotadas.

Os administradores de fundos internacionais vêm mantendo exposição alta às ações de tecnologia há 14 anos, mas em maio essa situação se inverteu e 12% deles reduziram o peso das ações de tecnologia em suas carteiras.

"É a maior aposta contra a tecnologia desde agosto de 2006", disse Hartnett.

O banco Goldman Sachs elevou o peso do saldo de tesouraria em sua carteira e na segunda-feira reduziu as ações a uma posição "neutra", em sua recomendação trimestral.

Christian Mueller-Glissmann, estrategista do Goldman Sachs em Londres, disse que os investidores teriam de ver um "pico convincente" da inflação –que está em sua marca mais alta dos últimos 40 anos, nos Estados Unidos– antes que o apetite por risco se estabilize.

"As ações agora apresentam correlação negativa com as expectativas inflacionárias, o que significa que os investidores estão mais preocupados com os riscos de inflação e seu impacto sobre as ações", disse Mueller-Glissmann.

Richard Dunbar, diretor de pesquisa de ativos múltiplos da Abrdn, uma administradora de ativos de Edimburgo, disse que a inflação alta e persistente estava alimentando dúvidas sobre se o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, deveria evitar jogar a economia americana em uma recessão a fim de restaurar a estabilidade de preços.

"Os investidores ainda não embutiram uma recessão nos Estados Unidos em seus preços, mas há crescente pessimismo sobre a capacidade do Fed de encontrar a posição de política monetária ideal para conseguir uma aterrissagem suave para a economia americana", disse Dunbar.

Tradução de Paulo Migliacci

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.