Descrição de chapéu Governo Lula Banco Central

Campos Neto está do lado de Bolsonaro e meta de inflação é inexequível, diz Gleisi

Presidente do PT afirma que é preciso falar com população para ônus de juros altos não ficar no colo de Lula

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Brasília

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, está do lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e afirmou que a meta de inflação é inexequível.

A petista defendeu ainda que a política monetária obedeça à linha defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"O presidente do Banco Central declarou seu voto em Bolsonaro. O presidente do Banco Central estava em um grupo de ministros de Bolsonaro até há pouco tempo. Então ele tem um lado. Lado de Bolsonaro. Foi nomeado por ele. Ele não demonstrou a sua autonomia, sua independência política, por esses fatos. Quando o banco tem a decisão de manter as taxas nos níveis atuais, joga contra o Brasil", disse Gleisi em entrevista à Folha.

Nos últimos dias, Lula tem feito duras críticas a Campos Neto. Ele afirmou nesta semana que a atual taxa básica de juros do país, a Selic, é uma vergonha. "Não existe justificativa nenhuma para que a taxa de juros esteja em 13,50% [ela está na verdade em 13,75%]. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro", disse Lula.

A presidente do PT Gleisi Hoffmann, durante cerimônia de encerramento dos grupos de trabalho da transição de governo, em dezembro - Pedro Ladeira-13.dez.2022/Folhapress

Ele também já classificou a autonomia do Banco Central como uma "bobagem" e chamou Campos Neto de "esse cidadão".

Gleisi defende que, em meio à pressão de Lula, Campos Neto se adapte.

"O presidente Lula é presidente do Brasil. Tem direito e dever de falar sobre todos os assuntos. Não pode ser tolhido disso. Nós, como partido, achamos que está errada a política que está sendo implementada, que essa política monetária tem que ser mudada. Eu acho que o Conselho Monetário Nacional tem que se reunir, tem que reorientar as metas. E o Banco Central tem que cumprir", afirmou a presidente do PT.

Segundo ela, a discussão levantada neste momento pelo partido e por Lula não é sobre a autonomia do Banco Central e o mandato dos integrantes do órgão –apesar de o PT ter votado contra o projeto de autonomia do BC.

"Estamos discutindo a implementação de uma política que não é a vitoriosa nas urnas. A política monetária do Bolsonaro foi derrotada. Ganhou o Lula", declarou Gleisi.

O presidente Lula durante cerimônia de posse de Aloísio Mercadante para a presidência do BNDES, no Teatro do BNDES, no Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Questionada se as decisões de Campos Neto são tomadas de forma a deliberadamente prejudicar o projeto político de Lula, a petista respondeu: "Eu só posso entender que é uma decisão política, porque não encontra respaldo na realidade econômica do país. É uma meta de inflação inexequível".

O tema entrou no radar porque Lula criticou publicamente as metas fixadas para os próximos anos —os alvos são 3,25% em 2023 e 3% em 2024 e 2025, com margens de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Na visão de Lula, a redução nas taxas de juros é necessária para que o país apresente um crescimento econômico mais elevado e, com isso, haja mais abertura de novos empregos.

Por isso, o PT quer expor os efeitos que, na visão do partido, são gerados pelas decisões do Banco Central.

"A população tem que saber o que está acontecendo no país, porque senão isso vai ficar no colo do presidente", disse Gleisi.

O discurso dela –e de aliados mais próximos de Lula– é que Campos Neto tem que ir ao Congresso explicar as decisões da política monetária e os efeitos delas na economia.

Petistas preparam um requerimento para que o presidente do Banco Central seja ouvido pelo Senado –Casa responsável pela aprovação do nome dele para o cargo.

"Antes, tinha um juro muito baixo, de 2% [ao ano]. Agora tem um juro muito alto de 13,75% [ao ano]. Quer dizer que não tem equilíbrio, não tem mediação. E ainda diz que vai deixar o juro [nesse patamar] até o final do ano. Com base em quê?", afirmou a presidente do partido.

Questionado se Campos Neto terá que deixar o cargo caso insista na política monetária atual, Gleisi respondeu que, "se ele insistir nisso, a permanência dele tem que ser avaliada".

Ela declarou ainda que os próximos diretores do Banco Central –haverá duas vagas– serão indicados por Lula.

"Os diretores a partir de agora vão ser indicados pelo presidente Lula obviamente que ele vai indicar diretores que ele acha que ele têm a competência e a capacidade para estar no Banco Central. Vão passar pelo Congresso Nacional e orientados numa política monetária que foi vitoriosa nas urnas para fazer o país crescer e gerar emprego", afirmou Gleisi.

O PT diz, pela lei de autonomia do Banco Central, Campos Neto poderia ser demitido por "insuficiência do resultado".

Membros da diretoria podem deixar o cargo quando apresentarem desempenho insuficiente para alcançar os objetivos do BC, com decisão do presidente da República e sendo necessário o aval do Senado em votação secreta.

Gleisi disse que o debate sobre a permanência do presidente do Banco Central não pode ser interrompido, e deve ocorrer se não houver alteração na política monetária.

Para a presidente do PT, as reações do mercado financeiro diante das declarações de Lula sobre os juros no Brasil são exageradas. "Acho o mercado muito exagerado. Não tem porquê, o Brasil é um país que tem muita estabilidade econômica".

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