Itamaraty diz que apresentará resposta à UE sobre exigências ambientais em 'alguns dias'

Brasil é contrário a proposta dos europeus no acordo de livre comércio com o Mercosul

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Puerto Iguazú, Argentina

O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, afirmou que vai apresentar "em alguns dias" uma resposta à carta da União Europeia que propõe novas exigências ambientais no acordo de livre comércio negociado há mais de duas décadas entre o bloco europeu e o Mercosul.

"Em alguns dias, pretendemos apresentar para exame de todos uma contraproposta de reação à carta adicional da União Europeia, com o intuito de destravar a negociação birregional", discursou ele nesta segunda (3) durante reunião de ministros do Mercosul em Puerto Iguazú, do lado argentino das Cataratas do Iguaçu.

O chanceler brasileiro Mauro Vieira (de cinza) após reunião do Mercosul em Puerto Iguazú, lado argentino das Cataratas do Iguaçu, junto aos ministros das Relações Exteriores do Uruguai, Argentina e Paraguai e o governador da província de Missiones - Nelson Almaida/AFP

Vieira listou a conclusão do acordo como uma das prioridades do país ao assumir a presidência rotativa do grupo, logo após a cúpula semestral dos presidentes nesta terça (4). "[Nos próximos seis meses], pretendemos trabalhar intensamente com aqueles parceiros cujas negociações se encontram em etapa avançada, como com a UE, para explorar a oportunidade de fechar acordos que estejam em sintonia com as demandas do atual contexto mundial", declarou.

O Itamaraty já havia indicado que estava finalizando uma posição e que a aguardada proposta estava "muito próxima". Maurício Lyrio, secretário de assuntos econômicos da pasta, disse na última quinta (29) que "o governo está traduzindo as instruções do presidente Lula para um documento que será apresentado primeiro aos parceiros do Mercosul, e depois à União Europeia".

Um texto de consenso entre os quatro países membros —Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai—, porém, ainda não sairá desta cúpula, que não inclui a Venezuela, suspensa desde 2016. "É um processo que não é tão rápido porque os acordos são muito delicados e têm exigido um trabalho de coordenação interna muito intenso", declarou Lyrio.

Há cerca de três semanas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sinalizou que aguardava "com impaciência" um retorno oficial do Brasil, durante encontro com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Brasília. Ela declarou que queria terminar o acordo o quanto antes, "no mais tardar até o fim do ano".

Negociado oficialmente desde 1999, o documento foi concluído em 2019, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), mas ainda não foi ratificado pelos dois blocos. O principal impasse para isso é um anexo ao texto, chamado de "side letter", proposto pelos europeus no início deste ano, que tornaria obrigatórios alguns compromissos ambientais antes voluntários.

Enquanto a Europa quer garantir que a exportação de commodities com problemas ambientais seja vista como uma violação passível de sanções, o governo brasileiro considera as condições muito rígidas e vem subindo o tom das críticas. "Não é possível que haja uma carta adicional fazendo ameaças a parceiro estratégico", repetiu Lula na França, há uma semana.

Outro ponto do acordo que o petista tem insistido publicamente em rever são as compras governamentais. Esse capítulo prevê "tratamento nacional" a fornecedores estrangeiros contratados pelos Estados, mas também várias exceções para proteger as empresas nacionais. Ainda assim, Lula e principalmente o argentino Alberto Fernández veem prejuízos às suas indústrias.

O país vizinho, que preside o Mercosul até esta terça, reforçou sua posição semelhante à do Brasil e defendeu uma "atualização" do acordo que não implique na reabertura das negociações. O chanceler Santiago Cafieiro, criticou o texto aprovado: "Colocar em funcionamento o acordo de 2019 é diminuir nossas exportações atuais", disse.

Ele afirmou que a aprovação ficou travada nos últimos anos por discordâncias dentro da própria UE e argumentou que o documento propõe restrições maiores ao Mercosul, ignora incentivos ao agronegócio europeu e tem uma "visão parcial" do meio ambiente, sem considerar o social. Também sublinhou as assimetrias entre os blocos, dizendo que o PIB (Produto Interno Bruto) da União Europeia é seis vezes maior.

Além dessas negociações, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, citou como prioridades do Brasil durante seu período de gestão do bloco rever regulamentos para evitar barreiras às transações e incluir novos setores no livre comércio. "Temos interesse em seguir promovendo a discussão sobre a incorporação dos setores automotivo e do açúcar ao livre comércio no Mercosul", discursou.

Ele também citou o interesse em "ampliar o Mercosul", com a retomada, em conjunto com a Bolívia, dos trabalhos do chamado Grupo de Adesão de Novos Estados Parte, que segundo ele não se reunia desde 2019. O país andino está em processo de adesão desde 2012, e o chanceler indica que quer continuar os trâmites para completá-lo.

Vieira indicou interesse também em ampliar o chamado Sistema de Pagamento em Moeda Local (SML) do grupo, que possibilita aos exportadores e importadores dos países sócios fazer transações nas moedas locais, em vez de dólar. Citou ainda que vai manter a cúpula social do Mercosul, que foi retomada em junho, depois de sete anos parada, e quer reinstalar um foro de estados, províncias e municípios.

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