Apesar do otimismo do governo federal com a colheita e a comercialização de frutas na próxima década, produtores fazem ressalvas e apontam desafios que precisam ser considerados para que as projeções de crescimento se concretizem.
Entre os problemas elencados, estão as dificuldades logísticas de exportação para a Ásia e o abalo no poder de compra dos brasileiros.
De acordo com um estudo divulgado recentemente pelo Ministério da Agricultura, a produção e a exportação da maior parte das frutas devem apresentar crescimento no ano safra de 2032/33 na comparação com 2022/23.
Os destaques são o melão e a manga, que darão um salto em produção de 28,7% e 22,9%, respectivamente, segundo as expectativas da pasta.
As dificuldades econômicas sentidas na pandemia com a perda do poder de compra do brasileiro impactaram o setor, na opinião de Caito Prado, diretor comercial da Itaueira, que produz melão. Ele afirma que os custos da produção agrícola dispararam, mas os preços não acompanharam o movimento.
"Eu não estou dizendo que o preço não aumentou. Mas não subiu suficientemente para manter as margens que existiam no período pré-pandemia", diz.
Hoje, a empresa possui 2.600 hectares de plantio de melão e melancia, patamar que foi recuperado depois que a Itaueira teve de cortar pela metade, por causa de uma seca no Ceará, a área plantada das frutas, em 2017 —mesmo ano em que também parou de exportar.
A produção ficou, desde então, concentrada em fazendas na Bahia e no Piauí.
O problema da falta de água já foi sanado, diz Prado, mas as exportações da empresa só devem voltar a ocorrer no ano que vem ou no mais tardar em 2025, assim que a produção nas terras cearenses for retomada.
"Atualmente, nosso problema é de energia elétrica. A nossa expectativa é que isso seja resolvido nos próximos meses. Não voltamos a exportar ainda porque as nossas fazendas na Bahia e no Piauí estão muito longe do porto", afirma Prado.
De acordo com os números divulgados pelo Ministério da Agricultura, a perspectiva é de que a produção de melão no país saia de 644 mil toneladas em 2023 para quase 830 mil daqui a dez anos, ao passo que a exportação da cultura chegue a 321 mil toneladas –27% maior do que a expectativa para este ano.
Em julho, a fruta acumulava uma inflação de quase 3% nos últimos 12 meses.
Tanto a produção quanto a exportação devem crescer para a maioria das frutas, com exceção da maçã, que deve registrar uma queda de 8,5% nas vendas ao exterior no ano safra de 2032/33 em relação a 2022/23, conforme os números do ministério.
Com o desempenho, a quantidade de maçãs enviadas para fora do país seria de 49 mil toneladas.
Há discordâncias, porém. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP, a tendência é que a exportação da maçã cresça, mesmo que pouco.
O grupo de pesquisas diz que, nesse caso, o indicador depende de fatores como a oferta nacional e a demanda dos principais destinos.
Outro indicador analisado pela projeção do Ministério da Agricultura, a área plantada deve apresentar queda para algumas plantações, como é o caso da banana e da laranja.
Thiago de Oliveira, economista da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), diz que um dos motivos é o adensamento e a evolução tecnológica das colheitas, o que permite produzir muito em uma área menor.
Segundo ele, os resultados para a produção e a exportação de frutas previstos pelo governo federal dependem de alguns fatores, como a estabilização da flutuação cambial para favorecer a procura pelos produtos brasileiros.
Para além disso, Oliveira afirma ser importante expandir os mercados externos.
"Quando a gente faz o market share de países, são cinco ou seis países que levam mais de 60% desse volume. A China, por exemplo, é um potencial. Quando a gente olha para Europa, também é nichado", diz.
Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados), afirma que a Europa é o destino de 70% das exportações brasileiras.
Segundo ele, o setor está em tratativas para tornar alguns segmentos mais atraentes para outras regiões.
No começo deste mês, por exemplo, a entidade participa da Asia Fruit Logistica, feira do setor que ocorre em Hong Kong. Coelho diz ter a intenção de incentivar a importação da uva brasileira na China.
Já Paulo Dantas, sócio e presidente da Agrodan, uma das maiores produtoras e exportadoras de manga do país, diz que a expansão do número de países que importam frutas brasileiras deve evoluir de forma muito lenta por causa das dificuldades logísticas para transportar por mar os produtos a locais longínquos.
"O volume que o Brasil vai mandar para o Japão e a Coreia do Sul, por exemplo, é muito pouco, porque esses países estão muito distantes para mandar de navio. Você pode abrir para a China, mas, se for mandar manga de avião, não vai ter mercado grande, porque o custo do frete aéreo é altíssimo."
A empresa, que possui 1.100 hectares próprios de área plantada em Pernambuco e na Bahia e mais 200 hectares de parceiros, tem a Europa como seu principal cliente fora do país.
Dantas afirma que a atual safra da manga foi impulsionada pelos problemas climáticos de países concorrentes, como a Espanha, cuja temperatura reproduz os efeitos do calor extremo registrado no verão europeu.
"O clima desses países foi de calor na Espanha, o que fez com que a produtividade caísse muito. Não tem água para toda a produção de manga. Vai ter pouca manga e vai ser miúda. O calor prejudicou a safra da Espanha e vai facilitar a nossa vida", diz Dantas.
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