Com alta de preços de passagens, viagens corporativas recuperam receita

Bilhetes tiveram alta de 23,53% ao longo do ano de 2022, contra alta de 5,79% do IPCA

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São Paulo

O segmento de viagens corporativas recuperou o nível de faturamento pré-pandemia, embora esteja levando 20% menos passageiros do que antes, apontam dados da Abracorp.

A entidade, que reúne as empresas do setor, aponta que o segmento de viagens a trabalho movimentou R$ 1,06 bilhão em novembro de 2022, ante R$ 967 milhões no mesmo mês de 2019.

No acumulado de 2022, o faturamento somou R$ 11,2 bilhões. O valor foi quase o triplo de 2021, quando os ganhos ficaram em R$ 4,3 bilhões. Cerca de dois terços desta receita vem de bilhetes aéreos.

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Movimentação de passageiros no Aeroporto Internacional de Brasília (DF) - Raul Spinassé - 11.mar.21/Folhapress

No entanto, o faturamento anual de 2022 ainda está bem abaixo do valor pré-pandemia em termos reais. Caso a receita de 2019 tivesse sido corrigida pela inflação registrada desde então, representaria hoje R$ 17,8 bilhões.

O setor tem levado menos passageiros: em novembro de 2022, foram emitidos 20% a menos de bilhetes aéreos para viagens corporativas do que no mesmo mês de 2019. Assim, a recuperação do faturamento ocorreu porque as viagens estão custando mais caro do que antes, especialmente as passagens de avião.

Em 2022, estes bilhetes tiveram alta de 23,53% ao longo do ano, segundo dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), enquanto a taxa de inflação total teve alta de 5,79%. A alta do preço dos combustíveis é tida como a principal razão dessa alta.

"O primeiro ponto que o cliente considera é o custo da passagem. Se estiver cara, ele nem vai procurar outras coisas, como o hotel", considera Gervásio Tanabe, diretor-executivo da Abracorp.

O setor de turismo ainda enfrenta problemas trazidos pela pandemia, como a reposição de mão de obra que foi dispensada ou pediu demissão e casos de grandes clientes que renegociaram contratos durante a pandemia e passaram a pagar menos.

"A gente usou recursos externos para poder manter as operações [durante a pandemia], e agora estamos pagando estes empréstimos. Os clientes precisam entender isso", pede Tanabe.

A pandemia também trouxe algumas mudanças nas viagens corporativas. Com o aumento do uso de reuniões por vídeo, representantes do setor notam uma queda nas viagens de curta duração e em destino às capitais.

Segundo dados da Abracorp, os voos para São Paulo, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte representavam 35% dos trajetos corporativos em 2019. No fim de 2022, eram 28%.

"Isso é um sinal de que houve uma redução de viagens aéreas nos trechos mais curtos. Uma primeira leitura indica que os clientes podem estar optando por outros modais nestes trechos, como a locação de veículos", aponta Tanabe.

Os dados da entidade apontam ainda um aumento no uso de ônibus rodoviários e de locação de carros para viagens empresariais, que praticamente dobraram, e de forte queda na busca por cruzeiros e bilhetes ferroviários.

"O que move o mundo corporativo não são as viagens individuais. Alguém dificilmente vai voar só para uma reunião de uma hora no Rio. Mas as grandes feiras, congressos e convenções voltaram com força", avalia Leonel Andrade, presidente da CVC Corp.

Estes grandes eventos são planejados com meses de antecedência. Como a Covid registrou uma alta de casos no começo de 2021, muitas empresas adiaram planos de fazer eventos no segundo semestre daquele ano. Em 2022, após uma queda mais contundente do número de contágios, mais organizadores se sentiram confiantes para marcar grandes ações presenciais em 2023.

Neste mês de janeiro, São Paulo e Rio de Janeiro seguem como os destinos mais buscados para viagens de negócios, especialmente por concentrarem muitas feiras setoriais e as sedes de grandes companhias, segundo a CVC. Mais conhecida pelas viagens de lazer, a empresa também atende ao público corporativo no modo B2B: intermedia a compra de passagens e hospedagens para outras agências.

Ao mesmo tempo, cidades mais turísticas, como Salvador e Gramado (RS) têm buscado atrair mais eventos corporativos, como forma de manter a ocupação dos hotéis em momentos de baixa temporada, fugindo da sazonalidade típica de destinos que bombam no verão ou no inverno. O plano é que isso ajude a ampliar o faturamento de restaurantes e outros serviços locais.

"É muito raro alguém viajar a trabalho e não aproveitar alguma atração do local, como sair para comer ou ir a um teatro", lembra Andrade.

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