OCDE vê retomada limitada do crescimento global por altas de juros

Segundo organização, economia mundial deve crescer 2,7% este ano, acima de sua previsão anterior de 2,6%

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Laurent Thomet Ali Bekhtaoui Leigh Thomas
Paris | AFP e Reuters

O crescimento econômico global aumentará apenas moderadamente no próximo ano, à medida que os efeitos totais dos aumentos das taxas de juros forem sentidos, disse a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) nesta quarta-feira (7), a mais recente instituição a alertar para o impacto do aperto monetário.

A economia mundial deve crescer 2,7% este ano, disse a OCDE, acima de sua previsão anterior de 2,6%, feita em março.

Embora impulsionado pelo fim da política de Covid-zero na China, essa seria a taxa anual mais baixa desde a crise financeira global de 2008-2009, com exceção do ano de 2020, ano marcado pela pandemia, disse a organização com sede em Paris.

Duas pessoas estão em um púlpito, durante um evento. Ao fundo, uma tela azul e preta.
O secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, e a britânica Clare Lombardelli durante conferência - AFP

O crescimento vai então acelerar apenas ligeiramente no próximo ano para 2,9% —inalterado em relação à previsão de março— já que os aumentos de juros pelos principais bancos centrais do mundo no ano passado pesam cada vez mais no investimento privado, começando pelos mercados imobiliários.

Na terça-feira (6), o Banco Mundial também citou o impacto crescente dos aumentos dos juros ao elevar sua previsão de crescimento mundial este ano para 2,1%, mas reduzindo a conta para 2024 a 2,4%, ante uma previsão anterior de 2,7%.

A OCDE estima que a economia dos EUA crescerá 1,6% este ano antes de desacelerar para 1% em 2024, com o efeito defasado dos aumentos de juros atingindo a maior economia do mundo de forma particularmente dura. Anteriormente, a expectativa era de expansão de 1,5% este ano e 0,9% em 2024.

Impulsionada pelo fim das restrições contra a Covid, a economia chinesa deve crescer 5,4% em 2023 antes de moderar para 5,1% em 2024. Antes as projeções eram em 5,3% e 4,9%, respectivamente.

À medida que o choque de preços de energia no inverno da Europa desaparece, o crescimento da zona do euro deve acelerar de 0,9% este ano para 1,5% em 2024, já que a inflação mais baixa pesa menos sobre a renda. Em março, a OCDE estimou crescimento de 0,8% em 2023 e 1,4% em 2024.

Para o Brasil, a OCDE melhorou as projeções de expansão econômica a 1,7% em 2023 e 1,2% em 2024, contra expectativa em março de 1,0% e 1,1%, respectivamente.

A OCDE prevê que a inflação no Grupo das 20 principais economias cairá de 7,8% no ano passado para 6,1% este ano e 4,7% em 2024 —ainda bem acima das metas de muitos bancos centrais, apesar dos aumentos das taxas de juros.

"Um risco substancial é que a inflação se mostre mais persistente e, em resposta, as taxas de juros precisem ficar mais altas por mais tempo", disse a economista-chefe da OCDE, Clare Lombardelli, em coletiva de imprensa.

O chefe da OCDE, Mathias Cormann, concordou dizendo que o risco de os principais bancos centrais fazerem muito pouco ou demais está atualmente "igualmente equilibrado".

Autoridades do Federal Reserve sinalizaram uma possível pausa nos aumentos da taxa de juros dos EUA, enquanto o Banco Central Europeu indicou que novos aumentos são prováveis nos próximos meses.

Nas perspectivas da OCDE, a taxa básica de juros do Fed deverá atingir um pico de 5,25-5,5%, com cortes "modestos" na segunda metade de 2024.

Na zona euro, a OCDE espera que o BCE continue a aumentar as taxas diante de um núcleo de inflação ainda elevado, com um pico observado no terceiro trimestre. A organização prevê que o BCE deixará sua taxa básica em 4,25% até o final de 2024.

"Longo caminho"

Apesar dos sinais positivos, a economia "tem um longo caminho pela frente antes de alcançar um crescimento forte e sustentável", destacou a britânica Clare Lombardelli, que sucedeu a francesa Laurence Boone.

"A recuperação será mais frágil na comparação com os parâmetros do passado", acrescentou.

Entre os desafios ela mencionou a persistência da inflação "obstinadamente elevada" e que obriga os bancos centrais "a prosseguir com políticas monetárias restritivas até que existam sinais claros" de melhora.

"O período que estamos atravessando é caracterizado por um crescimento lento, mas era isso que os líderes políticos desejavam, pois sua ambição era dissipar as pressões inflacionárias", disse à AFP James Pomeroy, economista do HSBC.

"Ainda não observamos em todas as partes os efeitos da alta dos juros na economia", o que pode deixar de ser ser percebido na zona do euro e nos Estados Unidos nos próximos meses, afetando ainda mais o crescimento, completou.

Os aumentos das taxas de juros também provocam um grande impacto nas finanças públicas dos Estados, elevando o custo os créditos.

"Quase todos os países têm déficits e dívidas maiores que antes da pandemia, e muitos enfrentam uma pressão crescente sobre os gastos públicos provocada pelo envelhecimento da população, a transição climática e ao peso dos custos da dívida", afirma o relatório, que recomenda aos governos um melhor direcionamento das ajudas orçamentárias.

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