Descrição de chapéu China

Manga e melão são destaques na produção de frutas para a próxima década

Com Europa como principal cliente, produtores tentam expandir mercado na Ásia, mas esbarram em logística

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Imagem mostra mulher comprando frutas em uma banca de uma feira

Varejão noturno na Ceagesp Bruno Santos - 30.ago.23/Folhapress

São Paulo

Apesar do otimismo do governo federal com a colheita e a comercialização de frutas na próxima década, produtores fazem ressalvas e apontam desafios que precisam ser considerados para que as projeções de crescimento se concretizem.

Entre os problemas elencados, estão as dificuldades logísticas de exportação para a Ásia e o abalo no poder de compra dos brasileiros.

Imagem mostra compradores em uma feira de frutas. Eles estão em uma volta de uma banca cheia de laranjas
Varejão noturno na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), na Vila Leopoldina, zona oeste da capital paulista - Bruno Santos - 30.ago.23/Folhapress

De acordo com um estudo divulgado recentemente pelo Ministério da Agricultura, a produção e a exportação da maior parte das frutas devem apresentar crescimento no ano safra de 2032/33 na comparação com 2022/23.

Os destaques são o melão e a manga, que darão um salto em produção de 28,7% e 22,9%, respectivamente, segundo as expectativas da pasta.

As dificuldades econômicas sentidas na pandemia com a perda do poder de compra do brasileiro impactaram o setor, na opinião de Caito Prado, diretor comercial da Itaueira, que produz melão. Ele afirma que os custos da produção agrícola dispararam, mas os preços não acompanharam o movimento.

"Eu não estou dizendo que o preço não aumentou. Mas não subiu suficientemente para manter as margens que existiam no período pré-pandemia", diz.

Hoje, a empresa possui 2.600 hectares de plantio de melão e melancia, patamar que foi recuperado depois que a Itaueira teve de cortar pela metade, por causa de uma seca no Ceará, a área plantada das frutas, em 2017 —mesmo ano em que também parou de exportar.

A produção ficou, desde então, concentrada em fazendas na Bahia e no Piauí.

O problema da falta de água já foi sanado, diz Prado, mas as exportações da empresa só devem voltar a ocorrer no ano que vem ou no mais tardar em 2025, assim que a produção nas terras cearenses for retomada.

"Atualmente, nosso problema é de energia elétrica. A nossa expectativa é que isso seja resolvido nos próximos meses. Não voltamos a exportar ainda porque as nossas fazendas na Bahia e no Piauí estão muito longe do porto", afirma Prado.

De acordo com os números divulgados pelo Ministério da Agricultura, a perspectiva é de que a produção de melão no país saia de 644 mil toneladas em 2023 para quase 830 mil daqui a dez anos, ao passo que a exportação da cultura chegue a 321 mil toneladas –27% maior do que a expectativa para este ano.

Em julho, a fruta acumulava uma inflação de quase 3% nos últimos 12 meses.

Tanto a produção quanto a exportação devem crescer para a maioria das frutas, com exceção da maçã, que deve registrar uma queda de 8,5% nas vendas ao exterior no ano safra de 2032/33 em relação a 2022/23, conforme os números do ministério.

Com o desempenho, a quantidade de maçãs enviadas para fora do país seria de 49 mil toneladas.

Há discordâncias, porém. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP, a tendência é que a exportação da maçã cresça, mesmo que pouco.

O grupo de pesquisas diz que, nesse caso, o indicador depende de fatores como a oferta nacional e a demanda dos principais destinos.

Outro indicador analisado pela projeção do Ministério da Agricultura, a área plantada deve apresentar queda para algumas plantações, como é o caso da banana e da laranja.

Thiago de Oliveira, economista da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), diz que um dos motivos é o adensamento e a evolução tecnológica das colheitas, o que permite produzir muito em uma área menor.

Segundo ele, os resultados para a produção e a exportação de frutas previstos pelo governo federal dependem de alguns fatores, como a estabilização da flutuação cambial para favorecer a procura pelos produtos brasileiros.

Para além disso, Oliveira afirma ser importante expandir os mercados externos.

"Quando a gente faz o market share de países, são cinco ou seis países que levam mais de 60% desse volume. A China, por exemplo, é um potencial. Quando a gente olha para Europa, também é nichado", diz.

Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados), afirma que a Europa é o destino de 70% das exportações brasileiras.

Segundo ele, o setor está em tratativas para tornar alguns segmentos mais atraentes para outras regiões.

No começo deste mês, por exemplo, a entidade participa da Asia Fruit Logistica, feira do setor que ocorre em Hong Kong. Coelho diz ter a intenção de incentivar a importação da uva brasileira na China.

Já Paulo Dantas, sócio e presidente da Agrodan, uma das maiores produtoras e exportadoras de manga do país, diz que a expansão do número de países que importam frutas brasileiras deve evoluir de forma muito lenta por causa das dificuldades logísticas para transportar por mar os produtos a locais longínquos.

"O volume que o Brasil vai mandar para o Japão e a Coreia do Sul, por exemplo, é muito pouco, porque esses países estão muito distantes para mandar de navio. Você pode abrir para a China, mas, se for mandar manga de avião, não vai ter mercado grande, porque o custo do frete aéreo é altíssimo."

A empresa, que possui 1.100 hectares próprios de área plantada em Pernambuco e na Bahia e mais 200 hectares de parceiros, tem a Europa como seu principal cliente fora do país.

Dantas afirma que a atual safra da manga foi impulsionada pelos problemas climáticos de países concorrentes, como a Espanha, cuja temperatura reproduz os efeitos do calor extremo registrado no verão europeu.

"O clima desses países foi de calor na Espanha, o que fez com que a produtividade caísse muito. Não tem água para toda a produção de manga. Vai ter pouca manga e vai ser miúda. O calor prejudicou a safra da Espanha e vai facilitar a nossa vida", diz Dantas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.