Banco Inter pede que funcionários evitem lingerie à mostra, maquiagem em excesso e chulé

Guia de estilo condena capa de celular suja e caneta com tampa mastigada; banco disse que material foi revisado

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São Paulo

O Banco Inter divulgou uma cartilha aos funcionários com recomendações de como se vestir durante o expediente. Chamado de "guia de estilo", o documento traz sugestões para evitar roupas amassadas ou furadas, lingerie à mostra ou barba mal feita.

Mau hálito e chulé, roupas com pelos de animais, excesso de maquiagem e caneta com a tampa mastigada também devem ser evitados "a todo custo", de acordo com o guia do Inter, que aponta ainda o celular com a capinha de proteção velha ou suja e a película de vidro quebrada como itens não recomendados.

Roupas que não sejam nem muito justas e nem muito largas também constam entre as indicações, assim como uma costureira para garantir um bom caimento e cores neutras.

Procurado, o Inter disse que respeita a individualidade de cada um de seus colaboradores, e que o material em questão foi revisado, sem dar maiores detalhes sobre quais alterações foram feitas.

Trecho de guia de estilo do Banco Inter com recomendações para os funcionários - Reprodução

No documento, o Inter diz que o funcionário tem liberdade para escolher a forma de se vestir para o trabalho, desde que com bom senso. "Mas em dias de reuniões com clientes, que tal considerar deixar seu visual um pouco mais formal?", indica o banco.

Preparar a roupa na noite anterior para ter mais tempo na manhã seguinte e o uso de produtos de limpeza para calçados de couro também estão entre as recomendações da cartilha.

Nas redes sociais, algumas postagens criticaram a iniciativa do banco. Segundo a Folha apurou, o material distribuído aos funcionários foi suspenso após as críticas.

Para a consultora de imagem Méri Grossi, a iniciativa é bem-vinda. Ela diz que parte da força de trabalho ingressou em empresas digitais durante a pandemia, quando o homeoffice ainda era a prática mais comum.

Com a volta ao presencial, parcela desse contingente —formado em grande parte por um público mais jovem— não está habituado à cultura corporativa, sendo adequada e até desejável alguma orientação do empregador nesse sentido, afirma a especialista.

"Estamos em um momento no qual as empresas estão buscando caminhos para orientar os colaboradores sobre comportamento", diz.

Já Rachel Rua, diretora da consultoria iO Diversidade, voltada para a inclusão dentro dos ambientes corporativos, demonstra uma visão mais crítica em relação ao guia do banco. "É importante ter em mente que estilo e estética estão relacionados a diferentes formas de expressão cultural. Corte de cabelo, uso de maquiagem, vestuário e acessórios são elementos culturais, e restrições ao seu uso são muitas vezes mobilizadas para reafirmar uma estética e cultura branca normativa, em detrimento de outras", afirma a especialista.

Ela acrescenta que, mesmo com os avanços recentes nas pautas de diversidade e inclusão, sete em cada dez pessoas já sofreram por razões de raça ou cor, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e pela iO Diversidade. "Boa aparência já foi critério velado de exclusão racial em anúncios de emprego durante muitas décadas no Brasil. Tanto que o uso desse termo em anúncios de vagas de emprego deixou de ser recorrente por ser considerado discriminatório."

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