Descrição de chapéu DeltaFolha

Quem são os primos credores dos donos da 123milhas? Veja lista para quem o grupo deve

Casal Alexandre e Aline Goulart estão entre os maiores credores pessoa física da plataforma de turismo

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São Paulo

A 123milhas e a HotMilhas devem R$ 105 milhões para as famílias Soares Madureira e Goulart, às quais pertencem os fundadores do negócio, os irmãos Ramiro Julio e Augusto Julio Soares Madureira, incluindo eles mesmos.

De acordo com levantamento do DeltaFolha, núcleo de dados da Folha, o maior credor pessoa física da lista é o empresário Alexandre Ferreira Goulart, primo de primeiro grau de Augusto e Ramiro, que tem R$ 10,25 milhões a receber do grupo. A companhia entrou em recuperação judicial.

Alexandre é filho de Maria Luzia Goulart, tia por parte de mãe de Augusto e Ramiro. Maria Luiza também aparece entre as credoras, mas com um valor bem menor a receber: R$ 440 mil.

Homem e mulher brancos, vestidos de preto, sorriem
O casal Alexandre Ferreira Goulart e Aline Rodrigues Santos Goulart, primos dos donos da 123milhas, que juntos têm R$ 13 milhões a receber da empresa - Reprodução Instagram

A mulher de Alexandre é a arquiteta Aline Rodrigues Santos Goulart, para quem a plataforma de turismo deve R$ 2,65 milhões.

Alexandre e Aline são donos de um negócio de perfumaria no interior mineiro, que inclui franquias do grupo O Boticário. Enquanto Aline tem um escritório de arquitetura e negócios imobiliários, Alexandre atua em negócios agropecuários e vem de uma família da indústria moveleira, dona da Lojas Goulart.

Nas redes sociais, Aline diz ter "20 anos de experiência em projetos comerciais e residenciais de alto padrão".

Proprietária do escritório AG Arquitetura e Design, que atua em Piumhi e em Escarpas do Lago, ambas em Minas Gerais, Aline foi procurada pela Folha para comentar a sua ligação e a do marido com o negócio dos primos da 123milhas. Porém, Aline encerrou a ligação assim que a reportagem se identificou.

Os Soares Madureira são de uma família tradicional de Piumhi. O sobrenome Soares está atrelado à mãe dos donos, já o Madureira vem do pai.

No lado materno, a família é dona de fazendas, distribuidoras de gasolina e lojas. A fortuna veio do avô materno, também Ramiro Julio —que hoje batiza uma rua no centro de Piumhi, cidade de 38 mil habitantes a 266 quilômetros de Belo Horizonte.

Levantamento do DeltaFolha mostra que a lista de credores do grupo —que envolve a plataforma de turismo 123milhas e o site de compra e venda de milhas Hotmilhas— soma R$ 2,304 bilhões e cerca de 700 mil nomes, entre pessoas físicas e jurídicas.

Este valor é R$ 4,8 milhões inferior ao apresentado pela empresa no seu pedido de recuperação judicial no último dia 29, de R$ 2,308 bilhões.

Procurada para explicar a diferença, a 123milhas respondeu, por meio de assessoria de imprensa, que "questionamentos sobre valores e classificações dos créditos serão debatidas ao longo da recuperação judicial, observando o procedimento da Lei de Falência e Recuperação Judicial".

De acordo com a companhia, "qualquer valor ou classificação de crédito será considerado inquestionável somente após o trânsito em julgado de decisão judicial de eventuais habilitações, divergências ou impugnações de crédito".

A empresa não respondeu questionamentos a respeito da natureza das dívidas da companhia com parentes dos fundadores.

Só a holding dos donos têm R$ 82 milhões a receber

São cerca de R$ 17 milhões em dívidas trabalhistas, R$ 20 milhões junto a micro e pequenas empresas. A imensa maioria dos credores é de quirografários —sem garantia real de recebimento, que somam cerca de R$ 2,2 bilhões.

Entram nesta classe os consumidores que se sentiram lesados pelos pacotes e viagens adquiridos e não cumpridos, fornecedores como agências e operadores de turismo, hotéis, pousadas, além de bancos, empresas de mídia e plataformas digitais, como Google e Facebook.

