Descrição de chapéu Financial Times

Conheça Marina Berlusconi, a discreta herdeira italiana que dirige o império familiar

A filha mais velha de Silvio Berlusconi é a 'matriarca da família' e preside a companhia de 4 bilhões de euros que ele construiu

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Silvia Sciorilli Borrelli
Milão | Financial Times

Todas as segundas-feiras, nos últimos 30 anos, Marina Berlusconi e seu irmão, Pier Silvio, discutiram negócios e política durante o jantar com o pai e seu séquito mais próximo, em sua residência nos arredores de Milão.

Esta semana não houve esse jantar na Villa San Martino, propriedade do século XVIII. Em vez disso, Marina, a mais velha dos cinco filhos de Silvio Berlusconi, foi acordada de madrugada por uma ligação da última companheira de seu pai, Marta Fascina, que lhe disse que o três vezes primeiro-ministro e magnata da mídia estava nas últimas horas e que ela devia correr para hospital, segundo pessoas próximas à filha. Ele foi declarado morto no final da manhã.

Marina, 56, que preside a holding familiar Fininvest, de 4 bilhões de euros (R$ 21 bilhões), há mais de duas décadas, fez uma aliança improvável com a companheira de seu pai de 33 anos, que é parlamentar de seu partido, o Forza Italia, e estava com o octogenário desde 2020.

As duas mulheres, que na quarta-feira (14) deram as mãos e ficaram visivelmente emocionadas durante o funeral de estado de Berlusconi, eram frequentadoras regulares dos jantares de segunda-feira, que também incluíam o ex-secretário de gabinete Gianni Letta e o amigo de infância Fedele Confalonieri, que preside o grupo de mídia da família, Mediaset, dirigido pelo executivo-chefe Pier Silvio.

Marina Berlusconi é uma mulher branca e loira que usa um vestido preto.
Marina Berlusconi em Milão, na Itália - Andrea Del Ba/ Leemage via AFP

Uma figura maternal, Marina já foi descrita por Berlusconi como a mulher que ocupou o lugar da amada mãe dele, Rosa, após sua morte em 2008. Seu nome foi mencionado novamente após a morte dele como uma óbvia sucessora política, mas assessores e confidentes dizem que seu recente envolvimento em discussões políticas nos bastidores foi motivado apenas pelo desejo de "proteger" o pai doente. Depois de uma internação hospitalar em abril, o médico de Berlusconi disse que ele lutava contra a leucemia havia algum tempo.

O ex-primeiro-ministro, segundo uma pessoa próxima à família, costumava pedir a Marina para concorrer ao Parlamento para, eventualmente, sucedê-lo no comando do partido. "Mas ela repetia que a liderança de um partido político não é algo que se possa herdar como uma empresa", disse a pessoa.

A "relação próxima e afetuosa" de Marina com Fascina, segundo um confidente próximo, também era motivada pelo desejo de isolar o magnata idoso dos "abutres políticos". Fascina "era absolutamente dedicada a Silvio", disse o confidente. "Marina confiava mais nela do que nos aliados políticos de seu pai", disse Lorenzo Castellani, professor da Universidade Luiss.

Ex-gerente de relações públicas do clube de futebol Milan, do qual Berlusconi foi dono até 2017, Fascina subiu na hierarquia do partido e reformulou seus escalões superiores com o apoio de Marina.

Em um exemplo dos esforços coordenados da filha e da namorada, elas conseguiram limitar o acesso à Villa San Martino da assessora política mais próxima de Berlusconi, Licia Ronzulli, dizem analistas.

Ronzulli, ex-membro do Parlamento Europeu e legisladora do Forza Italia, foi durante anos o membro mais influente do partido, ao lado do ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani.

Mas depois de vários contratempos políticos que levaram a tensões públicas entre Berlusconi e a primeira-ministra Giorgia Meloni nos primeiros dias de seu governo, Marina e Fascina aconselharam o velho magnata a expulsar Ronzulli de seu círculo íntimo.

