Descrição de chapéu Banco Central

Padilha diz que desconhece debate no governo sobre mudar meta de inflação

Ministro afirma que convite para ida de Roberto Campos Neto ao Congresso não pode ser tabu

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Brasília

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), disse nesta quinta-feira (9) que desconhece debate no governo sobre mudança da meta de inflação.

"Desconheço qualquer discussão nesse sentido no âmbito do governo", disse o ministro a jornalistas na Câmara dos Deputados.

Padilha ainda afirmou que esse tipo de assunto é tratado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). "Das reuniões que tive com presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto], em nenhum momento isso foi trazido para mim", afirmou.

O agora ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha (PT) e o presidente Lula (PT), durante evento da transição, em dezembro - Ueslei Marcelino - 22.dez.22/Reuters

As atuais metas são 3,25% em 2023 e 3% em 2024 e 2025, com margens de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criou expectativa sobre mudanças nos números quando fez declarações no mês passado, considerando exageradamente baixos os percentuais.

"Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando faz isso, é preciso arrochar mais a economia para atingir aquele 3,7%. Por que precisava fazer 3,7%? Por que não faz 4,5%, como fizemos [nos mandatos anteriores]? A economia brasileira precisa voltar a crescer", afirmou Lula à GloboNews, em 18 de janeiro.

Em entrevista à Folha, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse que a meta de inflação é "inexequível". Na visão do governo Lula, também é necessária a redução nas taxas de juros —hoje a Selic está no patamar de 13,75% ao ano.

Questionada se as decisões de presidente do BC, Roberto Campos Neto, são tomadas de forma a deliberadamente prejudicar o projeto político de Lula, a petista respondeu: "Eu só posso entender que é uma decisão política, porque não encontra respaldo na realidade econômica do país. É uma meta de inflação inexequível".

Notícias sobre uma intenção da equipe econômica de antecipar a revisão das metas de inflação fizeram o dólar subir ante o real nessa quinta. O ponto central do debate é se a eventual mudança teria os efeitos esperados, já que a elevação do alvo poderia transmitir a mensagem de um governo mais leniente com a alta de preços.

A meta de inflação é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), formado pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e por Campos Neto. Formalmente, a definição do objetivo depende dos três votos.

No cronograma habitual do CMN, o tema é discutido nas reuniões de junho, com três anos de antecedência. Em 2023, por exemplo, a previsão é definir a meta de inflação a ser buscada em 2026 e ratificar a de anos anteriores. Mas o assunto pode ser colocado em discussão antes de junho, caso seja pautado por um dos integrantes do colegiado.

A primeira reunião do CMN está prevista para 16 de fevereiro, após o encontro de janeiro ter sido cancelado por ausência de deliberações a serem avaliadas ou aprovadas, segundo os órgãos envolvidos. De acordo com membros da equipe econômica, a pauta já está definida, sem a discussão sobre metas de inflação. Nada impede, porém, que o tema venha a ser incluído.

Campos Neto já disse em ocasiões anteriores que uma eventual mudança de metas futuras não é uma decisão que cabe somente à autoridade monetária, ressaltando que uma medida nesse sentido não traria ganhos para a atuação no combate à inflação.

"O BC tem 1 voto dentro de 3 do CMN. Isso pode ser debatido no CNM, mas a opinião do BC hoje é que teria pouco a ganhar em termos de credibilidade", disse o presidente da autoridade monetária em março de 2022.

Padilha afirmou também nesta quinta que não pode existir "tabu" sobre convidar Campos Neto para dar explicações ao Congresso Nacional sobre a taxa de juros.

Ele disse que o presidente da instituição deve prestar contas. O ministro, porém, afirmou que o governo não interfere em mobilizações de congressistas para chamá-lo ao Legislativo.

"O governo, quando quer conversar com o presidente do Banco Central, convida, dialoga", disse Padilha.

Nos últimos dias, Lula tem feito duras críticas ao presidente do BC. Ele disse nesta semana que a atual taxa básica de juros do país, a Selic, é uma vergonha.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve, no dia 1º de fevereiro, a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela quarta reunião consecutiva –a primeira desde que Lula tomou posse.

A autarquia ainda sinalizou que deve deixar os juros no patamar atual por mais tempo –o mercado financeiro previa até então o início do afrouxamento monetário em setembro.

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