Descrição de chapéu Financial Times

Presidente do Newcastle administra US$ 650 bi de fundo soberano saudita; conheça

Confidente do príncipe Mohammed bin Salman, ele é encarregado de supervisionar investimentos que são caros à realeza

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Samer Al-Atrush Andrew England
Dubai e Londres | Financial Times

Poucos meses antes de o Newcastle United retornar à principal competição de futebol da Europa, a Liga dos Campeões, após duas décadas afastado, Yasir Al-Rumayyan levou o time para sua residência em Riad para uma encontro estimulante, em dezembro.

Fazia pouco mais de um ano desde a aquisição do clube pelo FIP (Fundo de Investimento Público) da Arábia Saudita, e o chefe do FIP, 53, e presidente do Newcastle reuniu os jogadores para um discurso antes de se animarem numa partida de golfe simulada.

Enquanto o time passava por uma reviravolta em seu destino, o outro grande empreendimento esportivo de Rumayyan, o novo torneio de golfe LIV, estava lutando para atrair patrocinadores e com o PGA dos Estados Unidos na Justiça. A incursão no golfe, uma obsessão pessoal de Rumayyan, não parecia promissora.

Yasir Al-Rumayyan, chefe do fundo soberano da Arábia Saudita, no Trump National Golf Club, em Virgínia, EUA - Rob Carr - 27.mai.2023/Getty Images via AFP

O anúncio deste mês de que o LIV e o PGA estavam unindo forças, com Rumayyan como presidente, pegou muitos observadores de surpresa.

Embora o plano ainda enfrente obstáculos, incluindo o escrutínio dos legisladores americanos, ele elevou a reputação de Rumayyan como um dos diretores de fundos soberanos mais influentes do mundo.

Um confidente do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, Rumayyan é encarregado de supervisionar investimentos e reformas que são caros à realeza. Alguns atribuem seu perfil crescente a agir como um apoio ao governante, outros a suas habilidades de administrador e um ocasional golpe de sorte.

A decisão de 2021 de montar o LIV "foi uma ideia maluca, foi um tiro no escuro", lembrou um ex-colega saudita que conhece sua carreira. "Porém, se Deus está sorrindo para você..."

Nascido na província saudita de Al-Qassim, Rumayyan formou-se numa universidade local antes de ingressar no setor bancário.

Ele trabalhou seu caminho até o banco saudita Hollandi antes de uma passagem pela Autoridade de Mercados de Capitais. Em 2015, chefiava o provedor de serviços financeiros Saudi Fransi Capital quando o então vice-príncipe herdeiro Mohammed o convocou para o FIP.

"Eu não o conhecia. Achei que seria uma entrevista, mas foi como 'isto é o que quero que você faça'", contou Rumayyan numa entrevista de 2020 para a Bloomberg.

Como governador do PIF, Rumayyan administra US$ 650 bilhões (R$ 3,1 trilhões) em ativos, incluindo sua aposta de US$ 45 bilhões (R$ 215 bilhões) no Vision Fundação, do grupo de tecnologia japonês Softbank, US$ 20 bilhões (R$ 95,5 bilhões) em um fundo de infraestrutura da Blackstone e uma participação no Uber que lhe deu um assento no conselho do grupo, antes de deixar o cargo para se concentrar em outros compromissos.

Ele também preside a Saudi Aramco, cargo que assumiu quando a petrolífera estatal se preparava para uma oferta pública inicial cujos recursos iriam para o fundo, que também recebeu 8% da empresa.

Um executivo estrangeiro disse que a agenda de Rumayyan estava tão lotada que, quando ele tentou marcar uma reunião com o chefe do FIP, recebeu uma janela de 15 minutos, dali a mais de três meses.

Navegar em questões domésticas pode ser seu maior desafio, assim como o mais arriscado. O papel de Rumayyan como governador do fundo de investimento, que é presidido por Mohammed, o coloca na vanguarda do esforço do reino para diversificar sua economia além do petróleo.

Ministros e homens da posição de Rumayyan costumam ter uma vida útil curta na Arábia Saudita. O príncipe os substitui à vontade e é intolerante com erros ou pessoas que atrapalham seu caminho.

As reformas lideradas pelo FIP, envolvendo uma série de grandes projetos e investimentos em indústrias nascentes, de veículos elétricos a jogos e vapes, são vistas como cruciais por Mohammed para ganhar apoio no país enquanto se prepara para suceder seu pai, o rei Salman, disse um diplomata ocidental.

Rumayyan recebeu aplausos e críticas pelas atividades domésticas do FIP, que, ao criar ou reforçar empresas nacionais para impulsionar setores atrasados, como o imobiliário, afastou os atores do setor privado.

Ele sobreviveu a muitos pares. Seu segredo? "Deus tem misericórdia de um homem que conhece os limites de si mesmo", disse o ex-colega saudita, citando um provérbio árabe.

Algumas pessoas familiarizadas com o FIP dizem que Rumayyan delega os assuntos do dia-a-dia do fundo e seu crescente império. Ele também é próximo de consultores externos, como o negociador de Wall Street Michael Klein.

"É a liderança saudita típica", disse um ex-alto funcionário do fundo. "Você reúne as pessoas ao seu redor e é uma liderança de cima para baixo. Você recebe o pedido e tenta executar, e quando não sabe traz consultores."

Rumayyan está aberto a quem oferecer aconselhamento, segundo o ex-colega. "Todos os principais banqueiros do mundo estão lutando para aconselhá-lo", disse. "Ele escuta, e é um trabalhador esforçado."

Um "bon vivant", ele ofereceu jantares em sua casa na véspera da Iniciativa de Investimento Futuro organizada pelo FIP, a cúpula "Davos no Deserto" que busca projetar a nova Arábia Saudita para a elite global.

As pessoas que o conhecem dizem que Rumayyan é afável, além de amigável e prestativo quando é procurado por jornalistas e empresários. Com seu cabelo encaracolado penteado, nariz romano e ternos sob medida, ele mostra uma figura distinta quando aparece no estádio St. James’ Park para torcer pelo Newcastle.

Mas nunca foi considerado um gênio em negócios ou networking, disseram várias pessoas que o conhecem desde seus tempos de bancário.

O fato de ele ter conseguido impressionar e ganhar a confiança do príncipe Mohammed deixou alguns observadores perplexos.

"Ele é um cara legal [mas] fiquei surpreso por ele ter conseguido o emprego", disse um banqueiro que o conhece há tempo.

Outros veem sua ascensão como uma medida de flexibilidade e prontidão para agradar o príncipe. Ele tem um relacionamento íntimo com Mohammed, disse um conselheiro, rindo e brincando com ele. Mas permanece respeitoso.

"Para ir a algum lugar naquela parte do mundo, é preciso pelo menos concordar um pouco com o andar das coisas", disse o ex-funcionário do FIP.

O conselheiro de Rumayyan disse estar sintonizado com a escala do projeto de transformação do príncipe para o reino, desafiando o ceticismo dos banqueiros e encorajando propostas mais ambiciosas para satisfazer seu patrão.

Apoiadores dizem que Rumayyan merece crédito por suas conquistas.

"Yasir tem um histórico de se sair melhor do que todos esperavam", disse um executivo de uma empresa que trabalha com o FIP. "No começo, não era raro as pessoas dizerem 'sério?' quando o conheciam. Mas ele tem algum talento, é resiliente e não se leva muito a sério."

Colaborou Simeon Kerr, em Dubai. Tradução de Luiz Roberto Gonçalves

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