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Bolsa sobe impulsionada por alta do petróleo com conflito entre Israel e Hamas

Tensão no Oriente Médio causa escalada da commodity, beneficiando empresas brasileiras do setor

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São Paulo

O conflito entre Hamas e Israel deixou investidores em alerta nesta manhã. O petróleo começou o dia em forte alta, os principais índices acionários abriram em queda e o dólar, destino de segurança para investidores em cautela, apresentava valorização ante outras moedas fortes. No início da tarde, no entanto, o humor virou, e os mercados globais garantiram um dia positivo.

No Brasil, a Bolsa seguiu o mesmo caminho, impulsionada principalmente pelas empresas de petróleo —que, por sua vez, se beneficiaram da disparada da matéria-prima com o conflito no Oriente Médio.

Já o dólar, que rondava a estabilidade ante o real pela manhã, passou a cair. Moedas de países exportadores de commodities tendem a se fortalecer em dias de valorização dos produtos no exterior.

Além disso, discursos de autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) alinhados a um afrouxamento monetário foram bem recebidos por investidores, contribuindo para a virada de humor ao longo do dia.

Nesta segunda, os Estados Unidos comemoram o feriado de Columbus Day, e o mercado de títulos americanos, os chamados "treasuries", não funcionou, o que também deu alívio a investidores. Os títulos do Tesouro dos EUA tiveram forte alta nas últimas semanas e vinham impulsionando o dólar e derrubando ativos de risco em pregões recentes.

Nesse cenário, o Ibovespa subiu 0,86%, aos 115.156 pontos, enquanto o dólar caiu 0,58%, a R$ 5,131. Já o barril do petróleo Brent, principal referência do produto, subiu 4,20%, ou US$ 3,57, cotado a US$ 88,15.

Notas de dólar em Washington - Gary Cameron - 14.nove.2014/Reuters

No sábado (7), terroristas do Hamas mataram pelo menos 600 israelenses e feriram mais de 2.000 em um ataque surpresa lançado por por terra, água e mar no sábado (7). Também levaram mais de cem reféns israelenses para a Faixa de Gaza.

Israel revidou com ataques aéreos e matou 413 palestinos, incluindo 20 crianças, além de deixar 2.300 feridos, de acordo com o Ministério da Saúde palestino.

"A escalada das tensões provocou uma onda de pânico nos mercados financeiros na abertura desta segunda-feira", observou a analista sênior do Swissquote Bank, Ipek Ozkardeskaya, chamando a atenção particularmente para a disparada dos preços do petróleo.

Ozkardeskaya acrescentou em nota enviada a clientes mais cedo que, entre outros fatores, os episódios envolvendo o Hamas e Israel alteram a retórica recente do mercado uma desaceleração potencial na demanda global pelo petróleo para uma oferta global restrita.

Reconhecendo a incerteza elevada, analistas do Goldman Sachs, porém, ressaltaram que não houve até o momento qualquer impacto na produção global de petróleo, e que eles veem como improvável qualquer grande efeito no equilíbrio entre oferta e demanda e nos estoques da commodity no curto prazo.

Passado o susto do início do dia, o cenário externo melhorou, e as Bolsas globais fecharam no positivo.

"Não há clareza sobre o real efeito do conflito Hamas-Israel sobre a economia mundial, então os investidores focaram o que tem impacto imediato, superando o movimento inicial de aversão ao risco que provocou as perdas iniciais nas Bolsas. Enquanto não se trabalha com uma ampliação do conflito, o impacto sobre os preços se limitou sobre o que se tem maior certeza, com destaque para o petróleo", afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Além disso, falas do vice-presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Philip Jefferson, também aumentaram o otimismo no mercado. O diretor afirmou que a autoridade monetária deve "proceder com cautela" em suas próximas decisões de juros, destacando a disparada recente nas taxas americanas.

Ele afirmou, ainda, que as autoridades "estão num período delicado de gestão de risco", precisando equilibrar riscos de não apertar o suficiente e de ser restritiva demais. O discurso de Jefferson foi bem recebido pelo mercado, que teme uma nova alta de juros nos EUA e interpretou as falas do diretor como mais suaves e contrárias a um possível aperto monetário mais rígido.

Seus comentários alinharam-se com os da presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, que também nesta segunda observou que condições financeiras mais restritivas atuais poderiam fazer com que o banco central americano promova um aperto monetário menor.

Desde que autoridades do Fed sinalizaram, em sua última reunião, que uma nova alta de juros neste ano era possível, os rendimentos dos títulos do Tesouro americanos vêm numa escalada de alta, rondando seus maiores patamares desde 2007 e derrubando ativos de risco pelo mundo.

No cenário local, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que vai tentar mitigar repasses da volatilidade do petróleo ao mercado interno.

"É mais um evento de volatilidade [sobre os preços]", disse, em entrevista durante evento organizado pelo Consulado Geral da Noruega no Rio de Janeiro. "Vamos acompanhar, tentando mitigar a volatilidade para manter os preços estáveis."

Além disso, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que o cenário internacional está mais desafiador, citando novos impactos provocados pelo conflito no Oriente Médio, mas que a piora no ambiente externo é compensada por um cenário doméstico mais favorável. Por isso, Galípolo defende que a manutenção do ritmo de cortes da Selic (taxa básica de juros) é possível.

"Mesmo com um cenário internacional mais desafiador, a gente entende que o passo de corte de 0,5 ponto na taxa de juros brasileira permite simultaneamente ajustar o nível de contração política monetária se encontra [...] e ir observando esses fenômenos domésticos e internacionais para a gente ter tempo de depurar e entender o que está acontecendo na economia", afirmou.

Investidores repercutiram, ainda, a divulgação do boletim Focus, do BC, nesta segunda, que mostrou piora dos analistas sobre o câmbio no Brasil. Agora, economistas consultados pela autoridade monetária veem o dólar em R$ 5 no fim do ano, ante R$ 4,95 na semana anterior.

Nesta segunda, no entanto, o dólar caiu ante o real e apresentou estabilidade em comparação a outros pares fortes. Além do apoio das sinalizações de membros do Fed, o desempenho da moeda brasileira também foi beneficiado pela alta das commodities, que superou o movimento global de aversão ao risco no início da sessão.

Já na Bolsa brasileira, o cenário virou para um desempenho positivo, acompanhando o movimento dos índices internacionais.

O principal impulso veio da Petrobras, que foi o papel mais negociado da sessão e subiu 4,35%. As três maiores altas, no entanto, foram de PetroRio, PetroReconcavo e 3R Petroleum, com avanços de 8,77%, 8,70% e 5,90%, respectivamente.

Já as curvas de juros futuros do país tiveram queda significativa sem a pressão dos títulos americanos, que causaram fortes altas recentemente. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 caíram de 10,95% para 10,85%, enquanto os para 2027 saíram de 11,08% para 10,90%, apoiando as negociações locais.

Nos EUA, o S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq subiram 0,63%, 0,59% e 0,39%, respectivamente.

Com Reuters

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