Descrição de chapéu Banco Central

Vemos politização de linguagem 'muito técnica' do Copom, diz Campos Neto

Presidente do BC rebate pressão do governo Lula por redução de juros

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Brasília

Em meio à pressão por redução dos juros, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, rebateu nesta quinta-feira (30) as críticas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizendo que o trabalho da autoridade monetária é "puramente técnico" e que tem visto uma politização da linguagem usada pelo Copom (Comitê de Política Monetária).

Na quarta-feira da semana passada (22), o Copom manteve a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano –o maior patamar desde o fim de 2016. O tom do comunicado divulgado logo após a reunião foi classificado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) como "muito preocupante" e criticado por Lula e outros membros do primeiro escalão do governo.

"A gente começa a ver mais recentemente uma politização do que é uma linguagem muito técnica de ata do Copom. Quem acompanha sabe que a forma como os analistas de ata olham, que [eles] veem em termos de histórico de comunicação, cada vez que a gente muda uma palavra, tem significado", disse Campos Neto.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em cerimônia no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) - Adriano Machado - 7.mar.23/Reuters

No texto do último comunicado, o colegiado do BC manteve a mensagem no parágrafo final sinalizando que poderia voltar a subir juros diante de uma piora no cenário inflacionário. "O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", escreveu.

Campos Neto ressaltou que o último trecho constava no comunicado desde setembro, antes das eleições. "É um parágrafo que reduz essa assimetria de expectativa quando tem uma situação em que você não está atingindo a meta. De lá para cá, nossas projeções pioraram, e as expectativas desancoraram mais", disse.

"Seria muito inusitado, dado que as nossas projeções pioraram, a gente retirar um parágrafo que diz exatamente que nós estamos comprometidos com o atingimento da meta", acrescentou.

Em reação às críticas que tem recebido por parte do governo, o presidente do BC afirmou que a instituição é "um órgão técnico e não deveria se envolver em temas políticos" e mostrou boa vontade em ser mais transparente sobre o trabalho realizado pela autoridade monetária.

Em suas últimas comunicações, o BC tem adotado um tom mais didático ao justificar as razões pelas quais optou por manter os juros elevados no atual patamar pela quinta vez seguida –a segunda sob o governo Lula.

"O que a gente pode fazer é comunicar da melhor forma possível como é feito o nosso trabalho, ser o mais transparente possível no aspecto técnico, abrir o máximo possível de modelagem, falar das considerações que nós temos de como acompanhamos cada variável", disse.

'Haddad está muito bem-intencionado'

Campos Neto disse ainda ter um bom relacionamento com o Ministério da Fazenda e "convicção" que Haddad "está muito bem-intencionado".

"Temos trabalhado junto, diria que do nosso lado, estamos fazendo um trabalho técnico, precisamos explicar para a sociedade que esse trabalho técnico tem um custo a curto prazo, mas que não fazê-lo tem um custo muito maior e mostrar as vantagens de ter uma inflação sob controle do ponto de vista social", afirmou.

Segundo o presidente do BC, seria necessário elevar os juros a 26,5% ao ano se a autoridade monetária não fizesse um processo de "suavização" do cumprimento da meta de inflação. No relatório trimestral de inflação, divulgado nesta quinta, o BC admitiu que a probabilidade de o índice ficar acima do teto da meta neste ano é de 83%.

"Se fosse atingir a meta (de inflação) em 2023, a última informação que tive é de que a taxa (de juros) teria de ser de 26,5%. É óbvio que a gente entende que isso seria impossível", disse.

Após a divulgação das projeções atualizadas para inflação, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, voltou a pressionar o BC em rede social, criticando o desempenho da cúpula da instituição e sugerindo a exoneração do presidente da autoridade monetária e de seus diretores.

O presidente do BC afirmou também nesta quinta que não tem participado do processo de escolha dos novos diretores da instituição –tema que gerou ruído no governo.

Antes da indicação formal de Lula e de Haddad ter conversado Campos Neto sobre a definição, os nomes vieram a público. A exposição precoce do administrador Rodolfo Fróes e do servidor Rodrigo Monteiro fez com que o governo começasse a reconsiderar a escolha, e uma mudança nas indicações não está totalmente descartada.

"Não temos participado das discussões, não sei se os nomes são definitivos e não tenho como fazer nenhum tipo de comentário porque seria muito deselegante da minha parte. Não sei se o processo se encerrou", afirmou.

Campos Neto defendeu uma transição suave e que os escolhidos tenham conhecimentos técnicos para os cargos que irão ocupar, embora tenha reiterado que a indicação é uma prerrogativa do presidente da República.

"É importante fazer sempre qualquer transição de diretoria ou de presidente da forma mais suave possível porque isso faz com que o funcionamento do Banco Central não sofra nenhum tipo de mudança", disse.

"Como um trabalho muito técnico, tem algumas áreas do Banco Central que precisam ter algum conjunto de habilidades específicas para aquela atividade", complementou.

Bruno Serra Fernandes deixou a Diretoria de Política Monetária na última segunda-feira (27), quase um mês após o término do seu mandato. Até o momento, Paulo Souza segue no comando da Diretoria de Fiscalização.

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