Auditorias negam conluio com Americanas em CPI que investiga fraude

KPMG indicou possível participação de dois bancos que mudaram informações durante auditoria

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Brasília

Dois bancos teriam voltado atrás e retificado informações sobre operações de risco sacado com a Lojas Americanas em 2016 e em 2018, disse nesta terça (1º) a representante da KPMG Carla Bellangero em audiência da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga fraude na varejista.

O risco sacado é um dos mecanismos utilizados pela Americanas para acobertar a fraude na companhia. Ele é um empréstimo bancário comum no varejo, que não era informado corretamente no balanço da companhia.

A KPMG auditou os balanços da Americanas entre 2016 e o segundo trimestre de 2019. De acordo com Bellangero, entre as atividades da análise estavam contatos com bancos nos quais eram questionados sobre operações de risco sacado com a Americanas.

Sessão da CPI Americanas na Câmara dos Deputados. Na foto, da esquerda para a direita, o representante da PwC, Fabio Mendes, o relator Carlos Chiodini (MDB-SC) e o presidente Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE) - Gabriela Biló /Folhapress

Em 2016 e em 2018, dois bancos informaram em um primeiro momento terem operações do tipo com a Americanas que não tinham sido informadas pela varejista. Bellangero não detalhou valores nem os nomes dos bancos.

Depois de questionar a administração da varejista sobre a discrepância nas informações, os bancos retificaram as informações, dizendo que não tinham operações de risco sacado com a Americanas.

Diante da situação, prosseguiu Bellangero, ela comunicou a situação aos diretores financeiros da Americanas e da B2W, que fazia o comércio digital da empresa. Sem resposta após 18 dias, continuou a auditora, foi enviada uma carta para a administração das duas empresas.

"Após seis dias [do contato com a administração], as companhias rescindiram nosso contrato alegando razões comerciais", disse Bellangero.

Questionada, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) informou que "não dispõe de informações sobre operações de risco sacado dos bancos".

A audiência desta terça da CPI da Americanas ouviu os depoimentos de representantes da KPMG e da PwC, duas empresas que auditaram os balanços da Americanas no período da fraude. Ambas negaram participação em um conluio para acobertar fraude na companhia.

Os representantes das duas empresas afirmaram ainda que estavam fora de contexto as cartas apresentadas pelo atual CEO da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, na sua fala na CPI e que indicariam um conluio entre as empresas de auditoria e a varejista.

Fabio Mendes, representante da PwC, diz que há um risco inevitável de que distorções relevantes acabem não percebidas quando a fraude é complexa e com várias pessoas em conluio.

O ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, também deveria ter participado da sessão, mas ele apresentou um atestado de crise renal e disse que está na Espanha. Com isso, ele adiou sua fala na CPI. Até o momento não há nova data definida.

A participação de Gutierrez é considerada chave porque ele comandou a empresa entre 2001 e 2022. A fraude, que primeiro foi chamada de inconsistência contábil, foi revelada menos de duas semanas após a sua saída.

Um habeas corpus concedido na semana passada permitiu que Gutierrez ficasse em silêncio na sua fala, mas não o eximia de atender ao chamado da CPI. Esse era o pedido inicial de Gutierrez. A defesa do ex-executivo não respondeu aos questionamentos.

O ex-diretor da Americanas, Fabio Abrate, compareceu à sessão, mas não respondeu às perguntas com base em um habeas corpus.

"Embora tenha convicção da minha inocência, Americanas vem me acusando expressamente de ser responsável pelos fatos investigados. Essas acusações foram feitas de forma genérica baseada em fatos fora de contexto e a documentos que sequer tivemos acesso até este momento, o que me impede de saber do que estou exatamente sendo acusado e me defender de maneira adequada", disse, antes de informar que não responderia às perguntas.

Ele afirmou ainda que tem contribuído com todas as frentes de investigação, citando a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e a Polícia Federal.

Na sua participação na CPI no primeiro semestre deste ano, o presidente da CVM, João Pedro do Nascimento, incentivou a realização de delações premiadas pelos investigados.

A linha apresentada pela nova direção da Americanas é, no momento, a principal apuração da CPI na visão do presidente da comissão, o deputado Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE).

Além dos depoimentos, a CPI aprovou um requerimento do deputado Alberto Mourão (MDB-SP) para convocar membros do Conselho de Administração da companhia nos últimos anos.

É um passo a mais da CPI na direção dos acionistas controladores, os empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, que tinham o controle do conselho da companhia.

Outro requerimento aprovado, de autoria dos deputados Tarcísio Motta (PSOL-RJ) e Fernanda Melchionna (PSOL-RS), pede os dez maiores contratos de Verba de Propaganda Cooperada. Esse era outro mecanismo utilizado para inflar artificialmente o lucro da Americanas.

OUTRO LADO

A Americanas afirmou por meio de nota à reportagem que a substituição da auditoria externa KPMG em 2019 contou com a anuência da própria empresa de auditoria. "A Companhia reitera que o relatório apresentado à CPI é preliminar e foi entregue às autoridades competentes, que realizam suas próprias investigações", afirma a empresa.

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