Clientes rejeitam produtos relacionados ao fim da escravidão nos EUA

País vive o primeiro grande impulso para comercializar o Juneteenth

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Arriana McLymore
Nova York | Reuters

As lojas de roupas Kohl's estão oferecendo regatas e camisetas cinza, verde e vermelho com a frase "Juneteenth 1865" –feriado nacional nos Estados Unidos, que celebra a emancipação dos afro-americanos escravizados– para adolescentes e meninos por US$ 23,99 (R$ 123,55).

A JCPenney.com espera atrair compradores com dezenas de painéis para parede com desenhos abstratos e silhuetas de mulheres negras, com preços de US$ 60 (R$ 309) a US$ 160 (R$ 824) cada um.

No primeiro grande impulso para comercializar o Juneteenth, comemorado pelos afro-americanos há gerações em 19 de junho, como o dia em 1865 em que um general da União informou a um grupo de escravizados no Texas que eles estavam livres, vários grandes varejistas estão lançando mercadorias especiais.

Americanos se reúnem no St. Nicholas Park para celebrar o feriado que celebra o fim da escravidão - Eduardo Munoz - 18.jun.2021/Reuters

Mas alguns produtos, de tops de algodão com bandeiras dos EUA em vermelho, amarelo e verde a acessórios para jardins com slogans como "Liberdade", estão causando a reação de compradores que acusam os varejistas de explorar a data para lucrar, depois que o presidente Joe Biden transformou 19 de junho em feriado nacional em 2021.

Em maio, a loja de departamentos Walmart começou a comercializar um novo sorvete "Juneteenth Celebrated Edition" de cheesecake e red velvet, até que surgiram reclamações no Twitter, levando a empresa a removê-lo.

"Acabei de ver o sorvete Pride e Juneteenth no Walmart, acho que estamos no lugar errado", postou um usuário no Twitter em 11 de junho.

O Walmart disse em um comunicado em maio que a empresa "recebeu comentários de que certos artigos causaram preocupação em alguns de nossos clientes". A loja pediu desculpas e disse que removerá os itens conforme apropriado.

O Walmart.com também vende uma série de livros infantis sobre a história do Juneteenth, além de dezenas de camisetas.

A Dollar Tree também atraiu críticas nas redes sociais em maio por vender decorações festivas do Juneteenth em cores não tradicionais. As decorações são fabricadas por vendedores que não são descendentes de escravos, de acordo com a Assembleia Nacional dos Descendentes da Escravidão Americana, grupo de defesa que apoia reparações para descendentes de negros americanos escravizados. A Dollar Tree não retornou imediatamente um email solicitando comentários.

Promoção de vendedores

Connie Ross, vice-presidente e presidente de diversidade, equidade e inclusão da consultoria Empower, disse que o Walmart e outras marcas devem usar o feriado para promover fornecedores negros.

"O Juneteenth não nasceu de uma história bonita, mas com o tempo as pessoas encontrarão uma maneira de associá-lo a algo positivo", disse Ross. Ela espera que mais empresas "suavizem" o significado do Juneteenth, evitando suas conexões com a história da escravidão.

Liz Rogers, que é negra e fundadora dos sorvetes Creamalicious, vendidos no Walmart, na Target e na Kroger, disse que nenhum de seus clientes de varejo a contatou para parcerias ou eventos do Juneteenth, e que ela muitas vezes tem que convencer as empresas para ter lugar em suas prateleiras.

A diretora de merchandising das lojas de departamentos JCPenney, Michelle Wlazlo, disse que a empresa está doando o lucro líquido das vendas de sua mercadoria Juneteenth para a Unity Unlimited, organização sem fins lucrativos que diz ajudar as comunidades a "superar a divisão racial e cultural". Segundo Wlazlo, a JCPenney analisa o feedback dos clientes, feriados tradicionais e outros fatores para determinar eventos promocionais.

Brian Packer, da agência de publicidade Golin, disse que as marcas que desejam explorar o Juneteenth devem encontrar maneiras de promover os produtos e serviços feitos por pessoas dessas comunidades. Ele disse que é mais complexo do que "colocar um punho do Black Power em alguma coisa".

Alternativamente, também pode haver problemas com mensagens muito sutis. Na área de perguntas sobre produtos da Galeria de Arte de Obras-Primas de US$ 30 (R$ 153,92) da JCPenney.com, uma tela emoldurada do Juneteenth com uma série de formas laranja contra um fundo branco, uma pessoa perguntou: "O que isso tem a ver com Juneteenth?"

A Target, cuja sede fica em Minneapolis, onde George Floyd foi morto pela polícia, reconheceu o Juneteenth em 2020 como um feriado anual oficial da empresa após a disseminação de protestos nacionais contra a brutalidade policial. A empresa forneceu recursos internos detalhando a história do Juneteenth e uma lista de eventos comunitários para os funcionários participarem. Os trabalhadores também podem tirar o dia de folga ou trabalhar ganhando horas extras, segundo informou.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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