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Comento o caso do advogado que quer diminuir o ritmo e ter renda de R$ 10 mil em 6 anos

Caminho do planejamento da aposentadoria depende do perfil e do valor que se está disposto a investir

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Michael Viriato Araujo

É professor e assessor da Casa do Investidor e autor do blog De Grão em Grão, na Folha. Foi professor de finanças do Insper, da USP e da FGV nos últimos 15 anos. Possui as certificações financeiras CFA e CFP

A meta é diminuir consideravelmente meu trabalho por volta dos 50 anos e ter uma renda mensal de R$ 10 mil. Também, gostaria de deixar de herança de cerca de um terço de meu patrimônio

Mateus, 44

advogado

Em cada profissão, há uma idade média em que se atinge o auge da carreira. Muitas vezes esse auge é uma decisão particular de desacelerar o ritmo. Esse é o caso de Mateus, advogado de 44 anos, que pretende reduzir o ritmo de trabalho em seis anos. Entretanto, para isso, precisa contar com uma renda dos investimentos.

Em qualquer jornada, temos três momentos ou situações: o ponto de partida, o de chegada e o caminho a ser percorrido entre estes dois pontos.

No caso de Mateus, conhecemos seu patrimônio atual e, por meio de seu objetivo, é possível calcular quanto ele precisa ter em seis anos.

Juiz consulta processo judicial e olha folhas de papel
Advogado quer saber como se planejar para ter R$ 10 mil mensal em seis anos sem trabalhar tanto - Rubens Cavallari/Folhapress

Atualmente, Mateus tem um patrimônio de R$ 1,15 milhão. Este valor é dividido 50% em três imóveis, 25% na caderneta de poupança e 25% em aplicações referenciadas, prioritariamente, ao CDI.

Assumindo que Mateus deseja ter uma renda líquida de R$ 10 mil por 45 anos depois que completar 50 anos de idade, ele vai precisar daqui a seis anos ter um patrimônio de R$ 2,52 milhões, a valores de hoje. Desconsiderei seu desejo de deixar uma herança. Mais tarde você vai entender a razão de retirar esta vontade.

Para o cálculo acima, considerei que seu portfólio precisaria render pelo menos IPCA+5,5% ao ano bruto de IR, durante o período de benefício. Esse retorno, líquido de IR, resultaria em cerca de IPCA+4% ao ano.

Calcule o que falta para sua independência financeira

Agora, sabemos o ponto de partida de Mateus, que é de R$ 1,15 milhão, e o ponto de chegada em seis anos, que é de R$ 2,52 milhões a valores de hoje.

O que ele deve fazer para alcançar a meta?

Então nos resta apenas traçar a rota pelos próximos seis anos.

Assim como em qualquer jornada, o percurso depende do perfil do viajante e do quanto ele está disposto a pagar pela viagem.

O perfil define quanto de retorno ele pode alcançar. Já o preço da viagem representa as contribuições mensais que Mateus pode fazer.

Mateus falou em seu email que sua capacidade de poupança é de R$ 2.000 mensais, mas que deve receber um valor extra de R$ 100 mil nos próximos meses. Vamos simplificar e já considerar esse valor extra em seu patrimônio atual que subiria para R$ 1,25 milhão.

Assumindo estas premissas, o patrimônio atual só alcançaria o valor objetivo em seis anos se ele obtivesse um retorno de pelo menos IPCA+9,8% ao ano, neste período.

É muito improvável que consiga, consistentemente, este retorno em apenas seis anos. Seria necessário correr muito risco e, mesmo assim, o resultado poderia não ser favorável. Além disso, esse risco parece ser contrário ao perfil de Mateus

Considerando seus investimentos atuais, seria razoável assumir que ele é conservador. Portanto, correr risco não é adequado nem pelo perfil, nem pelo prazo para se alcançar o objetivo.

Portanto, Mateus tem duas alternativas: fazer um maior sacrifício de poupança pelos próximos seis anos ou sacrificar sua renda desejada na aposentadoria.

Perceba que o desejo de deixar herança deve ser abandonado, pois Mateus já não consegue cumprir sua meta de aposentadoria sem um sacrifício extra.

Assumindo que ele não deseje sacrificar sua renda na aposentadoria e considerando um ganho nos investimentos de IPCA+5,5% ao ano, ele precisaria poupar mensalmente R$ 9.400 pelos próximos seis anos. Este sacrifício de poupança parece improvável.

Assim, vamos considerar que Mateus prefira sacrificar sua renda futura. Assumindo, que ele poupe os mesmos R$ 2.000 e ganhe IPCA+5,5% ao ano pelos próximos seis anos, podemos calcular qual renda ele pode esperar ao se aposentar.

Mateus deveria ajustar sua renda desejada para R$ 7.500 mensais.

Com relação ao portfólio, sugiro vender os imóveis e se desfazer dos investimentos atuais.

Com o perfil conservador, todo o portfólio deveria ser investido em títulos de renda fixa que garantam uma rentabilidade mínima de IPCA+5,5% ao ano. Isso pode ser realizado por meio de títulos públicos ou CDBs.

No caso de CDBs o retorno será ainda maior e isso pode contribuir para uma maior renda futura.

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