Não se pode fazer desoneração da folha sem contrapartida aos trabalhadores, diz Lula

Presidente afirma que a desoneração precisa vir acompanhada da garantia de emprego ao trabalhador

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São Paulo | Reuters

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (29) que não se pode fazer desoneração da folha de pagamento sem dar nenhuma contrapartida aos trabalhadores, ao comentar sobre seu veto na semana passada à prorrogação até 2027 da desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia.

Ao falar com repórteres em Riad, na Arábia Saudita, Lula ainda afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve apresentar alternativas à desoneração e que a lei aprovada pelo Congresso não garante que haverá geração de empregos.

Lula discursa em seminário da Embraer, em hotel de Riad, na Arábia Saudita
Lula discursa em seminário da Embraer, em hotel de Riad, na Arábia Saudita - Ricardo Stuckert / PR

"Ao reduzir desoneração da empresa para melhorar a renda da empresa, é importante você garantir emprego para os trabalhadores, e a lei não diz absolutamente nada", disse Lula.

"Eu acho que a gente não pode apenas fazer desoneração sem dar a contrapartida aos trabalhadores. Os trabalhadores precisam ganhar alguma coisa nessa história", acrescentou o chefe do Executivo.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já afirmou que pretende pautar a análise do veto no plenário da Casa antes do fim do ano. O senador disse que a medida tem um efeito "muito positivo" na criação de empregos, e vários parlamentares já disseram que irão trabalhar para derrubar o veto de Lula.

Haddad, no entanto, tem afirmado que apresentará uma alternativa à desoneração ao retornar da viagem que faz com Lula para a cúpula sobre o clima COP28, e pediu aos parlamentares que aguardem essa proposta do governo antes de analisarem o veto, justificando que a iniciativa será "muito mais razoável do que o que foi vetado".

De acordo com o ministro, o benefício não gerou impacto positivo para a economia. Ele também argumenta que um dispositivo da reforma da Previdência, aprovada durante a gestão de Jair Bolsonaro, não permite a renovação de benefícios fiscais, tornando a prorrogação inconstitucional.

Na semana passada, Lula vetou na íntegra, como antecipou a coluna Painel S.A., a prorrogação da desoneração, em uma vitória do ministro da Fazenda. A proposta aprovada pelo Congresso permite que os setores desonerados paguem alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% de contribuição sobre a folha de salários para a Previdência.

A desoneração custa R$ 9,4 bilhões ao ano. Deputados e senadores estenderam o benefício para prefeituras, reduzindo a contribuição previdenciária de municípios.

Congressistas prometem derrubar o veto, e empresários dizem temer pelo aumento do desemprego. Economistas elogiam a decisão do presidente em razão do impacto do benefício fiscal para as contas públicas.

Nesta terça-feira (28), as maiores frentes parlamentares do Congresso assinaram nesta terça-feira (28) um manifesto em defesa da derrubada do veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à desoneração da folha de pagamentos para 17 setores.

O texto é assinado por 11 frentes. Entre elas estão a do Empreendedorismo, a do Livre Mercado, a da Agropecuária e a de Comércio e Serviços. O documento será enviado aos presidentes da Câmara, Arhtur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

No texto das frentes parlamentares desta terça, os signatários falam em "profunda preocupação" com o veto e dizem que, embora o governo tenha sinalizado que irá enviar medida para substituir a desoneração da folha, "a derrubada do veto é o caminho mais acertado para dar segurança e garantir os empregos que serão impactados".

Veja os 17 setores afetados

  • calçados

  • call center

  • comunicação

  • confecção e vestuário

  • construção civil

  • couro

  • empresas de construção e obras de infraestrutura

  • fabricação de veículos e carrocerias

  • máquinas e equipamentos

  • projeto de circuitos integrados

  • proteína animal

  • têxtil

  • tecnologia da informação

  • tecnologia de comunicação

  • transporte metroferroviário de passageiros

  • transporte rodoviário coletivo

  • transporte rodoviário de cargas

"Compreendemos a necessidade de equilíbrio fiscal, embora discordemos que a desoneração seja uma simples perda de arrecadação para a União. É preciso considerar que a manutenção de empregos e o estímulo à atividade econômica também geram receitas, por meio do consumo e do recolhimento de outros impostos", diz o texto.

O senador Efraim Filho (União Brasil-PB) afirmou que o manifesto mostra que há "unidade e coesão" na sociedade para defender a desoneração e que "o governo está isolado".

Ele disse ainda que as frentes consideram "frágeis e inconsistentes" os argumentos dados pela Fazenda para vetar a matéria integralmente. "O maior desafio que temos é pautar a matéria. Se ela for pautada, votos nós temos [para derrubar o veto]", disse o senador.

Para o senador, o ideal seria votar os vetos na semana do dia 15, para que a discussão não contamine o debate sobre o orçamento.

Fernando Cardoso

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