Quem é Adolfo Sachsida, o novo ministro da Energia

Economista se diz bolsonarista, mas já sinalizou que não há como interferir diretamente na Petrobras

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Brasília

O novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, é um autoproclamado bolsonarista e assume a pasta em meio à escalada dos preços dos combustíveis que desafia a tentativa de reeleição do presidente da República.

Apesar de o movimento poder gerar apostas de que o novo ministro intervirá na Petrobras em nome do bolsonarismo, Sachsida já deu sinais de que pode ter uma postura diferente daquela adotada pelo presidente.

O principal exemplo da diferença de comportamento foi na crise de Covid-19. Em um primeiro momento (em novembro de 2020), o então secretário do ministro Paulo Guedes (Economia) pareceu próximo ao negacionismo da crise sanitária ao apostar que seria baixíssima a possibilidade de uma nova onda do coronavírus no país —o que se revelou um erro crasso, baseado em premissas infundadas.

Adolfo Sachsida, ministro de Minas e Energia - Mateus Bonomi - 24.jul.2020/Folhapress

"Vários estados já atingiram ou estão próximos de atingir imunidade de rebanho", disse Sachsida, na época. "Acho baixíssima a probabilidade de segunda onda. Não apenas isso. Acho que os dados que temos mostram algo concreto, que é a força da retomada econômica", afirmou o então secretário.

Como se sabe hoje, os casos de Covid não só voltaram a aumentar como atingiram seu ápice no ano seguinte. No auge da crise sanitária, o país registrou mais de 4.000 mortes por dia e viu sua atividade econômica enfraquecida pela necessidade de distanciamento social.

Após uma enxurrada de críticas, Sachsida pediu desculpas menos de dois meses após sua declaração e passou a defender que as melhores políticas econômicas para o país naquele momento seriam três: "vacina, vacina e vacina".

As declarações repaginadas eram dadas mesmo contrastando com Bolsonaro, que continuava na linha "o cara que entra na pilha da vacina, só vacina, é um idiota útil", insistia que não tomaria nenhuma dose e repetia que os imunizantes produziam efeitos colaterais.

Nos combustíveis, Sachsida já compartilhou com interlocutores (ao menos, antes de virar ministro) a visão de que o governo não tem como interferir diretamente na política de preços da Petrobras —em contraste com a postura de Bolsonaro, que pressiona a empresa contra os reajustes e já chamou os aumentos de "estupro".

A visão entre colegas é que o plano para combustíveis seria executado de outra forma —já que o time faz críticas de maneira reservada à política de preços da Petrobras, mas vê pouca margem de manobra. Para integrantes da pasta da Economia, caso a decisão de Bolsonaro fosse por mais aventuras no estilo subsídio para combustíveis (a que Guedes continua resistindo), outro nome seria indicado.

O entendimento na equipe econômica é que, no longo prazo, Sachsida contribuiria para o plano de permitir a futura quebra do domínio da Petrobras sobre o mercado.

De forma mais imediata, a interlocução entre governo e Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) sobre eventuais medidas voltadas à petroleira pode ser reforçada. O órgão investiga a Petrobras e seus reajustes por possíveis condutas anticompetitivas.

Apesar da preocupação com os combustíveis, membros da Economia dizem que a missão imediata de Sachsida é outra. Ele deve comandar com mais convicção o processo de privatização da Eletrobras no momento em que Guedes teme que o processo seja inviabilizado pela demora e a consequente perda da janela de oportunidade na Bolsa.

Além da venda em si, o governo ainda tenta executar um complexo mecanismo para fazer com que o processo da Eletrobras segure as tarifas de energia —o que também pode complicar a venda.

Em meio a tantas discussões, Guedes reclamava do distanciamento exibido pelo antigo ministro da área de Energia, Bento Albuquerque, e da necessidade de a Economia ter que entrar em campo na área vizinha.

Sachsida entrou no governo via Ministério da Economia por ordem de cima, antes mesmo de Guedes definir sua equipe —como o próprio titular da equipe econômica já falou. Apesar disso, se mostrou um fiel discípulo das ideias de Guedes (a quem reverencia em quase todas as declarações públicas).

Além de trabalhar em diferentes medidas microeconômicas na pasta de Guedes, Sachsida era visto por colegas como o melhor porta-voz do Ministério da Economia. Ao mesmo tempo em que mostrava adesão às reformas do antigo chefe, acenava ao público bolsonarista agradecendo pelo apoio do presidente e comemorando as conquistas "com a graça de Deus".

Sachsida é servidor de carreira do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), órgão vinculado à Economia, há 21 anos (hoje, está licenciado). Entrou no governo de Jair Bolsonaro em 2019 como secretário de Política Econômica, embora desde 2018 já participasse das reuniões do governo de transição.

Tornou-se chefe da assessoria especial de Assuntos Econômicos de Guedes com a missão de auxiliar mais diretamente o ministro e ajudá-lo no levantamento de dados e na comunicação. Com o tempo, passou a ser citado por Bolsonaro em discursos.

Participou da elaboração de medidas microeconômicas como a Lei de Garantias, o marco legal dos cartórios, de medidas de crédito e trabalhou na preparação dos saques extraordinários do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

Formado em economia pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), tem doutorado em economia pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutorado pela Universidade do Alabama, nos Estados Unidos. Mais recentemente, em 2015, se formou também em direito.

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