Descrição de chapéu Financial Times

Colapso do SVB força revisão de taxas de juros nos EUA e atinge ações de bancos

Goldman Sachs prevê que Fed pausará aumentos de taxas este mês devido ao estresse no sistema

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Katie Martin George Steer
Londres | Financial Times

A falência do Silicon Valley Bank atingiu os mercados globais, com os investidores revendo suas previsões de novos aumentos das taxas de juros e liquidando ações de bancos do mundo todo.

Os preços dos títulos do governo dos Estados Unidos dispararam nesta segunda-feira (13), registrando algumas das maiores altas desde a crise de 2008, enquanto os gestores de fundos aumentavam as apostas de que o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) deixará as taxas de juros inalteradas em sua próxima reunião de política monetária, marcada para este mês, para estabilizar o sistema financeiro global. Ainda na semana passada, os mercados se preparavam para mais um aumento de 0,5 ponto percentual.

Enquanto isso, as ações dos bancos caíram fortemente. O índice bancário europeu Stoxx caiu 5,7%, levando seu declínio desde meados da semana passada para pouco mais de 11%, com todas as 22 ações do índice em território negativo. Vários credores sofreram quedas de dois dígitos somente na segunda, incluindo o austríaco Bawag Group e o alemão Commerzbank. O Banco Sabadell, da Espanha, caiu mais de 9%.

Logo da SVB (Silicon Valley Bank) - Dado Ruvic - 13.mar.2023/Reuters

Os contratos futuros que acompanham o S&P 500 de Wall Street e o Nasdaq 100, de tecnologia, subiam 0,2% e 0,6% antes da abertura de Nova York, depois que os reguladores dos EUA disseram no domingo (12) que os depositantes do SVB seriam totalmente reembolsados e revelaram medidas de financiamento de emergência na tentativa de conter as consequências. No Reino Unido, o Banco da Inglaterra negociou um acordo para vender o braço britânico do SVB ao HSBC por uma libra esterlina (R$ 6,35).

Mas os contratos futuros de grandes bancos americanos caíram cerca de 2% e os investidores estavam escolhendo nomes mais fracos. As ações do First Republic, outro banco com sede em San Francisco, caíram até 68% nas negociações pré-mercado, depois de anunciar no domingo que receberia US$ 70 bilhões (R$ 362 bilhões) em financiamento do JPMorgan e do novo plano de apoio do Fed.

Enquanto os índices em Nova York sobem na tarde desta segunda (13), o Ibovespa fechou em queda. O índice de referência do mercado acionário brasileiro caiu 0,50%, a 103.105 pontos. O dólar comercial à vista fechou em alta de 1,16%, a R$5,26.

A falência do SVB e o fechamento do Signature Bank ocorreram apenas alguns meses após a rápida crise dos títulos do governo do Reino Unido, destacando os riscos ocultos no sistema financeiro que estão surgindo à medida que os bancos centrais removem a generosidade que protegeu os mercados após o surgimento da pandemia de Covid-19. Investidores e analistas disseram que os formuladores de políticas do Fed e de outros lugares precisariam ser cautelosos enquanto tentam conter a inflação.

"A situação do SVB é um lembrete de que os aumentos do Fed estão tendo efeito, mesmo que a economia tenha resistido até agora", disse Mark Haefele, diretor de investimentos do UBS Global Wealth Management, em nota aos clientes. "As preocupações com os ganhos e balanços dos bancos também contribuem para o sentimento negativo em relação aos [...] mercados acionários."

Os mercados futuros mostram que os investidores acreditam que o banco central dos EUA vai moderar os aumentos das taxas de juros a partir de agora, apesar do lembrete do presidente do Fed, Jay Powell, há uma semana, de sua determinação em reduzir a inflação e apesar dos dados de sexta-feira (10) mostrando que a economia dos EUA criou 311 mil empregos, contra os 225 mil previstos por economistas.

Os dados da Refinitiv mostram que os traders veem uma probabilidade de 15% de que o banco central dos EUA deixe as taxas inalteradas no final deste mês. As expectativas de um aumento de 0,5 ponto evaporaram, deixando cerca de 85% de probabilidade de que o Fed opte por aumentar as taxas de juros em 0,25 ponto percentual para uma meta entre 4,75% e 5%.

O Goldman Sachs disse na segunda (13) que não espera mais nenhum aumento na reunião do Fed que termina em 22 de março, "à luz do recente estresse no sistema bancário".

Os investidores também reduziram suas apostas em quanto o Banco Central Europeu aumentará sua taxa de depósitos ainda este ano, para pouco acima de 3,5%, abaixo do pico de 4,2% na semana passada.

O abalo nos mercados de títulos foi substancial. O rendimento dos títulos de dois anos sensíveis à taxa de juros da Alemanha despencou 0,48 ponto percentual, para 2,62%, na segunda-feira, com os mercados de títulos subindo acentuadamente em resposta às expectativas cada vez menores de novos aumentos nos custos de empréstimos. A taxa caiu da alta de 14 anos de 3,3% que atingiu na semana passada, mostrando como os investidores reavaliaram suas expectativas de taxas desde o colapso do SVB.

Nos EUA, o rendimento referencial dos títulos do governo de dez anos caiu 0,16 ponto percentual, para 3,54%. O rendimento do Tesouro de dois anos caiu 0,25 ponto percentual, para 4,33%.

George Saravelos, estrategista do Deutsche Bank, disse que o pacote de resgate do SVB do Fed, que inclui uma oferta para absorver a dívida do governo e títulos lastreados em hipotecas a preços acima do mercado, representa uma nova forma de flexibilização quantitativa –o programa de compra de títulos a que os formuladores de políticas dos EUA recorreram após a pandemia para estabilizar o sistema financeiro.

"Tanto a velocidade quanto o ponto final do ciclo de caminhada do Fed devem diminuir", disse Saravelos. "Aprendemos duas coisas nos últimos dias. Primeiro, que esse ciclo de aperto da política monetária está operando com defasagem, como todos os outros. Em segundo lugar, esse ciclo de aperto agora será amplificado devido ao estresse no sistema bancário dos EUA."

Michael Every, analista do Rabobank, disse que as implicações do "resgate do Fed aos capitalistas de risco do Vale do Silício que financiam filtros do Instagram que fazem gatos parecerem cachorros" são potencialmente "enormes".

"O Fed está de fato permitindo uma flexibilização maciça das condições financeiras, bem como um risco moral crescente", disse ele em nota aos clientes.

Moedas com bom desempenho em tempos de estresse também se recuperaram. O iene japonês e o franco suíço subiram cerca de 1% em relação ao dólar.

O rápido colapso do SVB tornou os participantes do mercado "mais conscientes novamente de que o Fed acabará quebrando alguma coisa se continuar aumentando as taxas", disse Lee Hardman, analista de câmbio do MUFG.

O colapso do banco também "desinflou as velas do dólar americano", destacando os riscos associados ao aumento das taxas, acrescentou Hardman. Uma medição da força do dólar em relação a uma cesta de seis pares internacionais caiu 0,6% na segunda.

Colaborou Martin Arnold, em Frankfurt. Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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