À espera de incentivo, locadoras suspendem compras de carros e pátios de montadoras lotam

'Mar de carros' e freio na produção contrastam com programa do governo para venda de veículos com desconto

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

As montadoras e as locadoras de veículos esperam que o governo oficialize a expansão do crédito para compra de carros e contemple também descontos para as empresas. Enquanto isso, os pátios seguem lotados, e as marcas anunciam paradas na produção —apesar do programa de incentivo voltado para o consumidor. Como a primeira rodada do programa de descontos ficou restrita a pessoas físicas, as vendas para carros de frotas de empresas, que incluem as locadoras, ficaram travadas.

O brasileiro esperou para comprar o carro com desconto, mas o aumento no movimento nas concessionárias contrasta com o 'mar de carros' nos pátios das montadoras e com o anúncio de redução na produção, como o que foi feito pela Volkswagen na última terça-feira (27).

 Imagem aérea do pátio da montadora Volkswagen no ABC Paulista
Imagem aérea do pátio da montadora Volkswagen no ABC Paulista - Danilo Verpa/Folhapress

A montadora anunciou que iria parar temporariamente sua produção nas unidades de São José dos Pinhais (PR), São Bernardo do Campo e Taubaté (SP), justificando a decisão pelo freio no mercado automotivo.

À Folha, a Volkswagen confirmou que o 'mar de carros' em seu pátio no ABC é efeito da trava nas vendas para empresas e locadoras de veículos. Houve uma queda de 31% nas comercializações para pessoas jurídicas de maio a junho.

Segundo analistas, as montadoras estão buscando um equilíbrio para evitar o excesso de estoque, um ativo que se deprecia no dia a dia.

Nas locadoras, as compras de carros novos com preço de até R$ 120 mil estão suspensas por ora, segundo Marco Aurélio Nazaré, presidente do conselho nacional da Abla (associação que representa o setor). Ele afirma que a demanda para julho, período de férias escolares, será impactada.

"Os pedidos estão em carteira, mas os faturamentos estão travados. Mesmo que os carros fossem faturados nesta semana, não daria tempo de colocar os veículos com disponibilidade para julho, porque eles têm que ser transportados, entregues e licenciados", diz Nazaré.

Ainda segundo ele, também houve depreciação no preço dos veículos mais antigos das locadoras que são vendidos para a renovação da frota. "Uma vez que houve um programa de incentivo com a redução na conta do preço do carro, automaticamente, a precificação da venda sofreu impacto", afirma.

De acordo com Nazaré, as locadoras compram, por mês, cerca de 50 mil carros, e 58% deles são de entrada, com valor abaixo de R$ 120 mil. A Abla ainda não divulgou o balanço de junho, mas a expectativa é que o número de novos veículos adquiridos seja bem baixo, diz ele.

O setor automobilístico alcançou, na última segunda-feira (26), o patamar de 109 mil carros e veículos comerciais leves zero-quilômetro emplacados no país no mês de junho, de acordo com um levantamento feito pela consultoria Jato. Do total, apenas 39,2% representavam vendas diretas, feitas pelas montadoras para públicos como locadoras, pessoas com deficiência e taxistas.

Segundo Milad Kalume, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato, o percentual de vendas diretas é baixo se comparado com os últimos meses, quando estava acima dos 45%, diz ele.

Para Kalume, há impacto da medida provisória do governo federal que barateou o preço de alguns carros com descontos bancados pela União. "As locadoras acabaram ficando sem qualquer tipo de benefício. Se elas conseguirem comprar com desconto, vai ser bem residual, muito menos do que gostariam", afirma.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve aumentar em R$ 300 milhões os recursos para o programa que dá descontos na compra de carros populares —o valor se soma aos R$ 500 milhões já disponibilizados.

Ainda de acordo com o levantamento da Jato, dos 109 mil veículos comercializados em junho, 41,5% foram beneficiados pelo programa de incentivo do governo.

Procuradas, a Localiza, a Movida e a Unidas, que são grandes empresas do setor, não comentaram a atual situação do segmento.

Falar que a medida do governo não cumpriu seu objetivo para os veículos comerciais leves, ao se olhar os pátios ainda cheios, seria mentira, diz Kalume.

"É uma medida de consumo, que começou a valer neste mês. Historicamente, a gente tem a segunda quinzena sempre mais forte, mas no mês passado isso foi invertido. As pessoas deixaram de comprar carro e passaram a aguardar."

"As montadoras estão optando por parar, pelo momento econômico não ser satisfatório. Por mais que a medida do governo tenha ajudado na redução do valor, os juros ainda estão muito altos e as parcelas ficam elevadas para quem precisa financiar", diz.

O sócio da Bright Consult Cássio Pagliarini lembra que as vendas de veículos pelas concessionárias correspondem a 50% do volume total. Da metade restante, a maior parte vai para locadoras.

"As locadoras estão alijadas dessa compra até o momento, e o setor só pode contar com a metade das vendas às pessoas físicas", diz.

Ele diz que o aumento das vendas por meio do consumidor não é suficiente para compensar as perdas das locadoras em emplacamentos.

"É necessário que as locadoras voltem. Para as montadoras, o que é interessa é volume de vendas. Como elas não alcançaram esse volume, não vão ficar produzindo sem parar."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.