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Vídeo de hidrelétrica transbordando não tem relação com desligamento de bombas do São Francisco

Publicação desinforma ao mostrar montagem com duas gravações com contextos diferentes

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São Paulo

É enganoso vídeo que associa suposta ação do governo Lula (PT) em bloquear as águas do rio São Francisco com seca no Nordeste. A publicação no TikTok mostra uma montagem com duas gravações feitas em contextos diferentes e estabelece uma relação enganosa entre a falta de água e protestos no Nordeste. No primeiro vídeo, a abundância de água na hidrelétrica não foi causada pelo fechamento das bombas, mas sim pela cheia em função das chuvas de janeiro de 2023. Ao contrário, em outubro deste ano, foi registrada a escassez de água em decorrência de seca e estiagem em alguns estados da região. Além disso, não houve qualquer fechamento de bombas na usina e o protesto mostrado na segunda gravação não tem relação com as imagens iniciais.

Na primeira parte do vídeo verificado pelo Comprova, imagens aéreas do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, localizado no norte da Bahia, são utilizadas para afirmar que o governo Lula teria trancado as águas do São Francisco. Tais imagens retratam a hidrelétrica em um período de cheia, formando cachoeiras, algo que não tem relação com a transposição ou bloqueio das águas.

Por meio de nota, a Eletrobras Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), responsável pela usina hidrelétrica, confirmou que as imagens mostram o Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso. No início deste ano, o aumento da vazão do rio São Francisco fez reaparecer as cachoeiras, que possuem desnível de 80m de queda d’água. Por conta desse espetáculo natural, a região atraiu turistas, que realizaram visitas guiadas autorizadas pela própria Chesf. As quedas d’água de Paulo Afonso voltaram a ficar visíveis em 2022, após mais de dez anos de período de seca.

Captura de tela mostra represa cheia
Captura de tela do post enganoso - Reprodução/TikTok

Já o segundo vídeo mostra, na verdade, um protesto realizado no dia 4 de outubro, no km 82 da BR-116, próximo ao Trevo do Ibó, em Belém do São Francisco, no estado de Pernambuco. Na ocasião, agricultores dos projetos de irrigação Pedra Branca (BA), Fulgêncio (PE) e Brígida (PE) denunciaram a falta de água e energia nas localidades. Os projetos são atendidos pelo Sistema Itaparica, programa federal implementado na década de 1990 pela Chesf, para compensar as populações que tiveram que ser realocadas após a construção da usina hidrelétrica de Luiz Gonzaga, situada em Petrolândia (PE).

O corte de energia e água nos locais não têm relação com um suposto fechamento de bombas feito pelo governo federal. A responsabilidade do abastecimento, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia, é da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), uma empresa pública vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MDR). Até 2014, a companhia administrava o Sistema Itaparica em parceria com a Chesf. Após o fim do convênio, foi a Codevasf que assumiu a manutenção dos projetos de irrigação.

No entanto, uma resolução de 21 de setembro deste ano da Codevasf determinou que a administração do projeto voltasse para a Chesf. À reportagem, ambas as empresas enviaram notas atribuindo uma à outra a responsabilidade pela manutenção e operação dos projetos do Sistema Itaparica. O "toma lá, dá cá" já foi noticiado por outros veículos, como a Folha de Pernambuco.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

À reportagem, o autor da postagem no TikTok afirmou que não foi ele quem gravou as imagens. Segundo o usuário, as imagens foram encontradas em blogs locais, que falam sobre o desabastecimento de água no Nordeste, algo que ele afirma não ser noticiado pela imprensa tradicional.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

Leia a verificação completa no site do Comprova.

A investigação desse conteúdo foi feita por Alma Preta e Correio do Estado e publicada em 18 de outubro pelo Comprova, coalizão que reúne 41 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, O Povo, A Gazeta e Estadão.

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