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Com retração no apetite das empresas, captações no mercado de capitais recuam quase 40% no 1º trimestre

Juros altos e cenário econômico resultaram na forte queda das emissões, diz Anbima

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São Paulo

Em um cenário de juros altos e temores de investidores e empresas com uma potencial crise de crédito no país, o mercado de capitais registrou uma forte retração das captações no primeiro trimestre do ano.

De janeiro a março, as captações no mercado somaram R$ 66 bilhões, uma queda de 38,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados nesta terça-feira (11) pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

"Foi um período marcado por altas taxas de juros e um menor movimento do mercado de capitais em geral, tanto na parte de renda fixa como na parte de renda variável", afirmou José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima, durante coletiva com jornalistas.

Painel eletrônico mostra evolução do pregão na Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos
Painel eletrônico mostra evolução do pregão na Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos - Andrew Kelly - 17.mar.2023/Reuters

Na renda variável, as captações alcançaram R$ 3,3 bilhões, uma queda de 71,9% em relação ao mesmo intervalo de 2022, concentradas em operações de follow-on (oferta subsequente) no mercado secundário, sem novas aberturas de capital (IPO, na sigla em inglês) até aqui no ano.

"Os bancos de investimento continuam conversando com seus clientes esperando um momento melhor" [para emitir ações], disse Laloni.

Segundo o presidente do fórum de estruturação de mercado de capitais da Anbima, Guilherme Maranhão mantido o cenário macroeconômico pouco convidativo para emissões de novas ações, a expectativa é que as ofertas na renda variável continuem sendo focadas nos follow-ons, até pelo fato de se tratar de uma operação que costuma ser utilizada para as empresas reduzirem o nível de alavancagem.

Maranhão afirmou que o caso envolvendo a Americanas também acabou contribuindo para a desaceleração nas captações no mercado. "O impacto [da Americanas] aconteceu de maneira pulverizada. A exposição da companhia era relevante no mercado", afirmou o especialista, acrescentando que o cenário tende a se normalizar, à medida que as notícias negativas sobre empresas com dificuldades financeiras vão diminuindo.

Refinanciamento de passivos ganha espaço nas captações de renda fixa

Já na renda fixa, as captações totalizaram R$ 56 bilhões, um recuo de 37,7% ante igual período do ano anterior.

Entre os principais instrumentos na categoria de renda fixa, as notas comerciais tiveram o maior tombo em termos de captação no primeiro trimestre, com um volume de R$ 3,3 bilhões, o que representou uma queda de 65,5% em bases anuais.

Na sequência vieram os FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios), com captação de R$ 5,5 bilhões, recuo de 46,8%, e as debêntures, com volume de R$ 36,6 bilhões, baixa de 34,5%.

De acordo com os dados da Anbima, do total de emissão de debêntures nos três primeiros meses do ano, cerca de 36% foram destinados ao refinanciamento de passivos. Na avaliação de Laloni, em um ambiente menos aquecido no mercado, é natural que ocorra um aumento nas captações para refinanciar o passivo, e não para realizar novos investimentos.

Fundos imobiliários e Fiagros são destaque positivo no 1º trimestre

Entre as principais categorias consideradas pela Anbima, os investimentos híbridos —que reúnem características de renda variável e renda fixa— foram o destaque positivo no primeiro trimestre, com captação de R$ 6 bilhões no período, alta de 40,6% em bases anuais.

Contribuíram para o resultado positivo os fundos imobiliários, com captação de R$ 3,5 bilhões, alta de 36% na comparação anual, e os Fiagros, que investem no agronegócio, com captação de R$ 2,8 bilhões, crescimento de 46,8%.

Segundo os executivos da Anbima, o desempenho dos híbridos reflete, no caso dos Fiagro, uma resiliência maior do setor agro em comparação com a média da economia brasileira de um modo geral.

"O agro vem de muitos anos de boa rentabilidade e o interesse dos investidores é crescente em entender melhor como o setor funciona", afirmou Laloni.

O vice-presidente da Anbima acrescentou que, no caso dos fundos imobiliários, o movimento de entrada de recursos pode ter ocorrido pelo impacto negativo da alta dos juros ao longo dos últimos meses, com investidores enxergando uma janela de oportunidade para aproveitar ativos de qualidade sendo negociados com preços excessivamente descontados.

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