Nos Estados Unidos e no mundo, esta semana começou sob os impactos do colapso do SVB (Silicon Valley Bank). Na última sexta-feira (10), o 16º maior banco americano, com US$ 209 bilhões em ativos, foi à falência e passou para o controle de órgãos reguladores do país.
A falência do SVB é a maior do setor bancário americano desde a crise financeira de 2008.
O fim de semana foi marcado pelo anúncio de um pacote de socorro pelas autoridades dos EUA, mas ainda há uma série de pendências, entre elas encontrar um comprador para a instituição financeira.
Em meio a perdas bilionárias de bancos, o mercado reviu suas expectativas para a taxa de juros. Agentes passaram a apostar que o Fed (o banco central do país) fará uma pausa na sequência de aumentos devido ao estresse no sistema, o que também poderá impactar os juros no Brasil.
Entenda o que levou ao colapso do SVB e quais as principais consequências para a economia global até o momento.
O que é o SVB?
O Silicon Valley Bank foi fundado há 40 anos no Vale do Silício, polo tecnológico mundial localizado na Califórnia (EUA), e se tornou uma solução para startups. Essas empresas novatas precisam de dinheiro para crescer, mas têm dificuldade para obter crédito nas instituições financeiras maiores. O SVB abocanhou uma grande fatia desse mercado e se tornou o 16º maior banco dos EUA.
Por que a instituição quebrou?
Os anos de 2020 e 2021, no auge da pandemia de Covid-19, foram marcados por juros praticamente zerados nos EUA, o que impulsiona investidores a buscarem ativos de risco. Isso elevou o investimento em startups e alavancou o crescimento do próprio SVB. Os depósitos no banco aumentaram 86% em 2021.
O jogo começou a virar no ano passado, quando o Fed passou a subir os juros para tentar controlar a maior inflação registrada nos EUA em 40 anos. Como consequência, os investidores deixaram as startups de lado e priorizaram títulos do governo, que são mais seguros e passaram a ter maior rendimento.
Para manter suas operações, as empresas começaram a sacar o que tinham no SVB e deixaram o banco em situação delicada.
Isso porque a instituição havia apostado alto em títulos de longo prazo. Eles eram considerados seguros no auge do boom tecnológico, mas, com a alta dos juros, passaram a valer US$ 15 bilhões a menos do que quando o SVB os comprou. Para compensar os saques, o banco vendeu parte desses títulos mesmo com prejuízo bilionário na última quarta-feira (8).
Na tentativa de recuperar as perdas, a instituição comunicou que iria emitir ações, o que fez os papéis despencarem 60% na quinta (9).
A falência foi consumada na sexta (10), quando startups e fundos correram para tirar mais dinheiro do banco, e os pedidos somaram US$ 42 bilhões. Assim, os órgãos reguladores do sistema financeiro dos EUA decidiram tomar o controle do SVB.
Quais foram os primeiros impactos da falência no mercado financeiro?
O SVB não é um banco de grande porte. Para efeitos de comparação, ele controlava US$ 209 bilhões em ativos, enquanto a maior empresa do setor, o JPMorgan Chase, controla mais de US$ 3 trilhões.
A maior preocupação para o sistema financeiro está na possibilidade de que clientes de outros bancos, especialmente os regionais, também corram para sacar seus depósitos, o que geraria um efeito cascata. No domingo, o banco nova-iorquino Signature, que tem como clientes escritórios de advocacia, teve a falência anunciada.
Os movimentos levaram a uma perda de mais de US$ 100 bilhões em valor de mercado por bancos dos Estados Unidos nos últimos dias.
Nesta segunda (13), ações de instituições financeiras caíram fortemente pelo mundo, e os preços de títulos do governo dos Estados Unidos dispararam.
Como as autoridades americanas reagiram ao colapso?
No domingo (12), os Estados Unidos anunciaram que todos os clientes do Silicon Valley Bank e do Signature poderão sacar seus depósitos integralmente —havia uma preocupação porque os recursos são cobertos pela seguradora federal até o valor de US$ 250 mil, ou seja, não havia garantia de que clientes que detivessem saldo acima desse valor seriam ressarcidos.
O Fed também anunciou a criação de um programa emergencial para instituições financeiras, garantindo que elas possam atender às necessidades de saques dos clientes. O programa de US$ 25 bilhões oferecerá empréstimos de um ano a bancos, cooperativas de crédito e outras instituições elegíveis.
O presidente americano, Joe Biden, elogiou as medidas no domingo e disse estar "firmemente comprometido com a responsabilização dos culpados por essa bagunça e com a continuidade dos nossos esforços para fortalecer o monitoramento e a regulação de bancos maiores".
Nesta segunda, Biden tentou garantir aos americanos que o sistema bancário é seguro e que os depósitos deles estarão disponíveis "quando precisarem".
O plano gerou uma onda de alívio no Vale do Silício, mas ainda há dúvidas sobre o ambiente de financiamento para startups no país —e cerca de 90% dos clientes da instituição têm depósitos acima do limite do seguro do governo, de US$ 250 mil. Além disso, o SVB ainda não encontrou um comprador.
Já as principais criptomoedas se estabilizaram. O USD Coin, também conhecida como USDC, recuperou-se para US$ 0,99, acima de uma baixa recorde de US$ 0,87 atingida no sábado. A meta pretendida em relação ao dólar é de 1:1. A queda foi provocada por preocupações com a exposição da Circle, empresa que emite a stablecoin, ao SVB.
Quais as perspectivas para a taxa de juros nos EUA e no Brasil?
A falência do SVB levou gestores de fundos a aumentarem as apostas de que o Fed deixará as taxas de juros inalteradas (entre 4,5% e 4,75% ao ano) na próxima reunião de política monetária, marcada para este mês. O objetivo seria estabilizar o sistema financeiro global. Na semana passada, os mercados se preparavam para mais um aumento de 0,5 ponto percentual.
"A situação do SVB é um lembrete de que os aumentos do Fed estão tendo efeito, mesmo que a economia tenha resistido até agora", disse Mark Haefele, diretor de investimentos do UBS Global Wealth Management.
Nesta segunda, houve queda nas taxas de juros negociadas nos mercados americano e brasileiro. A expectativa para os juros nos EUA ao final de 2023 recuou de aproximadamente 5,5% para a casa dos 4,5% ao ano.
A curva de juros no Brasil já indicava a aposta em um corte na taxa básica na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central no final de junho. A expectativa era que o BC ainda manteria a Selic nos atuais 13,75% ao ano nas duas reuniões até lá, em março e maio. Agora, aumentou a aposta em uma antecipação desse corte.
De que forma o governo brasileiro tem reagido à crise?
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda que o governo ainda avaliava se o BC terá que tomar alguma providência.
Embora reconheça a gravidade da situação, Haddad afirmou que "aparentemente" o episódio não vai desencadear uma crise sistêmica. O ministro, contudo, reconhece que ainda não é possível estimar o tamanho do problema.
"A ação do Fed ao longo do final de semana foi positiva, garantindo os depositantes. Essa é a primeira providência que a autoridade monetária tem para evitar uma corrida bancária", disse o ministro.
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