Descrição de chapéu Financial Times União Europeia

Crise de energia afeta fabricantes de bebidas na Alemanha

Falta de dióxido de carbono, usado para dar gás em bebidas e encher garrafas, faz fabricantes alertarem sobre falências

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Martin Arnold
Financial Times

A escassez de dióxido de carbono está fazendo com que os fabricantes de bebidas alemães reduzam a produção e alertem sobre falências, no mais recente sinal de como a crise energética da Europa está causando ondas de choque na economia da região.

"Cada vez mais empresas do setor de bebidas que dependem da disponibilidade de CO2 estão tendo que reduzir significativamente sua produção ou suspendê-la completamente", disse Holger Eichele, chefe da associação de cervejarias alemãs, ao Financial Times. "Para muitas das empresas afetadas, isso tem consequências drásticas."

Escassez de CO2 aumentou nos últimos meses e afeta produção de cerveja - Ina Fassbender/AFP

O gás é uma matéria-prima importante para as empresas de bebidas, pois é usado para adicionar bolhas a águas e refrigerantes e para encher e esvaziar garrafas, barris e tanques de cerveja sem que esta forme espuma ou sofra efeitos de sabor pelo contato com o ar.

A escassez de CO2 —um subproduto da produção de amônia— vem se agravando há meses, à medida que os preços recordes do gás levam a indústria de fertilizantes a reduzir a produção.

Mas a situação se agravou na Alemanha há duas semanas, quando o maior produtor de amônia e ureia do país, SKW Piesteritz, interrompeu a produção em resposta a um novo imposto que causará mais aumentos do preço do gás.

Isso fez com que os fornecedores de CO2 para a indústria de alimentos e bebidas declarassem motivo de "força maior" por não entregarem pedidos regulares, levando muitos fabricantes de bebidas a correr para encontrar suprimentos alternativos.

Eichele disse que apenas 30% a 40% dos suprimentos usuais de CO2 estão disponíveis no mercado alemão e que são vendidos "a um custo imenso". O preço do CO2 disparou para quase 3.500 euros (R$ 17.791,90 ) por tonelada, contra 100 euros por tonelada há um ano (R$ 508,34 pelo câmbio atual).

"Recebemos novos pedidos de ajuda da indústria todos os dias", disse ele, instando o governo a "tomar medidas em curto prazo para garantir um fornecimento preferencial de dióxido de carbono a preço acessível para a produção de alimentos e bebidas para a infraestrutura crítica da indústria alimentícia."

A associação dos cervejeiros alemães, juntamente com entidades que representam fabricantes de sucos de frutas, água mineral e bebidas no atacado, publicou uma declaração conjunta na sexta-feira (16) alertando que "sem uma intervenção rápida do governo e sem ajuda efetiva centenas de empresas e milhares de funcionários perderão seus meios de subsistência na indústria de bebidas alemã".

Eles disseram que é "geralmente impossível" para os fabricantes repassar seus custos mais altos devido ao poder de negociação das grandes redes de supermercados e do aperto nos gastos dos consumidores com as contas de energia crescentes.

Os órgãos de comércio também alertaram de que o fechamento da fábrica da Piesteritz os atingiu de outras maneiras, causando uma escassez de AdBlue, ingrediente importante para o diesel, fazendo com que seu preço subisse e elevando os custos para os operadores de transporte rodoviário.

"A escassez de recursos, matérias-primas e materiais –por exemplo, AdBlue– está assumindo proporções ameaçadoras", disseram. "Empresas do setor de transporte já cancelaram inúmeros pedidos que se tornaram não lucrativos e fecharam temporariamente partes da frota."

Eichele disse que a escassez de CO2 está afetando mais as cervejarias menores, já que as maiores geralmente captam o excesso de gás produzido no processo de fabricação e o reutilizam. Ele também disse que não há risco de a crise levar à produção de cerveja sem gás, acrescentando: "Os produtores de refrigerantes como Coca-Cola precisam de CO2 para fazer seu produto efervescer –nossa cerveja efervesce automaticamente".

A fábrica da Piesteritz está em processo de reinício da produção depois de buscar ajuda do governo e alertar que "receia pela competitividade internacional da Alemanha como local de negócios nessas condições".

Os preços do gás no atacado na Europa caíram 44% em relação ao recorde do mês passado, mas, a 190 euros (R$ 965,84) por megawatt-hora, continuam quase seis vezes mais altos do que um ano atrás.

Isso levou alguns fabricantes com uso intensivo de energia a reduzir a produção ou até mesmo suspendê-la, causando uma queda de 2,3% na produção industrial da zona do euro entre junho e julho –sua maior queda mensal desde o início da pandemia em 2020.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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