É preciso olho para o social e para o equilíbrio fiscal para evitar incerteza, diz Campos Neto

Presidente do BC afirma ser 'normal' que se aumente o ruído durante o período de transição de governo

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira (11) que é preciso ter um olho no social e outro no equilíbrio das contas públicas para o país não retornar para um cenário de incerteza. Para ele, essa equação tem de ser resolvida pelo novo governo eleito.

Segundo o chefe da autoridade monetária, a camada mais vulnerável da população será a mais afetada em caso de irresponsabilidade fiscal, o que geraria impacto negativo no setor produtivo e na geração de empregos.

"A gente precisa ter, de um lado, olho para social, a gente entende que a pandemia deixou muitas cicatrizes, mas precisa ter também um olho para o equilíbrio fiscal", afirmou Campos Neto em evento da CFA Society Brazil sobre o cenário econômico.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, em evento em Brasília - Adriano Machado - 25.mai.22/Reuters

"No final das contas, se a gente não tiver equilíbrio fiscal, a gente volta para mundo de incerteza, onde a expectativa de inflação sobe, você desorganiza o setor produtivo em termos de investimento e, no final, quem sofre mais com isso é exatamente a população que você quer ajudar, porque você machuca a geração de emprego", continuou.

Campos Neto disse também que o mercado financeiro começou a entender que uma parcela dos programas que foram concebidos como temporários devem se tornar permanentes, aumentando os gastos públicos. A incerteza em relação ao arcabouço fiscal também provocou uma piora na percepção dos economistas sobre a economia brasileira.

Na quinta-feira (10), os investidores reagiram negativamente após discurso do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o descontentamento contribuiu para a queda de 4% do Ibovespa, índice referência da Bolsa de Valores brasileira, aos 108.964 pontos. O dólar comercial à vista disparou 4,08% e fechou cotado a R$ 5,3960, na venda.

Em seu discurso, o presidente eleito questionou "por que pessoas são levadas a sofrer para garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país?". "Por que toda hora as pessoas dizem que é preciso cortar gasto, que é preciso fazer superávit, que é preciso ter teto de gastos? Por que a gente não estabelece um novo paradigma?".

O presidente do BC falou sobre a demonstração da sensibilidade dos mercados em relação ao fiscal e mostrou cautela. "Foi um ajuste de expectativa por uma interpretação que [o mercado] teve, que a gente não sabe ainda se ela é verdadeira ou não. Acho que a gente precisa esperar e ver, tem bons economistas no time. Precisamos ver o que vai sair", disse.

Para Campos Neto, é "normal" que se aumente o ruído no período de transição do governo. "A gente tem de esperar e ver como vai ser a consolidação disso, aí a gente vai trabalhar. O Banco Central está aberto para trabalhar com o governo novo. Tenho conversado com algumas pessoas, mas ainda muito incipiente. Acho que a gente precisa esperar", comentou.

O presidente da autoridade monetária contou que ainda não teve muito contato com a equipe de transição, mas que tem conversado "de tempos em tempos" com Persio Arida, um dos pais do Plano Real e um dos coordenadores do grupo técnico de economia, ao lado André Lara Resende, Nelson Barbosa e Guilherme Mello. Ele destacou que "grandes economistas" apoiaram no período eleitoral o governo que acabou vencendo o pleito.

Na quinta, em Brasília, Lula ironizou a reação negativa do mercado financeiro a suas críticas ao teto de gastos e à política de austeridade fiscal. Ele afirmou nunca ter visto um mercado "tão sensível" como o brasileiro.

"O mercado fica nervoso à toa. Nunca vi o mercado tão sensível como o nosso. É engraçado que esse mercado não ficou nervoso em quatro anos de [Jair] Bolsonaro (PL)", respondeu.

Campos Neto, que tem mandato até 2024, vê a transição de governo como um período importante para a consolidação da autonomia do Banco Central, em vigor desde fevereiro de 2021.

"Qualquer mudança institucional passa por testes. A autonomia do Banco Central é muito nova, acho que é um teste importante, mas foi uma autonomia votada com ampla maioria no Congresso, judicializada e teve apoio muito grande no STF [Supremo Tribunal Federal], acho que a autonomia segue", afirmou.

"É importante que eu fique nesses dois anos para mostrar que a autonomia funciona. Mas o Banco Central é técnico, vai trabalhar com o governo novo e tentar cooperar no máximo que for possível. Nosso trabalho é para melhorar a vida dos brasileiros", continuou.

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