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Ação da Light sobe 246%, apesar da crise da empresa; entenda

Títulos de dívida da empresa também se valorizam desde recuperação judicial, mas seguem fortemente desvalorizados na comparação com o início do ano

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São Paulo

Apesar das dívidas, dos problemas estruturais e de um pedido de recuperação judicial, o preço das ações da Light subiu 245,8% desde que elas atingiram o fundo do preço no ano, em 5 de maio, a R$ 1,92. Mesmo considerando apenas o período desde o pedido de RJ, em 12 de maio, houve alta de cerca de 72,4%, ou seja, o preço quase dobrou.

Se essa valorização parece inusitada nos papéis de uma empresa em crise, também surpreende que as debêntures da companhia, ou seja, os títulos de dívidas emitidos pela Light para levantar recursos, também estejam se valorizando desde o pedido de RJ, embora, diferente das ações, as debêntures estejam ainda muito desvalorizadas desde que a crise da companhia veio a público.

Para explicar esse movimento, é preciso voltar para o início do ano.

Era fim de janeiro deste ano, na sombra do escândalo da Americanas, a Light deixou o mercado brasileiro ainda mais em pânico ao confirmar que contratara a Laplace Finanças com o objetivo de assessorar a companhia e "apresentar melhorias em sua estrutura de capital".

Fachada da Light, subestação Leme, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro.
Fachada da Light, subestação Leme, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. - Eduardo Anizelli/ Folhapress

O anúncio movimentou os investidores porque, dias antes, o colunista Lauro Jardim, de O Globo, havia publicado que a empresa de energia chamaria a assessoria para uma "reestruturação financeira". Conforme norma da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), empresas de capital aberto precisam comunicar ao mercado fatos que podem afetar as decisões dos investidores e a cotação das ações —e uma possível reestruturação financeira se inclui nessa categoria.

A nota foi a primeira de várias publicações na mídia que afetaram a cotação de ações nos últimos meses e levaram a CVM, órgão fiscalizador do mercado de capitais, a questionar a companhia de eletricidade.

A Light à época disse que a contratação era apenas para "analisar estratégias financeiras", mas o mercado não comprou o discurso e derrubou a ação da companhia. De 31 de janeiro, data da confirmação da contratação, até 5 de abril, o preço do papel despencou 49,6%.

Quando houve a contratação da Laplace, os investidores tinham disponíveis os indicadores do terceiro trimestre de 2022, e eles não eram animadores: a dívida líquida da Light somava R$ 8,73 milhões, uma elevação de 23% ante igual período do ano anterior.

Preço de ações virou em abril

Mas, desde o dia 5 de abril, as ações da Light começaram a se valorizar, e sobem 245,8% desde então. Isso mesmo com um comunicado da empresa no dia 12 de abril informando que a companhia estava pedindo a suspensão temporária da exigibilidade de dívidas e das cláusulas que preveem o vencimento antecipado de dívidas ou sua amortização acelerada.

A partir daí, a alta se acelerou, e o movimento ganhou tração depois de 20 de abril. Em dez dias, o papel subiu mais de 80%. Dois dias depois da eleição de um novo conselho, a gestora WNT Capital comprou ações da elétrica em 4 de maio e passou a deter 10,02% do capital social da companhia.

A WNT é ligada a Nelson Tanure, investidor bilionário, conhecido por fazer aportes em companhias que estão com dificuldades e trabalhar na sua reestruturação —ele também comprou fatia da Oi quando a empresa entrou em recuperação judicial pela primeira vez, e hoje também tem posições na Gafisa, Prio— antiga PetroRio—, Alliança Saúde e TIM Brasil.

Dias depois, a WNT aumentou sua fatia na empresa para 15,21%, detendo 56.650.800 ações ordinárias. Em 12 de maio, a Light comunicou o mercado sobre o pedido de recuperação judicial da empresa. Três dias depois, a Justiça do Rio de Janeiro aprovou o pedido.

A gestora ligada a Tanure continuou, então, aumentando sua fatia na Light e preparando um aumento de sua participação no conselho: em 17 de maio, a WNT passou a deter 21,80% da elétrica, tornando-se a maior acionista da empresa.

Cerca de um mês depois, no dia 20 de junho, pediu aumento, de 5 para 9, do número de cadeiras no conselho, com indicação de uma chapa completa para todo o conselho. Entre os conselheiros, estava o nome de Tanure.

Alguns dias depois, em 28 de junho, a WNT aumentou pela quarta vez sua participação na companhia desde as notícias sobre recuperação judicial da Light, desta vez para 28,06%. E subiu mais uma vez, para os atuais 30,05%, em 18 de julho, mesma data em que foi eleito o novo conselho de administração da companhia, com vitória da chapa de Tanure.

Desde esse último movimento de Tanure, quando as ações passaram a valer R$ 7,83, as ações da Light têm amargado sucessivas quedas e, nesta sexta-feira (11), fecharam em queda de 6,35% na B3, valendo R$ 6,64. O forte recuo no papel acontece um dia depois de a empresa divulgar os seus resultados do segundo trimestre deste ano.

Debêntures melhoram, mas seguem desvalorizadas

Acompanhando o movimento das ações, as debêntures também estão em uma situação melhor em relação ao período anterior ao pedido de recuperação judicial da Light. Mas, diferentemente dos papéis negociados na Bolsa, os títulos de dívida ainda estão fortemente desvalorizados na comparação com o início do ano.

Segundo uma plataforma de investimentos e assessoria financeira consultada pela Folha, antes da recuperação judicial, os títulos de dívida da empresa estavam sendo negociados, em média, por 34,09% do valor de face, e agora atingiram um patamar melhor, de 41,80%.

Um operador ouvido pela Folha citou o possível efeito Tanure também sobre os preços dos títulos de dívida da empresa.

Ainda assim, os papéis estão muito desvalorizados. No início do ano, antes da crise da Light vir a público, as debêntures da empresa chegavam a ser negociadas a 100,49% do valor de face.

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