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Semana de temor nos mercados piora com tombo da FedEx

Após susto da inflação, investidor vê queda de entregas como sinal de recessão

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São Paulo

Mercados mundiais chegaram ao final desta semana sob o impacto de novas notícias que reforçaram o temor de que a inflação nos Estados Unidos poderá obrigar o país a elevar juros ao ponto de provocar um tombo da economia mundial nos próximos meses.

Depois do susto do início da semana com um índice de preços ao consumidor americano surpreendentemente alto, o novo símbolo do medo da recessão foi o tombo de mais de 20% das ações da FedEx na sessão desta sexta-feira (16) na Bolsa de Nova York.

Caminhão da FedEx, a Federal Express, em estrada em San Diego, no estado americano da Califórnia
Caminhão da FedEx, a Federal Express, em estrada em San Diego, no estado americano da Califórnia - Mike Blake - 22.ago.2014/Reuters

Gigante do ramo de entrega expressa de correspondência, documentos e objetos, a companhia americana Federal Express informou na véspera ter sofrido uma rápida queda nos volumes de embarque nas últimas semanas à medida que as tendências macroeconômicas pioraram.

Há dois motivos para a preocupação com essa informação. O primeiro é que as ações da FedEx são um porto seguro do mercado americano. Na comparação com as ações brasileiras quanto à resistência em momentos de volatilidade, os papéis da FeDex se equivalem aos de "uma grande companhia de saneamento ou energia" da Bolsa do Brasil, explica Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.

"A FedEx é uma ação defensiva, que não sofre tanto com a chegada de uma recessão", diz Borsoi.

Mas o que é ainda pior para o mercado é perceber o esfriamento de uma atividade —entrega de mercadorias em escala global— que serve de termômetro para os negócios. Isso oferece evidências de que a economia mundial pode estar em terreno instável, disseram analistas ao The Wall Street Journal.

Um dos efeitos imediatos do agravamento desse temor é a saída de dólares dos mercados emergentes, como o brasileiro, em direção a aplicações consideradas seguras, como os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Dólar salta e Ibovespa cai

O dólar comercial subiu 0,40% no câmbio brasileiro nesta sexta, cotado a R$ 5,26. Com a alta registrada neste pregão, a moeda americana avançou 2,19% nesta semana.

"A semana termina com pressão na nossa moeda, e também sobre outras de países emergentes, e o principal motivo dessa aversão ao risco é a preocupação com a desaceleração da economia global por conta da alta de juros nos Estados Unidos e na Europa", afirma Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.

O mau humor também respingou nas ações domésticas. Referência da Bolsa de Valores do Brasil, o índice Ibovespa caiu 0,61% no dia, aos 109.280 pontos.

No fechamento da semana, o indicador tombou 2,69%. O mercado acionário do país ainda acumula alta de 4,25% neste ano.

Em Wall Street, os principais indicadores do mercado americano fecharam em baixa. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq perderam 0,45%, 0,72% e 0,90%, respectivamente. Um fechamento diário ruim para uma semana péssima.

No acumulado dos últimos cinco dias, o Dow Jones, que acompanha o desempenho de 30 das maiores empresas dos EUA, afundou 4,13%. Já o S&P 500, parâmetro para as ações negociadas em Nova York, desmoronou 4,77%.

Investidores estiveram ainda mais tensos no encerramento desta semana diante da perspectiva de uma forte alta dos juros de referência nos Estados Unidos. O Fed (Federal Reserve, banco central americano) divulgará na próxima quarta-feira (21) um novo ajuste na sua taxa.

Até a semana passada, o mercado esperava uma alta entre 0,50 e 0,75 ponto percentual. Mas agora há a expectativa para uma elevação entre 0,75 e 1 ponto percentual.

Perspectivas sobre os juros pioraram após a divulgação na última terça-feira (13) de que a inflação nos EUA subiu 0,1% em agosto, acumulando 8,3% em 12 meses.

Analistas de mercado esperavam que o CPI, sigla em inglês para índice de preços ao consumidor, mostrasse deflação de 0,1% no mês e, no acumulado em 12 meses, queda de 8,5% para 8,1%.

Provocada pela quebra das cadeias de abastecimento durante a pandemia e agravada pela Guerra da Ucrânia, a inflação é um problema para as principais economias.

Na zona do euro, a inflação atingiu recorde de 9,1% em agosto, confirmou o escritório de estatísticas da União Europeia Eurostat nesta sexta. A alta foi impulsionada pela disparada de preços de energia e alimentos, informou a agência Reuters.

Embora especialistas reconheçam a necessidade de elevação dos juros para evitar uma disparada ainda maior nos preços, a persistência da inflação vai impondo um cenário em que os juros podem subir ao ponto de provocar uma grave recessão com potencial de se espalhar pelo globo.

Na Alemanha, principal economia da região, a Bolsa de Frankfurt terminou o dia com queda de 1,66%. No acumulado semanal, houve perda de 2,65%.

Libra renova menor valor desde 1985

Sinais de fraqueza da economia levavam a libra a renovar seu nível mais baixo em relação ao dólar desde março de 1985, marca que vem sendo rebaixada com frequência conforme indicadores do Reino Unido confirmam a desaceleração.

Desta vez, dados mais fracos do que o esperado sobre as vendas no varejo do Reino Unido amplificaram as preocupações de que o país estava caminhando para uma recessão prolongada, reportou o Financial Times.

A libra chegou a cair cerca 1% nesta sessão, oscilando abaixo da marca de US$ 1,14, antes de se recuperar ligeiramente e terminar o dia valendo US$ 1,1419 (R$ 6,04).

A quantidade de bens comprados no Reino Unido caiu 1,6% em agosto, revertendo uma pequena expansão no mês anterior.

Esta foi uma queda maior do que a previsão de contração de 0,5% por economistas consultados pela Reuters e a maior queda desde julho de 2021, quando as restrições impostas pela Covid-19 foram suspensas.

Olivia Cross, economista da Capital Economics, disse ao Financial Times que os números sugerem "que o momento de queda está ganhando velocidade" e apoiam sua visão de que "a economia já está em recessão".

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