Sócio da 123milhas vai à CPI e pede desculpas pelos 'transtornos' causados

Agência de viagens digital vive crise desde que anunciou suspensão de pacotes e emissão de passagens aéreas

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Brasília

Ramiro Júlio Soares Madureira, um dos sócios da 123milhas, pediu desculpas a clientes, colaboradores e parceiros pela suspensão da emissão de passagens promocionais da agência de turismo virtual.

Ele compareceu à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Pirâmides Financeiras nesta quarta-feira (6), acompanhado de advogados, após ter faltado em outras duas ocasiões. Na última semana, a Justiça autorizou a condução coercitiva dele e de seu irmão, Augusto Júlio Soares Madureira.

"Inicialmente, como CEO da 123milhas gostaria de pedir minhas sinceras desculpas aos nossos ex-colaboradores, clientes, fornecedores e parceiros pelos transtornos que nossa empresa causou", disse.

"Esclarecemos que nosso objetivo imediato se volta à composição dos prejuízos causados aos nossos clientes, o que somente será possível com apoio institucional de órgãos públicos e deste parlamento", completou.

O sócio da 123milhas, Ramiro Júlio Soares Madureira, durante depoimento à CPI das Pirâmides Financeiras, na Câmara dos Deputados - Pedro Ladeira -06.set.23/Folhapress

A agência de viagens digital vive uma crise desde que anunciou, no último dia 18, a suspensão de pacotes e emissão de passagens aéreas da linha "promo" com data variável. No fim de agosto, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial, na 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte, declarando dívidas de R$ 2,308 bilhões.

Nesta quarta, Ramiro afirmou que o produto "promo" da empresa foi baseado em estudos de variação média dos preços de passagens aéreas e em tecnologia estruturado em três premissas: popularidade das ofertas que reforçavam a marca no mercado (viabilizando uma redução sensível dos gastos com marketing), atratividade de clientes para o site da 123milhas e a busca por novos clientes, apostando na recorrência.

O empresário disse que essas três premissas faziam com que a empresa pudesse custear a diferença dos valores e que, por isso, os preços eram abaixo dos praticados pelo mercado. Segundo ele as passagens "promo" eram vendidas por preços de 20% a 35% abaixo da média do mercado.

"Acreditávamos que o custo do ‘promo’ diminuiria com o tempo, à medida que ganhávamos eficiência na tecnologia de superação e que o mercado de aviação fosse se recuperando dos efeitos da pandemia, uma tendência que projetamos à época e que se revelou precisamente o oposto", justificou.

"Ao contrário do que prevíamos, o mercado tem se comportado permanentemente como se estivesse em alta temporada e isso abalou os fundamentos não só o promo, mas como de toda a 123milhas", disse Ramiro.

Ramiro também foi questionado sobre os motivos de a empresa ter formalizado um pedido de recuperação judicial. Ele disse que a "dura decisão" de devolver o valor das passagens promocionais em voucher para os clientes lesados não foi bem aceita, o que gerou consequências para a agência virtual que não estavam previstas, como queda das vendas e corte de limite de crédito.

"Muito fortemente ocorreu queda das vendas da 123, vários bancos pediram vencimentos antecipados, tivemos corte de limite de crédito com fornecedores e tudo isso de maneira muito rápida, e toda essa série de eventos que aconteceram para conseguir ressarcir os consumidores e manter a empresa em funcionamento foi necessário [fazer] o pedido de recuperação judicial."

Ele afirmou ainda que o ressarcimento dos clientes que foram lesados será discutido no âmbito do pedido de recuperação judicial e se disse "confiante" que a empresa poderá reembolsar as pessoas. "Toda questão de ressarcimento de clientes da 123milhas será discutido junto com os órgãos públicos para chegar num acordo possível para 123milhas cumprir e dentro do nosso pedido de recuperação judicial."

"Todo o pedido de recuperação judicial envolve um plano de recuperação judicial para ressarcir os clientes. E um dos fundamentos também muito importante para ressarcir os clientes é a manutenção das operações da empresa. Todo esse plano está sendo formulado junto a órgãos, esse próprio parlamento. Estamos confiantes que vamos conseguir ressarcir todos os clientes."

Ramiro afirmou que uma das ideias em discussão sobre como reembolsar os clientes é tratar pessoas que haviam comprado passagens por motivos de saúde ou doenças como prioritárias. Ele sinalizou ainda o pagamento de indenizações e disse que isso "não será decidido unilateralmente" pela 123milhas, mas em diálogo com órgãos públicos e no âmbito da recuperação judicial.

"São ideias que ainda serão discutidas, que já estão em discussão, pessoas com passagens emergenciais em questão de saúde ou doença já estão discutindo conosco para que isso seja tratado de forma prioritária."

"Estamos construindo junto com os órgãos públicos um movimento de mediação com esses credores bastante transparente em que os valores serão corrigidos e também com uma indenização também para esses clientes", continuou.

Também prestaram depoimentos membros da 123milhas e um ex-funcionário da empresa, além de Max Oliveira, que é CEO da MaxMilhas, que foi adquirida pela 123milhas em janeiro deste ano, e Tânia Madureira, casada com Augusto Madureira, e sócia da HotMilhas (empresa que faz a intermediação das vendas de milhas e é do grupo da 123milhas).

Após mais de dez horas, a sessão da CPI ainda não havia terminado até as 21 horas desta quarta-feira. Ainda são esperados depoimentos de Cristiane Madureira (administradora da Novum Investimentos) e de Augusto Júlio Soares Madureira, irmão de Ramiro e sócio da 123milhas.

A ministra Cármen Lúcia (Supremo Tribunal Federal) negou o pedido dos sócios da 123milhas para que fossem ouvidos na CPI das Pirâmides Financeiras como investigados, e não como testemunhas, quando há a exigência de que prestem juramento se comprometendo a dizer a verdade.

Como investigados, eles também teriam o direito de decidir se compareceriam ou não à convocação na CPI.

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