Marina assumiu a responsabilidade de reatar os laços com Meloni, com quem desde então construiu uma estreita relação de trabalho, segundo pessoas próximas às duas.

Espera-se que ela use essa nova conexão para garantir o controle da família sobre o império de mídia, que se estende, além da televisão, à publicação e produção e tem enfrentado dificuldades com as mudanças estruturais na indústria e o aumento da concorrência de plataformas de streaming. Uma aquisição em 2016 pela concorrente francesa Vivendi, que a família Berlusconi chamou de "hostil", destacou essas dificuldades, embora tenha sido revertida desde então.

Com possíveis novas ofertas de aquisição em andamento, espera-se que Marina desempenhe um papel decisivo na aprovação ou no bloqueio dessas tentativas, disse Castellani.

Marina é casada com o ex-bailarino Maurizio Vanadia e tem dois filhos, um deles com o nome do pai. Ela e seus quatro irmãos possuem, cada um, entre 7% e 8% de participação na Fininvest. A holding também controla a editora Mondadori e o banco de empréstimos Mediolanum.

Berlusconi havia garantido a dívida do Forza Italia e agora é credor de 90 milhões de euros ao partido, segundo seu tesoureiro, Alfredo Messina, o que significa que o partido poderia enfrentar a falência se os herdeiros, todos doadores de longa data, reivindicassem o pagamento desse dinheiro. "A saúde financeira do Forza Italia depende de Marina e seus irmãos", disse Castellani.

Nascidos do primeiro casamento de Berlusconi, com Carla Elvira Dall'Oglio, que ele conheceu num ponto de bonde em Milão, Marina e Pier Silvio devem herdar metade da participação de 60% de Berlusconi na Fininvest. Os filhos de seu segundo casamento, com a atriz Veronica Lario –Barbara, Eleonora e Luigi–, acabariam com participações iguais nos 30% restantes.

Tal alocação daria a Marina e Pier Silvio maior controle dos negócios da família, que administram há anos. Em comunicado, a Fininvest disse que haveria "continuidade" absoluta após a morte de seu fundador.

Uma das pessoas próximas à holding disse que o falecido ex-primeiro-ministro agiu com cuidado para evitar brigas familiares por dinheiro após sua morte.

"Ele ficou chocado com a briga interna da família Agnelli e queria evitar isso a todo custo", disse a pessoa, referindo-se à batalha judicial em curso entre os herdeiros da fortuna da montadora Fiat.

O espólio de Berlusconi inclui propriedades mundiais, iates, o time de futebol Monza e outros ativos no valor de 2 bilhões de euros adicionais, que também serão divididos entre seus filhos e –se ela estiver incluída no testamento– Fascina, com quem ele não era legalmente casado.

"Marta supervisionou tudo, inclusive na frente política", disse outra pessoa próxima à Fininvest. "Marina agradece muito o que ela fez por seu pai", acrescentou a pessoa.

Fascina ajudou o ex-primeiro-ministro em todas as estadas no hospital, incluindo a última. "Ela entrou no hospital com o Silvio e só saiu com ele", disse o confidente.

Em maio, quando Berlusconi saiu do hospital em cadeira de rodas pela porta dos fundos, Fascina foi vista num vídeo instigando a segurança para proteger seu frágil parceiro dos paparazzi escondidos no topo de uma árvore.

Longe vão os dias em que Berlusconi, então primeiro-ministro em exercício, ganhou manchetes em todo o mundo por suas chamadas festas "bunga bunga". Este ano, um tribunal o inocentou de qualquer irregularidade no caso envolvendo mulheres menores de idade, o que foi um enorme alívio para a família. Após a decisão, Marina disse que as "acusações eram infames e infundadas".

A maior preocupação agora é garantir uma paz duradoura dentro da extensa família Berlusconi, seu império empresarial e seu decadente partido político.

"Todo mundo percebe que, em última análise, isso cabe a Marina, a matriarca da família Berlusconi", disse o confidente.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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