Reabertura da China garante mais crescimento, mas sem retorno a nível pré-Covid, diz Credit Suisse

Avaliação é do economista-chefe para a Ásia, David Wang

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São Paulo

A decisão da China de acelerar o fim de sua política de Covid zero mostra que o foco das autoridades do país voltou a ser o crescimento econômico. A retomada neste ano, no entanto, não representará um retorno dos principais motores da economia asiática aos níveis pré-pandemia.

Essa é a avaliação do economista-chefe da Ásia do Credit Suisse, David Wang. Ele diz não esperar um forte aumento na demanda chinesa de commodities por conta da reabertura e vê um crescimento mais focado na recuperação da demanda interna por serviços que sofreram restrições com a pandemia.

O banco elevou a projeção de crescimento do PIB chinês neste ano de 4,5% para 5,1%, uma aceleração em relação aos 3% do ano passado, o segundo pior resultado em 50 anos. O crescimento anual deve chegar a 6,3% no segundo trimestre deste ano, mas desacelerar até algo entre 4% e 4,5% em 2024.

Executivo em pé em no corredor do escritório
O economista-chefe da Ásia do Credit Suisse, David Wang - Divulgação

Segundo Wang, o ritmo e a forma da reabertura da China surpreenderam. "Prevíamos que em algum momento deste ano a China deixaria a política de zero-Covid. Mas isso aconteceu pelo menos dois meses antes do que havíamos previsto inicialmente, e a reabertura foi menos coordenada do que antecipamos", afirma o economista em entrevista à Folha.

Ele avalia que o 1º trimestre de 2013 ainda será afetado pelo aumento das infecções, principalmente por causa das viagens do feriado do Ano Novo chinês. Já o segundo trimestre deverá registrar forte aceleração do crescimento, seguida por uma desaceleração gradual nos quatro trimestres seguintes.

"Estamos um pouco cautelosos em relação à magnitude da recuperação no primeiro trimestre", afirma o economista. "O vírus não se comportará de maneira tão diferente na China em comparação com o resto do mundo, em estágios semelhantes de reabertura. Com o Ano Novo Chinês, o maior episódio de migração no mundo, haverá provavelmente outra onda."

Segundo o economista, o segmento imobiliário deixará de ser um entrave ao crescimento do país. O banco projeta um crescimento do investimento no setor de 3,6% neste ano, depois da queda de 10% em 2022. Mesmo com essa recuperação, provavelmente não haverá um retorno da construção ao nível pré-pandemia.

De acordo com Wang, a abertura da China aumentará a demanda doméstica, especialmente dos serviços prestados às famílias. O crescimento real do consumo deve ficar em 4%, após queda de 0,2% no ano passado. Apesar da recuperação, o indicador também não deve retornar ao nível anterior à pandemia de mais de 6%.

A fraca demanda externa também deve pesar sobre a importação chinesa de bens intermediários e sobre as exportações do país.

O economistas afirma que a recuperação chinesa, mesmo que semelhante em magnitude, pode parecer diferente para o resto do mundo, com um aumento menor na demanda por commodities, dada a fraqueza do setor de construção.

Em relação a alimentos, Wang diz que, para garantir que a China tenha a segurança alimentar de que precisa, será necessário aumentar a dependência da importação desses produtos, um mercado no qual o Brasil é um dos principais fornecedores.

"Haverá alguma recuperação da renda disponível, e isso vai se traduzir em recuperação parcial do consumo, sobretudo dos serviços. Mas o consumo de serviços não é facilmente transmissível para a esfera internacional", disse o economista.

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