Está na classe de quirografários a AMRM, holding de instituições não financeiras criada por Ramiro e Augusto em dezembro de 2022, como mostrou a Folha. Na lista geral de credores, a AMRM é a que tem o segundo maior valor a receber: R$ 82,07 milhões, só atrás do Banco do Brasil (R$ 97,1 milhões).

Na opinião do consultor André Pimentel, sócio da Performa Partners, é um sinal de que o negócio enfrentava dificuldades e já vinham ocorrendo operações entre os acionistas e a companhia, com o objetivo de fornecer liquidez ao grupo.

"É uma forma de garantir que essa liquidez fique protegida: em vez de fazer uma capitalização, emprestavam dinheiro", afirma.

Numa capitalização, segundo Pimentel, o aporte para a companhia é definitivo —não há a expectativa de o dinheiro voltar para o dono. "Mas, quando você faz um empréstimo, a empresa passa a dever a você", diz.

"Se eles acreditavam piamente que o negócio precisasse de dinheiro e a solução viria, poderiam ter feito uma capitalização. Colocar dinheiro por meio de dívida foi uma alternativa menos arriscada para os donos", afirma o consultor. Segundo ele, a criação da AMRM indica possível dificuldade financeira.

Pimentel destaca que, quando existem partes relacionadas na lista de credores, ou seja, os próprios donos, essas pessoas perdem o direito de voto em uma assembleia de credores na sua respectiva classe, para impedir um voto "enviesado".

"Companhias desse porte, mesmo sem capital aberto, já deveriam estar sujeitas à obrigatoriedade de ter seus resultados auditados", diz o consultor. "É um negócio que tomou uma proporção muito grande, prejudicou muitos consumidores, mas não há transparência sobre a operação da companhia."

Há um ano, o jornal O Globo informou que a empresa estava em busca de um sócio-investidor, missão dada ao banco BTG Pactual —que, no entanto, não teve sucesso na empreitada, uma vez que as maiores interessadas, as empresas de turismo, ainda estão se recuperando do baque da pandemia.

A disposição dos irmãos Soares Madureira era vender 30% do negócio a US$ 100 milhões (R$ 490 milhões). Em 2022, a 123milhas faturou cerca de R$ 5 bilhões.

Dívidas com o fisco somam R$ 56,5 milhões

Em dívidas fiscais, a empresa soma R$ 56,5 milhões (sendo R$ 41,6 da 123milhas e R$ 14,8 milhões da HotMilhas). Do total, a maior dívida é com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), no valor de R$ 34,3 milhões.

De acordo com o advogado especialista em recuperação judicial Filipe Denki, da Lara Martins Advogados, dívida fiscal não se sujeita à recuperação judicial.

"É condição para se obter a concessão da recuperação a apresentação da certidão negativa tributária ou positiva com efeito negativo, após a aprovação do plano de recuperação judicial", afirma Denki.

Nestes casos, segundo ele, a lei prevê condições especiais para o tratamento do crédito tributário, com parcelamento, por exemplo.

Na opinião de Denki, quando a empresa decidiu suspender a venda de passagens e pacotes promocionais em 18 de agosto, já sabia que iria entrar com o pedido de recuperação judicial, 11 dias depois.

"Fatos geradores ocorridos antes do pedido de recuperação judicial são todos sujeitos à recuperação judicial", afirma.

Fundada em 2016 em Belo Horizonte pelos irmãos Ramiro Julio e Augusto Julio Soares Madureira, a 123milhas também é dona da Maxmilhas, adquirida em janeiro deste ano.

A operação cresceu rápido e, em 2021, a empresa se tornou o maior anunciante do país, com aporte de R$ 2,37 bilhões na compra de espaço publicitário. No ano passado, de acordo com o ranking Agências & Anunciantes, anuário publicado pelo jornal Meio & Mensagem, a 123milhas foi o segundo maior anunciante, com investimentos de R$ 1,28 bilhão.

Para especialistas, o erro da 123milhas foi seguir os passos do Hurb (antigo Hotel Urbano) e dar início, durante a pandemia, à venda de passagens e pacotes "flexíveis" (sem data definida e, por isso, mais baratos).

O modelo de negócios é considerado de altíssimo risco, uma vez que não é possível prever os preços das passagens. A disparada no preço dos bilhetes teria sido um dos pilares da crise financeira da companhia, segundo a própria 123milhas.

Veja aqui a lista dos 50 maiores credores

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